Respeito à ciência

A longa experiência internacional, que criou protocolos e mereceu prêmios Nobel, aponta claramente o caminho a ser adotado no Brasil

Walter Maciel

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

(Getty Images)
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Depois da eleição mais disputada e agressiva de nossa história, o presidente Lula foi eleito por uma margem bastante estreita. Foi decisivo para sua vitória o apoio de setores que historicamente não são alinhados ao PT e que, em diversas ocasiões, apoiaram seus adversários em outros ciclos eleitorais.

É natural, portanto, o anseio de todos que apoiaram a candidatura de Lula para que o governo implemente uma política plural, que procure pacificar a sociedade brasileira, trazer convergência e reduzir a polarização que nos divide e dificulta o debate político.

Esperamos que o governo possa combater a enorme desigualdade que nos assola, trazendo crescimento econômico, prosperidade e dignidade para a população brasileira.

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Não é segredo que, apesar dos esforços para combater a pandemia, zelar pelas contas públicas e fazer o Brasil voltar a crescer nos últimos anos, faltaram investimentos cruciais para a educação e saúde. Essas mazelas precisam ser erradicadas e devemos voltar a ter uma política social inclusiva e progressiva.

O governo anterior foi, corretamente, alvo de críticas contundentes durante a pandemia por negacionismo e desrespeito à ciência, como na resistência ao uso de máscaras, ao distanciamento social, não se empenhar preventivamente para potencializar ao máximo a vacinação e pela promoção de tratamentos não comprovados contra a Covid-19.

No entanto, discursos recentes do presidente também vêm dando sinais alarmantes de investir contra a ciência, com efeitos potencialmente nefastos para a população. No caso, a Ciência Econômica nos fornece farta base de dados que comprova que perseguir inflação controlada promove maior crescimento econômico, menor nível de desemprego e maior renda para todos, especialmente para as camadas de mais baixa renda de nossa sociedade.

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Todas as nações que se tornaram potências econômicas possuem um traço em comum: políticas de Estado. São aquelas agendas que independem do governo de ocasião e que são perseguidas por todos, independentemente de sua inclinação ideológica. Arcabouço macroeconômico, política externa, política industrial, solidez institucional e harmonia entre os poderes são valores seculares que visam o bem comum.

Infelizmente, no Brasil, temos o costume de ver, com a saudável alternância de poderes, o risco indesejável de descontinuar a agenda anterior e até a reversão do que é percebido pela grande maioria como avanços sociais e institucionais.

Talvez, a grande exceção tenha sido o programa de renda básica iniciado por FHC e que permaneceu nos últimos 30 anos com grande sucesso, apesar da tentativa de apropriação política, inclusive com alternância do nome do programa.

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É nesse contexto que se dá o recente embate com o Banco Central. O BC reagiu, em seu mais recente comunicado, ao grande aumento de gastos em função da aprovação da PEC do Estouro e ao risco de descontrole fiscal. O BC também manifestou que aguarda a materialização dos esforços do ministro da Fazenda e da ministra do Planejamento para encontrar receitas novas ou reduzir outras despesas para que possamos retornar a uma trajetória sustentável que permita à autoridade monetária começar a discutir o início do ciclo de queda dos juros.

Como argumentei em minha coluna de estreia, o governo tem um cenário internacional ainda favorável, com a expectativa de estímulos à economia chinesa mantendo os preços de commodities em níveis sustentados. EUA e Europa ainda têm um longo trabalho para reduzir a inflação, e nossos pares emergentes, com exceção do México, estão em situação difícil ou mesmo “ininvestíveis”, como o Leste Europeu e a Rússia.

Enquanto isso, nosso Banco Central saiu na frente, elevou os juros antes de todos os outros bancos centrais, inclusive em um ano eleitoral (e, digno de nota, sem pressões do governo vigente). O resultado foi o Brasil crescer mais e ter inflação menor que EUA e Europa em 2021, uma combinação sem precedentes.

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Um desfecho extremamente favorável, que baixará a inflação, antecipará o início da queda dos juros, permitirá maior crescimento, trará investimentos locais e estrangeiros com efeitos diretos em aumento do nível de emprego, renda real e redução da pobreza, ainda é possível e depende exclusivamente das ações do governo federal.

Desnecessário lembrar que, nesse caso, a popularidade presidencial se elevaria substancialmente, dando mais espaço para que o presidente implante sua agenda com sucesso.

Para que isso aconteça, é necessário enfrentar a grande preocupação do Banco Central, dos empresários, agentes econômicos e investidores: voltar a colocar a nossa dívida em trajetória sustentável, de preferência sinalizando uma queda da dívida/PIB até o final de 2026.

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O receio da dívida sair de controle foi responsável pela desvalorização do Real, pela curva futura de juros até 2031 acima de 13%, pela queda generalizada do valor das empresas brasileiras, afugentando investimentos e impedindo o BC de ser mais otimista com a convergência da inflação à meta.

Claro que outros sinais de involução institucional também atrapalham, como querer rever a independência do BC, flexibilizar a lei de estatais, rever a reforma trabalhista, reestatizar a Eletrobrás e outras propostas pouco razoáveis.

Felizmente, as recentes reeleições no Congresso mostram que quaisquer dessas propostas, se vierem a plenário, não passarão ou sofrerão alterações significativas durante o seu trâmite.

Por último, aponto para o risco das políticas parafiscais que reduzem a efetividade da política monetária e podem, também, sabotar a queda dos juros.

O período 2011-2016 foi riquíssimo em lições do que não se deve fazer e do custo imposto à toda a sociedade brasileira, em especial à população mais pobre. Que sirva de alerta.

Quando o presidente teve problemas de saúde, que são de conhecimento público, ele não recorreu a curandeiros e nem a profissionais de saúde pouco renomados ou com protocolos heterodoxos de tratamento. Ele se tratou no hospital Sírio-Libanês, um dos mais bem sucedidos e respeitados centros de saúde do Brasil e do mundo, e foi atendido por uma equipe chefiada por um profissional de grande sucesso do setor privado, o doutor Roberto Kalil Filho. O resultado foi excepcional e o presidente está com saúde e viajando país afora.

Presidente, todos os brasileiros de boa-fé querem o bem do Brasil e torcem para o sucesso de seu governo. O mercado vai adorar um ambiente de dólar fraco, chuva de investimentos, Bolsa bombando e juros baixos. Na verdade, rezamos todos os dias para que isso aconteça.

Ao cuidar da saúde da economia brasileira, use o mesmo critério que utilizou para tratar de sua saúde. A longa experiência internacional, que criou protocolos e mereceu prêmios Nobel, aponta claramente o caminho a ser adotado. Eu lhe garanto, o resultado é certo. Todos ganharão e o senhor será um dos maiores beneficiados.

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Walter Maciel

CEO da AZ Quest desde 2011