Quanto custa viajar para o Japão nas Olimpíadas de 2020?

É fundamental entender que, embora o Japão seja um dos países mais caros da Ásia, é possível se preparar e curtir a Olimpíada gastando o mínimo

Allan Gavioli

(Reprodução/Youtube)
(Reprodução/Youtube)

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SÃO PAULO – Com os Jogos Olímpicos de 2020 cada vez mais perto, é essencial para o viajante que deseja acompanhar de perto o mais importante evento esportivo do mundo se preparar para os detalhes e as nuances dos bastidores do Japão.

A edição de 2020 dos jogos acontecerá entre 24 de julho e 9 de agosto, na capital Tóquio e em outras 11 cidades do Japão. Em seguida, de 25 de agosto a 6 de setembro, o país vai sediar as Paraolimpíadas.

Especialmente para ajudar os brasileiros que sonham em atravessar o planeta para prestigiar o mais antigo evento, o InfoMoney conversou com especialistas dos setores de turismo e câmbio para separar algumas dicas e informações essenciais para tornar a sua viagem ao Japão mais tranquila.

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Preços demandam organização e antecedência

Embora o Japão seja um dos países mais caros da Ásia, é possível planejar gastos e pagar menos ao realizar as comprar principais com antecedência.

A distância do país, o custo interno e as dimensões do evento exigem atenção redobrada com o planejamento, já que todos custos dentro do turismo devem sofrer altas significativas.

“Visitar o Japão requer planejamento: além das barreiras linguística e geográfica, devido à distância e à inexistência de voos diretos saindo do Brasil, há também a necessidade de organização financeira, já que se trata de um dos países mais caros da Ásia”, explica Eduardo Martins, diretor nacional do ViajaLá, um buscador online de preços de voos e hotéis.

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O InfoMoney realizou um levantamento e compilou preços de passagem aérea, hospedagem, alimentação, transporte interno e visto para que o turista possa ter uma média de gastos e ver se a viagem cabe no orçamento.

Os gastos compilados são referentes a uma viagem que sai de São Paulo no dia 24 de julho e retorna no dia 7 de agosto, completando duas semanas no Japão. Já os preços de hospedagem e alimentação se referem aos valores da cidade de Tóquio.

O levantamento leva em consideração três diferentes perfis de viajante: o econômico, o moderado e o luxoso. Cada tipo de gasto foi detalhado separadamente após as tabelas. Confira:

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Passagens salgadas

Para Martins, do Viajalá, é imprescindível que o viajante compre e reserve as passagens o quanto antes, com atenção quanto à escala do voo, já que isso pode afetar diretamente o valor do bilhete e aumentar o tempo da viagem.

“Por não ter voos diretos, a escala acaba impactando diretamente a duração e o preço da rota. A distância é muito grande e, com a alta demanda frente aos jogos Olímpicos e um enorme fluxo de turistas, os preços devem se tornar ainda mais caros”, explicou.

Em épocas de baixa temporada, é possível encontrar passagens de ida e volta por R$ 3 mil. Porém, para o meio desse ano, os preços já subiram consideravelmente. Para voar entre o fim de julho e as primeiras semanas de agosto, os bilhetes estão custando entre R$ 5 e R$ 9 mil, segundo dados da plataforma Viajalá.

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“As melhores opções com preços razoáveis não estão mais disponíveis e os preços tendem a aumentar a cada dia, conforme as acomodações vão se esgotando e o evento se aproximando”, alerta Martins.

Gastos e burocracias com o visto

Para que o viajante consiga entrar em território japonês sem preocupações, é necessário um visto de curta permanência no país – o visto especial para turismo. O documento é válido por três meses a partir da data de emissão.

A taxa referente ao visto de curta permanência, que dá direito a uma entrada no país, é de R$ 97, mais uma taxa de serviço de R$ 118. O pagamento das taxas de emissão do visto deve ser feito no momento da retirada, em dinheiro, junto ao guichê do Setor de Visto.

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Para solicitar o visto, o candidato deve se dirigir ao consulado japonês de sua cidade ou a embaixada do Japão, preencher um formulário de solicitação de entrada no Japão e apresentar os itens a seguir: documento de identidade com foto, comprovante de renda, cronograma de viagem, passaporte com validade de menos de três meses, comprovante de reserva de passagem e fotos 4×5 e 3×4.

Ainda de acordo com informações do consulado, todos os documentos apresentados estão sujeitos a análise e, se julgado necessário, outros podem ser solicitados.

Hospedagem, alimentação e transporte

“No finzinho de julho, no primeiro fim de semana das Olimpíadas, a disponibilidade das acomodações bem avaliadas é cinco vezes menor, com diárias que podem custar de até US$ 1 mil, dependendo da demanda”, explica o especialista.

Vale dizer que, embora faltem seis meses para o evento, grande parte dos hotéis das principais cidades japoneses que receberão os jogos, como Tóquio e Fukushima, já estão esgotados.

