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“Em meu último artigo, vimos que o sujeito que, lá no início de 2017, buscou a lista das 10 ações que mais se valorizaram em 2016 e então se posicionou nestes mesmos papéis, de forma equiponderada, fechou aquele ano com retornos excelentes, consideravelmente acima do Ibovespa. Relembrando: a ideia da investigação era validar (ou não) esta estratégia simplíssima — quem sabe simplória — de apostar as fichas exatamente nos mesmos papéis que foram os grandes ganhadores no período imediatamente anterior.
Por que ir em busca desta resposta? Porque, de uma forma geral, investidores iniciantes e/ou leigos têm uma forte tendência a pensar que ela pode dar certo. Mas por quê? Simples! Porque, para eles, é muito tentador olhar o gráfico de uma ação com excelente desempenho — ou saber que seu amigo ganhou mais de 100% no ano passado neste papel — e não querer também participar da festa.
Neste texto, eu analisarei qual teria sido o resultado desta estratégia ao longo do ano de 2018. Partiu?!
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Estamos no primeiro dia útil de 2018 e aquele mesmo investidor que ganhou 38,9% em 2017, quer escolher quais jogadores escalar para jogar o campeonato ao longo de 2018. Ele então novamente lê uma reportagem sobre as ações que mais se valorizaram no ano anterior (2017) e fica bastante tentado com os números que vê. A lista é a seguinte:
Ações do Ibovespa que mais valorizaram em 2017
Empresa | Ação | Variação em 2017 |
Usiminas | USIM5 | 121,9% |
Estácio | ESTC3 | 111,3% |
Localiza | RENT3 | 105,7% |
Bradespar | BRAP4 | 104,8% |
Smiles | SMLS3 | 82,7% |
Lojas Renner | LREN3 | 70,8% |
TIM | TIMP3 | 69,4% |
Qualicorp | QUAL3 | 69,2% |
Vale | VALE3 | 63,7% |
WEG | WEGE3 | 58,5% |
Ele altera sua carteira, de forma a se posicionar apenas nestas empresas do top 10 do ano que recém acabou. O ano passa, estamos agora em 31/12/2018. Ele analisa sua carteira e vê que suas ações performaram da seguinte forma:
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Ações do Ibovespa que mais valorizaram em 2017, e suas variações em 2018
Empresa | Ação | Variação em 2017 | Variação em 2018 |
Usiminas | USIM5 | 121,9% | 1,8% |
Estácio | ESTC3 | 111,3% | -22,5% |
Localiza | RENT3 | 105,7% | 36% |
Bradespar | BRAP4 | 104,8% | 14,4% |
Smiles | SMLS3 | 82,7% | -39,3% |
Lojas Renner | LREN3 | 70,8% | 20,9% |
TIM | TIMP3 | 69,4% | -8,2% |
Qualicorp | QUAL3 | 69,2% | 56,9% |
Vale | VALE3 | 63,7% | 31,1% |
WEG | WEGE3 | 58,5% | -3,9% |
Daí chegamos à mesma indagação do meu último texto, visto que, apesar de os números da segunda coluna serem consideravelmente menores que os da primeira, não sabemos como os demais ativos do índice — não presentes nesta lista — se comportaram em 2018. Logo, a tabela acima não nos possibilita concluir nada, a não ser o fato de que, em termos absolutos, os rendimentos em 2018 de todos os papéis foram significativamente inferiores aos seus próprios rendimentos em 2017.
