Cruzeiros retomam viagens no Brasil de olho na Covid e no número recorde de passageiros; veja regras

Com 45 navios previstos, atual temporada deve atrair 780 mil viajantes até maio de 2023

Giovanna Sutto

A Covid-19 deixou os mares menos agitados por duas temporadas turísticas seguidas. A doença que parou o mundo, porém, vem perdendo força e novos ventos sopram em favor dos Cruzeiros, com milhares de passageiros disputando assentos em navios por rotas nacionais e internacionais.

O setor espera que a edição 2022/2023 seja a maior dos últimos dez anos no litoral brasileiro — recheado de águas multicoloridas (algumas com cara de Caribe), belas cidades portuárias e uma gastronomia para todos os paladares. E ainda tem o verão batendo à porta (a estação mais quente do ano começa em 21 de dezembro).

A projeção otimista quer esquecer o “naufrágio” pelo qual o setor enfrentou nos últimos dois anos. Suspensa, a temporada 2020/2021 registrou prejuízo estimado de R$ 2,62 bilhões, além dos quase 40 mil postos de trabalho que deixaram de ser gerados, segundo a Clia Brasil, entidade que monitora o segmento. A edição 2021/2022, que foi paralisada parcialmente pelos índices elevados de Covid entre passageiros e tripulantes, gerou impacto econômico 33,2% menor do que no período 2019/2020 (anterior à pandemia).

Como a pandemia ainda não acabou, os cuidados seguem valendo para a navegação das embarcações seguir sem interrupções desta vez. Para embarcar, é preciso apresentar comprovante de vacina contra a Covid-19 com pelo menos duas doses. Os navios também aceitam o ingresso de passageiros que apresentam resultado de teste negativo para doença (rápido, realizado em farmácias; ou o PCR, com diagnóstico mais preciso) em até 24 horas antes da viagem. Quem se aventura pelas águas brasileiras nesses “hotéis flutuantes” também precisa ter em mãos um seguro-viagem com cobertura para a Covid-19.

As exigências aumentam se o passeio for mais longo: com mais de 5 noites, é exigida a apresentação do comprovante de vacinação, além do exame negativo para Covid-19 realizado 24 horas antes do embarque. Foi essa burocracia sanitária, e muito necessária, que a reportagem do InfoMoney* enfrentou para embarcar no MSC Seashore, maior navio que já navegou por águas brasileiras até então.

A viagem durou duas noites e partiu do Rio de Janeiro (RJ), no dia 9 de dezembro, com destino à cidade de Santos (SP). A depender da lotação, quem seguir viagem pelo MSC Seashore poderá compartilhar os serviços e a contemplação do mar entre até 5.800 passageiros e 1.600 tripulantes.

Mar agitado (de gente)

“Essa deve ser a maior temporada dos últimos 10 anos”, estima Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil. A expectativa é que o setor registre 780 mil passageiros nesta edição, alta de 47% em relação à temporada 2019/2020 (realizada ainda na fase pré-pandemia). A perspectiva é que todo esse contingente circule por 45 navios em 45 destinos de 15 estados, como Amazonas, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.

O impacto econômico também promete ser significativo: a expectativa é criar 48 mil empregos no país (diretos e indiretos), além de movimentar R$ 3,8 bilhões.

“Isso é motivado pelos gastos das armadoras [empresas que operam os navios], dos cruzeiristas e tripulantes nas cidades portuárias de embarque e desembarque. O comércio varejista é beneficiado devido aos gastos com compras e presentes, alimentos e bebidas, transporte, passeios turísticos, transporte nas cidades visitadas e hospedagem antes ou após a viagem de cruzeiro”, afirma Ferraz.

Adrian Ursilli, diretor da MSC Cruzeiros no Brasil, também carrega expectativa positiva para esta temporada: a empresa terá um aumento de 68% no número de cabines, cerca de 200 mil serão ofertadas em 132 viagens para os sete cruzeiros da empresa que estarão circulando na América do Sul.

Cinco navios partirão de portos no Brasil, saindo de Santos, Rio de Janeiro, Salvador, Maceió e Itajaí (Santa Catarina). O sexto navio, chamado MSC Música, partirá da Argentina rumo ao litoral brasileiro regularmente; e o último navio, MSC Magnífica, fará apenas escalas no país durante sua rota de volta ao mundo.

Além do Seashore, os viajantes podem embarcar no Brasil no MSC Preziosa, Seaview, Fantasia e Armonia.

Em relação aos preços, há opções para diferentes bolsos: nas cabines mais simples e internas, é possível encontrar bilhetes a partir de R$ 3.600 por pessoa; nas mais luxuosas, os valores passam dos R$ 20 mil por pessoa, a depender do destino e do período da viagem. “E já começamos a pensar na temporada 2023 e 2024: vamos aumentar em mais 7% a oferta de cabines”, conta Ursilli.

Em média, a ocupação dos navios nesta temporada já se aproxima dos 80%, segundo dados da Clia compartilhados por Ferraz. A MSC não divulgou a ocupação do Seashore na viagem acompanhada pela reportagem.

(Divulgação/MSC)

Protocolos de Covid-19

Após a suspensão da temporada anterior, o setor adotou uma série de protocolos para a gestão da Covid-19 a bordo.

Os navios precisam reservar 2% das cabines para isolamento de passageiros que testarem positivo para a doença, com equipe de saúde e fornecimento de alimentação no quarto, conforme explica Ferraz, da Clia Brasil.

Essas cabines geralmente possuem varandas para que o viajante tenha um pouco mais de mobilidade e aparelhos de ar-condicionado com pressão negativa (o ar contaminado é sugado para dentro da máquina, que o filtra antes de movê-lo para fora dela).

“Se o passageiro apresentar sintomas, o teste dentro do cruzeiro é gratuito. Ele também pode descer em alguma das paradas do navio e tem chance de reembolso da viagem a depender do pacote de seguro saúde contratado”, afirma Ferraz. As regras constam na resolução 574, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de 2021, que foi atualizada em setembro deste ano para contemplar a atual temporada.

No Seashore, um sistema de circulação de ar chamado “safe air” utiliza lâmpadas UV-C, que possuem uma radiação que elimina vírus e bactérias. Assim, o sistema consegue prover um ar limpo para convidados e tripulantes a bordo reduzindo a disseminação de doenças, como a Covid-19.

Já o uso de máscara dentro dos navios não é mais obrigatório, como voltou a ser exigido em aviões. Segundo Ferraz, o Ministério da Saúde definiu, para os Cruzeiros, um protocolo sanitário específico. ” [Esse protocolo] segue níveis de classificação”, diz.

O primeiro nível é quando não há passageiros ou tripulantes “positivos” a bordo; o segundo quando até 2% das pessoas testam positivo; o terceiro é entre 2% e 10% de casos confirmados com Covid-19; e o quarto e último é o nível de quarentena, quando há mais de 10% de pessoas com a doença.

“No último nível é necessário aviso sonoro, medidas de contingência em larga escala dentro do navio, como o isolamento mais amplo, e até o desembarque dos passageiros, se necessário”, explica Ferraz.

Com o mar mais agitado pelos Cruzeiros, a dica é seguir os protocolos sanitários oficiais, pesquisar os pacotes de viagem que cabem no orçamento e aproveitar a atual temporada, que ainda vai navegar pelo calendário até 17 de maio de 2023.

*Jornalista viajou a convite da MSC Cruzeiros no Brasil.

(Divulgação/ MSC)

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.