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A Libertadores e a Copa Sul-Americana atraíram, neste ano, mais a atenção do torcedor brasileiro do que a Copa do Mundo de Futebol, cuja estreia será no dia 20 deste mês, no Catar.
Quem diz isso é o Viajala, plataforma online de buscas de voos. A procura por passagens aéreas, a partir do Brasil, até a final da Libertadores em Guayaquil, no Equador, cresceu 462% em relação a 2021 e mais de 4.000% na comparação com 2019.
Em 29 de outubro, o Flamengo saiu campeão da maior competição das Américas vencendo o Athletico Paranaense por 1 a 0.
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A final da Sul-Americana, realizada em Córdoba, na Argentina, também apresentou um aumento expressivo de buscas por voos: 339% em relação a 2021 e 770% na comparação com 2019. O Independiente del Valle venceu o São Paulo, por 2 a 0, em 1º de outubro.
Já o interesse por voos até o Catar segue inexpressivo. Viagens aéreas saindo do Rio de Janeiro, por exemplo, contam com uma ligeira alta de menos de 1% na comparação com 2019, segundo o Viajala.
A plataforma não compilou a média de voos, a partir do Brasil até o país árabe, porque o volume de buscas para o Catar é irrelevante em números absolutos, mesmo com a Copa, na comparação com os destinos no Equador e na Argentina.
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Os dados integram o Barômetro Viajala, que utilizou um algoritmo próprio para analisar milhões de buscas realizadas por usuários no Brasil, entre janeiro e setembro de 2022, e as comparou com os mesmos meses de 2021 e do último ano pré-pandemia, 2019.
Importante mencionar que as buscas não garantem que os viajantes que pesquisaram compraram passagens ou ingressos para os jogos. “No entanto, demonstra que houve, no mínimo, uma curiosidade em saber quanto a viagem custaria em Guayaquil e Córdoba, algo que não tem acontecido em relação ao Catar”, explica Rodrigo Melo, diretor de vendas do Viajala.
A Copa do Mundo está menos popular?
Na verdade, não. Uma junção de fatores fez com que Guayaquil e Córdoba fossem mais buscadas pelos turistas do que o Catar. Segundo Melo, estes foram os dois destinos internacionais que tiveram a maior variação de crescimento nas buscas de voos em 2022. “Antes deste ano, as viagens para esses locais apresentavam uma tendência de alta, mas foram alçadas a destinos mais populares diante dos eventos esportivos”, afirma.
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E alguns fatores explicam esse comportamento. No caso da Libertadores, a final deste ano, repetindo a de 2021, foi totalmente brasileira: Flamengo, que levou a taça, contra Athlético Paranaense.
Além disso, a final desse campeonato era em jogos duplos, de ida e de volta, e os torcedores podiam assistir ao menos uma das partidas em suas cidades, sem viajar. Com a mudança de regra, os torcedores têm apenas uma chance de ver o time do coração e podem aproveitar para conhecer um novo lugar.
Na Sul-Americana, a final deste ano foi disputada em uma só partida. Houve grande procura porque um dos times, o São Paulo, tenta ganhar uma competição internacional desde 2012, fato este que pode ter impulsionado os torcedores a buscarem opções para ver o time de perto. O confronto foi contra o equatoriano Independiente del Valle, que acabou levando a melhor e sagrando-se campeão.
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“A adoção de um jogo único em algum país do continente, seguindo o modelo europeu, fomenta o turismo na América Latina, desperta a curiosidade com outros países e faz o jogo ser uma oportunidade de viagem em grupo, com a família ou entre amigos”, complementa Melo.
E os preços?
O preço é um fator que estimula mais buscas por destinos latinos do que o Catar porque são mais baratos aos brasileiros.
O estudo do Viajala mostra que o preço médio dos voos internacionais subiu 59% entre janeiro e setembro deste ano em relação a 2021. Já as passagens para Córdoba apresentaram um aumento de preço de 42%, mais baixo que a média, considerando saídas de todo o Brasil. Em comparação com 2019, os valores subiram 171% para a cidade argentina.
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No caso de Guayaquil, os preços subiram acima da média também entre janeiro e setembro de 2022: 117% na comparação com 2021. Ainda assim, em reais, é muito mais barato do que ir para o Catar. Considerando o mesmo período em 2019, os preços subiram 163% para viagens até a cidade equatoriana neste ano.
Vale dizer que os valores das passagens variam, a depender do ponto de origem para cada destino.
Mas e o Catar?
“O Catar é um destino caro, distante, com um idioma complicado e com costumes intolerantes, o que parece deixar o viajante um pouco inseguro”, avalia Melo.
O país também não tem relação histórica com o futebol ou Copas do Mundo, o que reduz ainda mais a sua popularidade.
“Se fosse uma Copa em um país mais conectado ao futebol ou mais próximo, dentro da América Latina, por exemplo, em um momento de boom de retomada das viagens depois de anos de pandemia como o de agora, veríamos uma disparada nas buscas nestes últimos meses”, diz o executivo. Mas isso não acontece com o Catar.
Além disso, conhecer o Catar ficou bem mais caro. Segundo dados do Viajala, em 2019, o preço médio de ida e volta encontrado entre janeiro e outubro para viajar para Doha, saindo de São Paulo, foi de R$4.754.
Já em 2022, no mesmo período, houve um aumento de quase 120%: para R$10.447, em média. Os voos de ida e volta a Doha saindo do Rio de janeiro aumentaram 83%, em média: de R$5.990 para R$10.962.
A plataforma não revelou os dados de preços de 2021 porque o destino foi muito pouco buscado durante a pandemia por gerar pouco interesse no público brasileiro, além das restrições sanitárias da época.
Uma reportagem recente do InfoMoney mostrou que se o viajante somar os ingressos de jogos da fase de grupos e acomodação, será preciso desembolsar mais de R$ 60 mil.
No momento em que o endividamento atinge recorde e alcança quase 80% das famílias, a inflação segue elevada e a inadimplência beira os 31%, a ida ao Catar acaba não sendo uma prioridade.
Para o executivo do Viajala, além da inflação, do desconhecimento sobre o país e do alto preço das passagens, o timing também afeta a demanda por esta Copa.
“Ela é realizada em novembro, fora do período de férias escolares de julho, época em que o torneio sempre aconteceu. Isso dificulta a organização de viagens familiares”, avalia Rodrigo Melo.
“É mais plausível pensar em uma viagem curta, barata, para conferir uma final de jogo na Argentina ou no Equador, em um voo direto a poucas horas daqui, do que pegar 15 horas de um voo caro até Doha”, conclui.
Outro fator são as polêmicas envolvendo toda a preparação do Catar para o Mundial. O país vem sendo acusado de violar direitos humanos, sobretudo, dos operários que ergueram as arenas dos jogos sob condições insalubres que beiraram as condições análogas à escravidão.
Segundo uma investigação do jornal britânico “The Guardian”, mais de 6 mil trabalhadores imigrantes morreram na construção dos estádios devido às péssimas condições de trabalho. Apesar das suspeitas, a Fifa não reconsiderou mudar a sede do evento.
A Copa do Catar também foi apelidada de “aberração ecológica”, incluindo a inclusão de equipamentos de ar-condicionado dentro do estádio para inibiro calor da região, que pode chegar a 50 graus. Os aparelhos queimam mais combustíveis e emitem mais dióxido de carbono, impulsionando o aquecimento global.
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