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A fatia de brasileiros que engrossou a lista de inadimplentes pela falta de pagamento de despesas com comida no primeiro semestre foi a maior em cinco anos. A disparada da inflação e a queda na renda explicam a entrada de devedores para lista do calote pelo não pagamento da fatura de um item básico.
Entre janeiro e junho, 18% dos inadimplentes deixaram de quitar despesas com alimentação e, por isso, foram parar na relação dos CPFs (Cadastro de Pessoa Física) com restrição — a marca mais elevada desde o primeiro semestre de 2017, quando a Boa Vista começou a coletar essas informações.
Contas diversas não pagas, que incluem as de educação, saúde e lazer, além de impostos e taxas, ainda são apontadas como as despesas que ainda têm levado a maior parte dos consumidores à inadimplência (23%).
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Mas, desde o segundo semestre de 2021, a parcela dos que não conseguiram honrar o pagamento de alimentos chama atenção. “Instituições financeiras nos relatam que o pessoal está pegando dinheiro [crédito] para pagar contas do mercado, do dia a dia”, diz o economista da Boa Vista, Flávio Calife.
Segundo a empresa de inteligência financeira e análise de crédito, para o levantamento foram consultados eletronicamente 1.500 inadimplentes para fim de traçar o perfil desses consumidores.
A inflação do grupo alimentação e bebidas acumula alta de 14,72% no acumulado em 12 meses, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice oficial de inflação do país — valor superior ao da variação do indicador como um todo no mesmo período (que foi de 10,07%).
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Os principais motivos alegados para a inadimplência no primeiro semestre foram o desemprego (apontado por 28% dos entrevistados) e a diminuição da renda (24%), que ficou 3 pontos percentuais acima do levantamento no semestre anterior. “É, sem dúvida, um fato de um ano para cá”, diz Calife.
Endividamento crônico
A percepção dos entrevistados é de que o quadro do endividamento pessoal piorou muito. Do segundo semestre de 2021 para o primeiro deste ano, a parcela de consumidores que se considera muito endividada subiu de 32% para 37% — a maior marca desde 2019, quando esse resultado atingiu 39%.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou para 13,75% a taxa de juros básica da economia, a Selic. Foi a 12ª alta consecutiva na tentativa de segurar a inflação, e o comitê sinalizou que poderá continuar subindo a Selic na próxima reunião, marcada para setembro.
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Com juros e inflação ainda em alta e atividade fraca, a perspectiva, segundo o economista da Boa Vista, é de que a inadimplência continue crescendo nos próximos meses, até o ano que vem. “Juros altos contribuem para piora da inadimplência”. Dados da Boa Vista, mostram que o calote encerrou o primeiro semestre deste ano com alta de 12,3%. No acumulado em 12 meses, o avanço foi de 7,5%.
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