Projeto de lei que pode proibir bitcoin no Brasil assustou – mas não deve estragar o ano novo da Smiles

Caso o texto passe como foi proposto, o risco seria grande para os números da companhia - mas esse não é o cenário base dos analistas

Lara Rizério

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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SÃO PAULO – Um risco que não estava no radar dos mercados pegou em cheio a  Smiles (SMLS3) na sessão de terça-feira. Aparentemente não correlacionado ao setor de programas de fidelidade, o projeto de lei que pode  proibir e criminalizar o Bitcoin e outras moedas digitais no Brasil também afetou a ação SMLS3, uma das melhores ações da bolsa em 2017, com alta de 76% no período. Na terça, as ações fecharam em queda de 3,83%, a R$ 73,10.

Isso porque, na sessão da última terça, ocorreu a discussão sobre o Projeto de lei 2.303/2017, do deputado Aureo (SD-RJ), que dispõe da inclusão, além das moedas virtuais, de programas de milhagens aéreas na definição de arranjos de pagamentos sob a supervisão do Banco Central.

O projeto não é novo – as discussões ocorrem desde 2015 em algumas comissões na Câmara dos Deputados. Contudo, o mercado voltou a olhar atentamente para ele na semana passada, quando o relator Expedito Netto (PSD-RO) publicou seus comentários preliminares sobre o texto que poderia trazer (se finalmente aprovado) alguns aspectos negativos tanto para as moedas digitais (veja aqui) quanto para as empresas do setor, conforme destacado ontem pelo InfoMoney (confira aqui).

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Os analistas do BTG Pactual destacaram os seguintes pontos negativos para os programas de milhagens: o aumento do prazo de validade dos pontos para cinco anos e uma exigência de “cash back” – dinheiro de volta ao invés de milhagens – para os pontos acumulados.

Caso o texto passe como foi proposto, o risco seria grande para os números da companhia, conforme aponta um gestor ouvido pelo InfoMoney, dado que não faria mais sentido resgatar as passagens levando em consideração a atual relação entre preço e milhas. Assim, o potencial de lucros para a Smiles poderia cair em 60% no pior cenário, representando um baque importante para a companhia.

De qualquer forma, segundo aponta esse mesmo gestor, as discussões estão em fases iniciais e pouco fundamentadas e, da forma como está, o texto atual não deve passar.

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Soma-se a isso o fato de que o deputado Thiago Peixoto (PSD – GO) propôs um novo texto ao projeto de lei de forma a excluir totalmente as empresas de fidelidade de seu conteúdo, mantendo o foco exclusivamente em criptomoedas. Assim, caso o texto de Peixoto prevaleça sobre a versão proposta pelo relator Expedito Netto (ou seja, se o voto do relator atual for derrotado em Comissão), seria neutro para as empresas de fidelidade listadas.

Em relatório a clientes do Itaú BBA, os analistas apontam que, no entanto, não se sabe neste momento detalhes sobre como e quando os congressistas diretamente envolvidos na discussão escolherão entre as diferentes propostas. “Além disso, este evento apenas reforça a nossa visão de que o projeto de lei pode sofrer novas mudanças à medida que segue seu caminho no congresso”, afirmam. De qualquer forma, o novo texto certamente aliviaria a percepção de aumento do risco regulatório que afeta a Smiles e também a Multiplus (MPLU3).

Vale mencionar ainda que o presidente da Comissão, deputado Alexandre Valle (PR-RJ), sinalizou que não deve pautar a votação do relatório esse ano, uma vez que ainda faltam muitas audiências a serem pautadas e discussões sobre o assunto.

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A tensão com a Smiles em meio a essa nova incerteza deve prosseguir por mais algum tempo, mas a avaliação geral é de que a queda de ontem por esse motivo foi exagerada, ainda mais levando em conta a baixa probabilidade de que o texto passe como está. Enquanto isso, o tom para 2018 é positivo, conforme aponta o Bank of America Merrill Lynch em relatório do início do mês, logo após o encontro de investidores anual da companhia. Vale destacar ainda que a ação da Smiles está na Carteira InfoMoney do mês de dezembro (clique aqui e veja o portfólio completo).

Os motivos para a visão positiva com a companhia são os seguintes, aponta o BofA: a empresa lançou recentemente novos produtos para aumentar a participação de mercado, bem como uma política de acúmulo de pontos mais agressiva com os bancos. Ela ainda reiterou seu perfil inovador ao afirmar que pretende lançar um novo produto/iniciativa a cada 3 meses. Neste sentido, a Smiles apresentou a sua nova parceria com a Uber, que deverá ser efetiva ainda em 2018. Por fim, a internacionalização não é descartada, embora a administração não tenha dado mais detalhes sobre quando isso ocorrerá.

Assim, o temor do mercado sobre o projeto de lei que está em tramitação até pode se justificar, mas há bons motivos para acreditar que 2018 será um ano positivo para a Smiles.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.