Vamos assim em busca das ações que mais renderam em 2018. Chegamos então novamente à reportagem que, algumas semanas atrás, despertou em mim as ideias que estou compartilhando neste e nos dois últimos textos. Colocando as duas listas de forma contígua, para facilitar a compreensão, temos o seguinte (atenção: todas as valorizações das duas próximas tabelas são referentes ao ano de 2018):
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10 ações do Ibovespa que mais valorizaram em 2018 + 10 ações do Ibovespa que mais valorizaram em 2017
Top 10 em 2018
Empresa | Ação | Variação em 2018 |
Magazine Luiza | MGLU3 | 126,3% |
Cemig | CMIG4 | 116,8% |
B2W | BTOW3 | 105% |
Suzano | SUZB3 | 104,7% |
Gol | GOLL4 | 71,9% |
Fibria | FIBR3 | 52,6% |
Banco do Brasil | BBAS3 | 52,4% |
Petrobras | PETR3 | 51,7% |
Santander | SANB11 | 37,9% |
Natura | NATU3 | 37,4% |
Top 10 em 2017
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Empresa | Ação | Variação em 2018 |
Usiminas | USIM5 | 1,8% |
Estácio | ESTC3 | -22,5% |
Localiza | RENT3 | 36% |
Bradespar | BRAP4 | 14,4% |
Smiles | SMLS3 | -39,3% |
Lojas Renner | LREN3 | 20,9% |
TIM | TIMP3 | -8,2% |
Qualicorp | QUAL3 | -56,9% |
Vale | VALE3 | 31,1% |
WEG | WEGE3 | -3,9% |
Os resultados não parecem muito bonitos. Assim, quando comparamos a carteira do nosso investidor com os ativos do índice que mais se valorizaram no ano, ela deixa deveras a desejar. Por exemplo, nenhum dos 10 ativos que mais renderam em 2017 estavam na lista de 2018 — quem leu o artigo anterior talvez se lembre que em 2017 havia sido diferente: tínhamos 3 ações presentes tanto na lista de 2016 como na de 2017.
Mas e quando comparamos esta carteira à média das ações, ou seja, ao rendimento do próprio Ibovespa naquele ano? Também não é muito alentador… Ao calcular quanto a carteira equiponderada dos ativos top 10 de 2017 variou em 2018, encontrei um retorno de -2,66%. Já o Ibov em 2018 rendeu 15,03%.
Pergunto-me como se sentiria este investidor? Porque lá no início de 2018, ao montar sua carteira, ele tinha em mente aquela primeira tabela lá de cima: uma lista de empresas cujo menor retorno no ano recém finalizado havia sido de 58,5% (Weg). Na outra ponta, ele via 4 empresas que tinham rendido mais de 100% no ano! Quão grande não era sua expectativa ao escalar para a sua carteira um dream team composto pelos maiores craques do campeonato do ano anterior? Não é difícil fazer um breve exercício empático para compreender bem o que quero dizer. Nosso investidor se vê na noite de réveillon de 2019 pensando em sua carteira de ações dream team, que vale menos (em Reais) do que valia no final do ano anterior…
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Estamos ainda no início do ano. Bora apostar as fichas exatamente nos cavalos mais bem colocados em 2018? Como vimos, no primeiro ano o indivíduo que tivesse colocado o método em prática teria tido bons resultados absolutos (em nenhum momento investigamos retornos ajustados ao risco, que é um tema bem mais complexo). Já no segundo ano…
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De turfe eu não entendo nada; pode até ser que, de um ano para o outro, seja uma boa ideia apostar nos campeões no ano anterior. Já se estivermos falando em ações, a verdade é que, muito embora a avaliação que fiz da estratégia em 2017 e 2018 não nos permita tirar qualquer conclusão, bem como anos como 2017 (outliers) possam trazer certa esperança de que ela possa de fato funcionar*, no longo prazo ela não funciona. Simples assim.
Não tenho neste momento um estudo em mãos que possa comprovar estatisticamente tal afirmação, mas para quem trabalha no mercado financeiro, esta conclusão é bastante straightforward. Do contrário, convenhamos, seria muito fácil bater o mercado*.
Cabe observar, entretanto, que não estou de forma alguma fazendo inferências sobre o potencial futuro deste ou daquele papel que compõe a lista. É possível, claro, que algumas empresas que tiveram grande valorização em 2018 continuem baratas neste início de 2019, com fundamentos positivos e vantagens competitivas ante seus pares, o que poderia ensejar uma manutenção ou abertura de posição. Mas este papo é outro.”
Observação:
1. Conforme comentei nos artigos anteriores, em nenhum dos números de rentabilidade citados acima (à exceção do Ibovespa), eu considerei os eventuais dividendos pagos pelas empresas que compõe as listas. É verdade, contudo, que o Ibovespa é um índice total return, o que significa que em seu cálculo são de fato levados em conta os dividendos pagos pelas empresas que o compõe.
Nota: *Por “funcionar” ou “bater o mercado”, eu me refiro a rendimentos de uma carteira que fossem, na maioria dos anos, maiores do que o Ibovespa. Algo bastante simplificado, porque não estou entrando no mérito — muito importante — do ajuste ao risco.