Black Friday pode ser gatilho para compradores compulsivos: como detectar problema e buscar ajuda?

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 5% da população mundial sofre de oniomania, ou compulsão por compras

Equipe InfoMoney

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O período da Black Friday dá a largada para a temporada de compras de fim de ano. Os apelos ao consumo crescem cada dia mais e podem se tornar um gatilho para disparar a compulsão por compras. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 5% da população mundial sofre de oniomania, compulsão por compras, também conhecido como Transtorno do Comprar Compulsivo (TCC). Entre 80% e 94% dos compradores compulsivos são mulheres, cujo transtorno costuma surgir por volta dos 18 anos, mostrou pesquisa publicada na Revista Brasileira de Psiquiatria.

Segundo o psiquiatra Adiel Rios, o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, em 2020, contribuiu para o aumento no número de casos desse transtorno. Com as portas fechadas, muitas lojas migraram para o e-commerce. Os aplicativos de lojas, tanto nacionais como internacionais, se tornaram grandes armadilhas para essas pessoas, oferecendo cupons de descontos, cashbacks, entre outros atrativos. “Quem tem esse transtorno, acabou se descontrolando”, diz o médico, que atua no Programa de Transtorno Bipolar do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo Rios, mesmo depois da abertura do comércio físico, o comprador compulsivo continua utilizando as ferramentas online, porque funciona em qualquer hora e em qualquer lugar. “A única forma de interromper este ciclo vicioso é o distanciamento destes aplicativos. Enquanto eles estiverem disponíveis fica difícil, principalmente se a pessoa estiver ansiosa, precisando preencher um vazio ou suprir alguma carência”, afirma o médico.

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A jornalista Flavia Vargas sabe bem disso. Com um armário cheio de roupas ainda sem usar, ela percebeu que estava comprando por compulsão. “Descobri os aplicativos de vendas durante a pandemia e não parei mais. Dava uma sensação de prazer, compensando a ansiedade”, conta.

Mesmo após a reabertura do comércio, ela continuou comprando pelos aplicativos, “pelo hábito de dar uma olhadinha”. Ela não chegou a se endividar, mas os gastos prejudicaram muito seu orçamento, que antes era controlado. Quando percebeu que havia algo por trás disso, Flávia procurou ajuda e, hoje, mantém acompanhamento com psiquiatra e psicólogo. “Fui diagnosticada com depressão e transtorno bipolar, que levaram à ansiedade e ao comportamento impulsivo. Estou me tratando com antidepressivo e lítio, que ajudam a conter as compulsões, além de acompanhamento psicológico.”

Com o tratamento, ela segue as orientações dos especialistas no dia a dia, como evitar acessar aplicativos de compras. Nas poucas vezes que entrou, conseguiu pensar com racionalidade: “será que eu realmente preciso disso?”.

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Identifique os sintomas:

Saiba como tratar

Há inúmeras abordagens terapêuticas capazes de auxiliar quem sofre deste transtorno. Os tratamentos incluem o uso de remédios, como ansiolíticos e antidepressivos, até psicoterapias e consultoria com planejador financeiro. Tudo para ajudar a pessoa a atribuir um novo significado à relação gratificação-recompensa, mostrando que há outros caminhos para lidar com as dores e formas muito mais saudáveis de obter bem-estar e prazer na vida, segundo o psiquiatra.

Há ainda grupos de apoio, como o Devedores Anônimos, onde outros compulsivos compartilham suas experiências.

Transtornos associados

Famílias de compradores compulsivos mostram maior tendência a desenvolver outros transtornos como do humor, dependência química e transtornos alimentares. “Há uma relação bem próxima entre a oniomania com o transtorno obsessivo compulsivo e o transtorno bipolar. A soma destas patologias com as distorções sobre o ato de consumir motiva o comprador compulsivo a desenvolver uma suposta segurança por meio das compras”, afirma o especialista.

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Além disso, ao ficar longos períodos sem consumir, a pessoa que tem compulsão por compras também pode sofrer de abstinência com sintomas similares aos da dependência do uso de substâncias químicas: irritabilidade extrema, perda de autoestima, sintomas de humor deprimido, ansiedade e oscilações de humor. Por isso, o tratamento medicamentoso é importante, bem como o acompanhamento psicológico.

Controle dos gastos

A saída prática para o consumidor, com ou sem compulsão por compras, é simples: um orçamento bem estruturado. Essa é a base de tudo, de acordo com a educadora financeira Lorelay Lopes. “Quando você tem, na ponta do lápis, todas as suas contas, inclusive os pequenos gastos, você passa a ter clareza do quanto pode gastar. O problema não está em comprar aquele sapato que vai combinar apenas com um vestido. Nem naquele descascador de abacaxi que vai fazer o serviço de qualquer faca disponível na cozinha. O problema está em gastar sem ter orçamento livre para pagar.”

Segundo ela, um orçamento bem-feito elimina o sentimento de culpa, porque a pessoa tem certeza de que as compras foram feitas de forma consciente. “Se o orçamento permite, tudo bem gastar. Claro que o orçamento também tem que incluir investimentos a longo prazo, afinal ninguém vive somente do presente. Não pensar no futuro também vai tirar aquela sensação de tranquilidade ao deitar a cabeça no travesseiro pela noite”.

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Veja dicas práticas:

*Com Agência Brasil

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