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(SÃO PAULO) – Julio Hernández é um engenheiro de telecomunicações, mas como quase todo mundo em Cuba que quer acessar a internet, ele precisa se agachar em uma esquina suja com o laptop, inalando os gases de escape dos carros e aguentando o calor sufocante.
Esse privilégio custa US$ 2 por hora, um valor caro em um país onde o salário médio pago pelo Estado é de US$ 20 por mês.
A internet é fundamental hoje em dia, para os negócios, as finanças, as comunicações e a informação, mas os tempos atuais ainda não chegaram a Cuba, que continua sendo um dos piores lugares do mundo para acessar a internet. O acesso está restrito a uns poucos lugares de trabalho e a menos de 4 por cento das casas, contando as residências de autoridades, executivos estrangeiros e profissionais da mídia, médicos e artistas. A internet não é compatível com a velha rede de telefonia celular 2G do país, de 1991.
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O governo do presidente Raúl Castro admite o problema, mas enfrenta um dilema: como ampliar o acesso à internet para dar um impulso à economia e satisfazer a população e, ao mesmo tempo, controlar a informação. As autoridades cubanas dizem que pelo menos 50 por cento da população terá um serviço residencial de internet e 60 por cento terá telefones celulares até 2020, sem explicar como isso vai acontecer.
Adiar o inevitável
“É absurdo o quanto eles adiaram o inevitável”, disse Carlos Alzugaray, ex-embaixador cubano na União Europeia e professor da Universidade de Havana. “Enquanto isso, nós estamos ficando para trás – estamos na idade da pedra”.
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A internet foi utilizada por 30 por cento da população de Cuba em 2014, de acordo com a União Internacional de Telecomunicações, na comparação com 57 por cento na Venezuela, sua aliada, e 87 por cento nos EUA.
Importantes ministérios do governo, joint ventures, universidades e hospitais têm acesso à internet, mas usá-la é uma lenta viagem ao passado do modem discado. Nem pensar em assistir a um vídeo por streaming ou fazer o download ou upload de arquivos grandes.
Essa situação está começando a mudar lentamente. Cybercafés administrados pelo governo abriram há dois anos e cobram US$ 4,50 por hora. No mês passado, a Etecsa, monopólio estatal de telecomunicações, criou 35 pontos de acesso Wi-Fi na ilha, onde a população pode navegar pela web, como Hernández.
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Graças às novas regulamentações emitidas pelo presidente dos EUA, Barack Obama, como parte de sua campanha para normalizar as relações, as empresas americanas – de gigantes da tecnologia da informação, como Google Inc., às provedoras de telefonia, como AT&T Inc. e Verizon Communications Inc. — poderiam ajudar a tirar Cuba da idade da pedra. Mas não se sabe se o governo Castro quer receber essa ajuda e correr o risco de ceder certo controle e influência às empresas dos EUA.
Serviço mais rápido
A Etecsa está testando o serviço de telefonia móvel 3G e 4G que é compatível com a internet, mas ainda não houve nenhuma indicação sobre quem teria acesso a ele.
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Durante os últimos meses, empresas americanas fizeram visitas discretas ao país para avaliar o mercado e ponderar as oportunidades, embora nenhuma delas tenha feito um acordo com o governo por enquanto.
Uma equipe da Google foi a Cuba em junho e sugeriu que poderia fornecer antenas para levar conexões de alta velocidade a 70 por cento das casas dentro de três anos, a um custo baixo ou inexistente para Cuba, de acordo com o jornalista Fernando Ravsberg, autor do blog “Cartas de Cuba”.
Suspeitas do governo
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A ideia foi recebida com hesitação pelo governo cubano, que suspeita que a Google possa ter vínculos com o Departamento de Estado dos EUA e teme que o governo americano possa utilizar a tecnologia para espionar Cuba ou arquitetar uma mudança de regime, de acordo com autoridades cubanas que pediram anonimato. A porta-voz da Google, Niki Christoff, não quis comentar.
Cuba poderia recorrer à China para encontrar uma solução.
Um documento que vazou no mês passado aparenta ser o plano da Etecsa para construir uma rede residencial de banda larga junto com as empresas chinesas de telecomunicações ZTE Corp. e Huawei Technologies Co., em vez de companhias americanas.
“Abrir ou não abrir a internet é uma discussão boba, porque os censores de Cuba já perderam o controle sobre as informações que a população tem”, disse Ravsberg.
Por Indira A.R. Lakshmanan
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