Porém, caso o viajante não faça questão de se hospedar em áreas centrais das cidades sede, é possível encontrar hotéis de com preços mais em conta. Segundo o site Quanto Custa Viajar, uma plataforma que compila gastos de viagem, ainda há algumas vagas em hotéis mais econômicos, onde a diária fica entre US$ 85 e US$ 200, mesmo que sejam localidades mais afastadas.

“Esse meio do ano no Japão vai ser bem atípico, com uma concentração enorme de turistas, já que coincidem a alta temporada do verão do hemisfério norte, férias locais e jogos olímpicos, tudo isso junto”, alerta Martins.

Segundo ele, o turista normalmente tende a menosprezar o custo de alimentação – o que é um grande erro.

Ele explica que em grande parte dos restaurantes é possível realizar uma refeição para duas pessoas com algo entre US$ 20 e US$ 40 (entre R$ 80 e R$ 160, na conversão de 30 de janeiro), mas há estabelecimentos com refeições mais elaboradas que podem passar de US$ 50 por pessoa.

O especialista ainda ressalta que, embora a cultura oriental seja muito diferente e isso reflita diretamente na culinária do país, o Japão é um país muito globalizado e as maiores redes de fast-food possuem filiais por lá. E essas redes tendem a manter um preço parecido entre suas unidades.

“Se a pessoa não está minimamente habituada com a culinária local, minha sugestão é entender e conhecer quais os principais temperos, ingredientes e pratos para se familiarizar com o que está comendo. Mas o Japão, e principalmente Tóquio, são lugares muito globalizados, então terá gostos acessíveis para todos”, conclui o diretor.

Para se locomover gastando o mínimo possível é preciso usar e abusar dos transportes públicos do Japão, já que preços de aluguel de automóvel e aplicativos de mobilidade urbana devem disparar com a alta demanda e os serviços públicos são eficientes – ainda que não sejam tão baratos.

O diretor aconselha que o turista mapeie uma rota de viagem meses antes de ir para o Japão e conheça a bem as estações de trem e metrô e as linhas de ônibus.

Para o deslocamento intermunicipal, o mais recomendado é o trem. A maioria dos turistas compra algum pacote do Japan Rail Pass, um bilhete que inclui passagens de trem bala, trens regulares e ônibus. O preço parte de US$ 269 (cerca de R$ 1.145 na conversão direta) para sete dias de uso.

Ingressos

O Comitê Organizador das Olimpíadas estabeleceu distribuidoras oficiais para vender os ingressos dos jogos, chamadas de Authorised Ticket Reseller (ATR).

Os ingressos foram liberados com valores a partir de R$90, mas os assentos mais exclusivos das cerimônias mais caras – abertura ou encerramento – chegaram a R$ 10 mil. Hoje, o turista que ainda não se organizou já perdeu as opções mais baratas, que estão esgotadas, mas ainda pode garantir sua entrada no evento, caso aceite pagar preços mais altos.

Vale ressaltar que os ingressos restantes são para um pequeno leque de modalidades, visto que as entradas para os esportes mais conhecidos pelo brasileiro, como futebol, basquete e vôlei, se esgotaram.

Porém, como explica Martins, é possível se divertir e curtir o clima dos jogos sem ao menos pisar dentro do ginásio.

Como acontece nos eventos de Copa do Mundo com o FIFA Fan Fest, nas Olimpíadas será parecido. O Comitê realizará eventos em locais públicos próximos aos ginásios para que quem não conseguiu comprar os ingressos acompanhe a modalidade ao vivo por meio de telões curtindo uma festa ao ar livre.

É possível, ainda, acompanhar algumas modalidades sem gastar um centavo. Maratona e ciclismo são dois esportes que acontecem na rua e permitem o turista acompanhe de forma gratuita, basta se planejar com antecedência para saber o percurso e o horário das provas.

“Aquele turista que vai até a sede de uma Copa do Mundo ou das Olimpíadas sem ingresso nenhum ainda pode participar das festas e eventos fora dos estádios. Ele vai conseguir conhecer o destino com um clima de confraternização que esse tipo de evento cria, mesmo sem nem entrar no ginásio”, explica Martins.

O diretor recomenda, porém, que o turista não tente comprar ingressos no Japão, principalmente de pessoas físicas.

“Comprar por lá é difícil e arriscado. Nas datas de início das vendas, há quase um esgotamento geral dos ingressos, então fuja de armadilhas. Há relatos concretos de cambistas de ingressos falsos nesse tipo de evento”, adverte Martins.

Na edição anterior dos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro em 2016, após o esgotamento dos ingressos, a organização responsável por comercializar as entradas permitiu que os turistas que desistiram de ir ao jogos vendessem seu bilhetes na plataforma oficial pelo mesmo preço que compraram.

A Match Hospitality AG, companhia responsável por realizar a venda oficial de ingressos no Brasil, afirmou que a plataforma de revenda estará disponível, mas apenas para os compradores que conseguiram adquirir pelo site de vendas de Tóquio e não para os ingressos adquiridos pelos revendedores oficiais dos países.

