20 anos do 11 de setembro: entenda os novos riscos geopolíticos que podem mudar o rumo dos mercados

Maior ataque terrorista da história ainda influencia a ordem da economia global; Afeganistão, EUA x China, fim da era Merkel na Alemanha: o que esperar?

Dhiego Maia

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SÃO PAULO – O que você estava fazendo em 11 de setembro de 2001? Esta será, provavelmente, a pergunta mais repetida nas conversas deste sábado (11). A data é singular porque marca os 20 anos do que é considerado o ataque terrorista com o maior número de mortos da história, cujos fatos foram transmitidos ao vivo em escala global.

Os rumos do planeta mudaram após o choque premeditado de dois aviões Boeing 767 contra as torres do World Trade Center, em Nova York — uma terceira aeronave sequestrada atingiu o Pentágono (órgão da Defesa) e uma quarta caiu na zona rural do estado da Pensilvânia antes de seguir contra o alvo pretendido, o prédio do Capitólio (sede do Legislativo).

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Planejados pela organização terrorista islâmica Al Qaeda, os ataques deixaram 2.977 mortos (além dos 19 sequestradores) e geraram tensões geopolíticas cujos desdobramentos ainda persistem duas décadas depois.

O mercado, claro, não saiu incólume. As Bolsas de Wall Street ficaram fechadas por uma semana. No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bovespa (atual B3), colapsou.

O mundo, que experimentava uma ressaca de dez anos do término da Guerra Fria, viu novos conflitos surgirem com as invasões lideradas pelos Estados Unidos ao Afeganistão, em 2001, e ao Iraque, em 2003, países acusados de dar apoio ao grupo terrorista.

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“O que vimos após o 11 de setembro, com a invasão do Afeganistão e do Iraque, foram outras tensões ao redor do mundo. Por isso, também notamos crescimento do impacto geopolítico e da volatilidade no mercado em resposta a esses eventos”, pontua Oliver Wack, gerente da Control Risks para Colômbia e Região Andina.

A chamada “Guerra ao Terrorismo” implantou uma caçada contra suspeitos em pleno território americano e deixou centenas de milhares de mortos nos conflitos deflagrados — a maioria composta por civis.

Osama bin Laden, o chefe da organização terrorista que ordenou os ataques, foi morto, segundo versão oficial, numa operação militar americana no Paquistão, em 2011.

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A luta contra o terrorismo nos anos seguintes também foi apontada como uma das causas para a desestabilização das relações transnacionais e do tratamento ofertado aos cidadãos do mundo árabe — que passaram a ser vistos como suspeitos pelo Ocidente.

Novos riscos

Especialistas em relações internacionais ouvidos pelo InfoMoney analisam que o ataque terrorista de 2001 ressignificou a história porque foi arquitetado por um grupo. “Caiu a noção do conflito clássico que estávamos acostumados a ver em todo o século 20”, diz Leandro Cosentino, cientista político e docente do Insper.

“A crise geopolítica não se firma mais no conflito clássico entre estados nacionais a partir dali. Outras questões entraram em pauta como o fundamentalismo islâmico, cujos adeptos não têm medo de morrer por uma causa”, completa Consentino.

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O que faz do 11 de setembro um caso fora da curva, de acordo com o especialista do Insper, é a resposta dada a ele. “O mundo ocidental se organiza, promove a guerra ao terror e faz de uma questão localizada um problema global”, afirma.

É por isso que as tensões geopolíticas geradas pós-11 de setembro continuaram a impactar as economias e a segurança das pessoas devido à pulverização de ataques terroristas contra as nações alinhadas à causa antiterror.

E, somado a isso, a nova pedra no sapato: a derrota dos Estados Unidos na estabilização do Afeganistão, que deu espaço para o retorno do grupo extremista Talibã ao poder e vem pressionando o governo de Joe Biden junto à comunidade internacional.

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Simão Silber, PhD em economia e professor da USP (Universidade de São Paulo), vê na ascensão do Talibã um indicativo de que “os movimentos radicais e fundamentalistas não diminuíram com o passar do tempo”.

“O Afeganistão pode virar um território para o planejamento de ataques terroristas internacionais, mas acredito que não daquela forma cinematográfica como foi em 11 de setembro por causa do aprimoramento das medidas de segurança”.

Para os especialistas, os riscos geopolíticos de hoje monitorados pelo mercado assumiram contornos mais complexos. “Um representante do Talibã participou de um encontro oficial na China. Isso significa muita coisa”, lembra Leonardo Weller, docente da FGV-SP (Fundação Getulio Vargas).

Oliver Wack, da Control Risks, observa que o fato é mais um caldo para “o crescimento de tensões geopolíticas, principalmente entre Estados Unidos e China, muito similares ao nível de atrito que tivemos na Guerra Fria”.

“São os dois países hoje que estão na disputa pelo domínio das principais tecnologias do mundo”, complementa Silber, da USP. “Com a China em grande ascensão”.

No mapa atualizado das tensões geopolíticas, Leonardo Weller diz que o mercado vem concentrando atenção no que será a Alemanha e a própria União Europeia com o fim do mandato de Angela Merkel. “Ela enfrentou as grandes crises, como a imigratória, mas perdeu a chance de liderar a grande reforma que o bloco necessita”.

Também estão sob a lupa dos estrategistas de mercado a ascensão de governos conservadores, como o de Recep Tayyip Erdogan, na Turquia. E fenômenos mais transnacionais, como o aquecimento global e a crise hídrica.

Mas há riscos, diz Silber, que são impossíveis de mensurar. “A pandemia de Covid-19 é um deles. Veja o estrago que um vírus fez na vida e na economia dos países”, finaliza.

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Dhiego Maia

Subeditor de Finanças do InfoMoney. Escreve e edita matérias sobre carreira, economia, empreendedorismo, inovação, investimentos, negócios, startups e tecnologia.