Publicidade
O Brasil poderia desempenhar um papel de defensor da ordem internacional baseada em regras, tanto no ponto econômico, no campo dos valores liberais e nas ideias de livre-comércio, mas para isso, teria que ao mesmo tempo advogar por pautas relacionadas a democracia, direitos humanos, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, avalia Guilherme Casarões, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) nas áreas de Administração Pública, Ciência Política e Relações Internacionais.
Para ele, isso exigiria uma mudança profunda na postura do governo quanto aos princípios que foram se assentando no mundo nos últimos anos. “Se o governo continuar focando em construir uma política externa muito voltada aos públicos internos que apoiam o presidente Jair Bolsonaro, tendo os Estados Unidos como seu principal norte ideológico e geopolítico, ao mesmo tempo em que nega em certo sentido o que a ONU conquistou nos últimos 70 anos, isso acabará tirando o País desse protagonismo diante da defesa dessa ordem internacional”, critica.
Ele conversou nesta quinta-feira (11) com o canal UM BRASIL, em parceria com o InfoMoney. Falando a Jaime Spitzcovsky e Marcos Mortari, ele discutiu os primeiros meses da gestão da política externa do presidente Jair Bolsonaro, os impactos futuros do acordo comercial recente entre a União Europeia e o Mercosul, bem como da agenda de política ambiental.
Continua depois da publicidade
Para ele, ruptura é a palavra que caracteriza os primeiros meses do governo quanto à política externa. “Desde a campanha, ele e seus correligionários mais próximos vêm propondo uma quebra com aquilo que eles chamam de legado petista de política externa. Quando o ministro Ernesto Araújo vira o chanceler, começamos a perceber que a vontade de quebra não se resume apenas ao petismo, mas na verdade com uma tradição diplomática brasileira, que está sendo jogada para escanteio e que será substituída pouco a pouco por uma nova ideia de um novo Brasil, essencialmente pautada em uma agenda conservadora”.
Na conversa, ele faz uma avaliação da agenda externa que o governo quer apresentar ao mundo a partir do realinhamento das parcerias estratégicas do Brasil. Para Casarões, as novas alianças estão sendo pensadas no sentido ideológico. “Estamos nos aproximando de nações como Estados Unidos, Israel, Itália, Hungria e Polônia. Esses países tem uma característica em comum: são comandados por líderes populistas, cada um à sua maneira, mas são tipos de lideranças que buscam fundir uma dimensão profundamente nacionalista com uma dimensão do sentimento religioso”, diz.
Ele também avalia que será um erro o Brasil se aproximar muito dos Estados Unidos e, consequentemente, antagonizar a China, o que geraria resultados negativos gigantescos para o setor do agronegócio e para os setores de importação de produtos chineses. “Nós estamos vendo ruídos com relação a isso nesses primeiros seis meses”.