Ou seja, o viajante brasileiro que comprou na revendedora oficial do país não poderá revender seu ingresso.

Porém, a empresa afirmou que, caso o viajante não deseje participar do evento, ele pode presentear um amigo ou familiar com o convite, já que os ingressos não são nominais. Entretanto, a revenda é proibida. Não ficou claro como que a empresa irá fiscalizar essa operação.

Câmbio: dólar ou iene?

O iene é a moeda oficial do Japão e é a terceira moeda mais negociada do mundo, atrás do dólar e do euro.

Alexandre Monteiro, especialista no mercado de câmbio e sócio da MelhorCambio, uma plataforma de comparação de cotações, afirmou que comprar pequenas quantidades para aproveitar a volatilidade da moeda e criar um preço médio é a melhor estratégia para conseguir gastar menos em moeda.

“A melhor forma de não cair em uma pegadinha é pesquisar com antecedência e fazer compras fracionadas. Ao deixar para comprar na última hora, você pode acabar comprando tudo com um preço alto, então quanto mais conseguir dividir a compra, diluindo o preço final, é melhor”, afirma.

Monteiro recomenda, porém, que o turista compre primeiro o dólar ainda no Brasil, e adquira os ienes apenas em terras japonesas.

“O iene é considerado uma moeda exótica, pouco negociada no Brasil. Assim, você acaba tendo menos liquidez e procura, o que reflete diretamente no preço. Então, você acaba pagando mais caro nessa moeda aqui no Brasil, o que não acontece com o dólar”, explica o especialista.

“Eu levaria 90% do montante em dólar e 10% na moeda local para pagar gastos pontuais da chegada. Se você inverter esses valores, as margens das casas de câmbio serão bem maiores”, conclui.

O especialista ainda desaconselha que o turista leve apenas dólar, já que é difícil ter certeza dos locais que aceitam a moeda americana no país.

“Trocar o dólar lá por iene é relativamente fácil, mas aceitar o dólar como moeda já pode ser mais raro e complicado, e é bem possível que o estabelecimento cobre um ágio no valor, utilizando uma cotação própria do câmbio”, diz Monteiro.

Para ele, o evento em si não deve alterar muito a movimentação do câmbio, mas na escala microeconômica, os preços podem mudar, então é importante ficar atento.

“As casas de câmbio podem cobrar margens maiores, querendo se aproveitar de turistas mais desavisados e despreparados. Isso no cenário local, porque o cenário global não deve mudar muita coisa”, explica.

Coronavírus preocupa

O recente surto do coronavírus colocou a China em atenção perante o mundo todo e, com os casos se espalhando ao redor do mundo – e principalmente no continente asiático – é de se esperar que o setor de turismo olhe para a situação com preocupação, já que o Japão é vizinho da China.

Até a última sexta-feira (7) o país nipônico já tinha 61 casos confirmados, mas nenhuma morte.

Para Martins, do Viajalá, a crescente epidemia deixa o setor turístico apreensivo, mas diz que ainda é muito cedo para dizer de que forma o surto de coronavírus pode atrapalhar o andamento da Olimpíada.

“A nossa análise em relação ao turismo é de tensão. Ainda é cedo para falar do setor como um todo. A única recomendação é evitar viagem para China, e não para Ásia. É uma obrigação nossa respeitar essa recomendação, pois reflete o posicionamento das autoridades de saúde do país”, explica Martins.

“Se, eventualmente, recomendarem para que não realizar viagens para a Ásia como um todo, a dimensão será outra, vai se tornar um caso muito complicado para o turista e até mesmo para os jogos em si”, afirma.

Marcos Lucas, presidente da Associação das Agências de Viagem do Interior do Estado de São Paulo (Aviesp), acredita que, até agora, o maior baque para o setor será a queda de turistas chineses. “O país envia cerca de 140 milhões de turistas para fora anualmente e agora está sofrendo com a quarentena”, lembra.

O executivo também acredita que viajantes estão aguardando melhora do cenário mundial para voltar a pensar em viajar para a Ásia.

“De uma maneira geral, os viajantes que não conseguem adiar ou cancelar por motivos maiores, a principio, não devem cancelar. Já aquele que já estava se planejando com uma antecedência e está com um temor, pode acabar desistindo e postergando os preparativos para o futuro”

Em relação aos preços, Lucas acredita que, caso não haja uma diminuição da taxa de infecção e o pavor global continue em alta, os valores de hospedagem e, principalmente, passagem aérea devem diminuir consideravelmente.

“A medida que a demanda e a procura cai os preços também tendem a cair. Se a pessoa vê a viagem como um risco, ela vai pensar duas vezes em realiza-la”, diz o executivo.

Lucas ainda explica que a queda na demanda pode gerar uma possível vacância em voos, o que poderia gerar uma série de promoções e preços mais baixos por parte das companhias aéreas para fomentar o setor, mas ainda assim, é cedo para imaginar tal cenário.

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Allan Gavioli

Estagiário de finanças do InfoMoney, totalmente apaixonado por tecnologia, inovação e comunicação.