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A dinâmica da inflação em março captada pelo IPCA-15 divulgado nesta sexta-feira (24) pelo IBGE foi considerada benigna por economistas e analistas de mercado. A explicação é que média dos núcleos da prévia da inflação oficial recuou no mês e o índice de difusão – a quantidade de bens e serviços que subiram no mês em relação ao total de itens pesquisado – também caiu.
A XP Investimentos viu na abertura dos dados do IPCA-15 um sinal de alívio em meio à turbulência. Apesar do índice cheio ter vindo um pouco acima das estimativas – de 0,69%, ante projeção de 0,68% da XP e mediana de 0,65% pelo consenso Refintiv – a média dos núcleos de observados pela XP ficou em 0,41% em março, abaixo da projeção de 0,46%.
Com isso, a média móvel de 3 meses com ajuste sazonal anualizado ficou praticamente estável na comparação mensal, de 5,80% para 5,82%. “Ou seja, ainda longe da meta de inflação da autoridade monetária para 2023 (3,25%), mas um sinal de alívio”, comenta a XP em relatório.
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Da mesma forma, foi destacada a medida de serviços subjacentes (mais sensíveis à política econômica) que avançou 0,32% na comparação mensal em março, bem abaixo da projeção de 0,49% da própria XP.
Já as medidas de preços industriais (0,48%) e dos industriais subjacentes (0,76%) vieram acima das estimativas, especialmente por conta da surpresa de alta dos preços de higiene pessoal, item considerado volátil.
Para a XP, as leituras do IPCA mostram uma inflação ao consumidor ainda pressionada, mas esse indicador prévio de março trouxe sinais mais animadores.
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“Parece cedo para afirmar que o processo de desinflação retomará seu fôlego daqui para frente, tendo em vista o aumento das expectativas inflacionárias, o câmbio depreciado e alguns estímulos de curto prazo à atividade econômica. No entanto, a perspectiva de não haver reaceleração dos preços ao consumidor é bem-vinda”, diz o comentário.
As projeções para o IPCA de 2023 (5,5%) e de 2024 (4,5%) foram mantidas.
Para Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, foram várias as sinalizações que a inflação apresentou uma boa composição. Ele lista entre esses esses sinais o alívio sobre os preços de serviços, a baixa na média dos núcleos, a redução do índice de dispersão e a desaceleração dos itens livres.
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“Olhando à frente, analisamos que o comportamento do IPCA-15 em março conversa com o que esperamos. Entendemos que a dinâmica do IPCA no ano terá 2 atos: arrefecendo até o 1° semestre, mas voltando a subir no segundo 2°semestre. Projetamos uma alta de 5,7% em 2023”, estima.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, também diz que a notícia mais relevante do IPCA-15 de março foi a desaceleração dos núcleos. “Isso é um ponto bem positivo e que faz o mercado reagir bem. Os DIs caíram aproximadamente 12 pontos logo na abertura justamente por conta desses núcleos que vieram bem melhores do que o histórico recente”, analisa.
Entre os destaques de alta, Jorge cita os preços de habitação e transporte, além de serviços, que sofrem com os juros altos. “E transporte é um setor que se destaca por conta do alto custo de combustíveis, após o fim da isenção do ICMS.”
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Leonardo Costa, economista da ASA Investments, também cita o alívio dos núcleos e dos serviços, na margem, como pontos positivos, embora comente que eles seguem em nível alto.
“A despeito da surpresa benigna em março, núcleos ainda operam bastante acima do teto do regime de metas, o que deve justificar a manutenção da Selic em 13,75% ao longo do ano”, afirma, lembrando ainda que o cenário é de a desancoragem das expectativas de inflação mais longas
Ligeira moderação
Para o Goldman Sachs, a ligeira moderação da inflação em março em relação a fevereiro foi impulsionada pelo menor impacto do aumento sazonal nas mensalidades escolares no mês anterior e pelas impressões mensais mais baixas em alimentos consumidos em casa, utensílios domésticos e despesas pessoais.
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“Isso foi parcialmente compensado por impressões mais altas em preços administrados (por exemplo, gasolina e eletricidade), alimentação fora de casa e itens de higiene pessoal”, diz o banco em relatório.
A média dos cinco principais núcleos registrou 0,43%, ante 0,68% em fevereiro, deixando a taxa acumulada em 12 meses em 7,94% – ante 8,38% em fevereiro e pico de 10,55% em agosto do ano passado.
“O núcleo do IPCA-EX0, que exclui alimentação no domicílio e itens controlados, recuou para 0,36% em março, ante 0,94% em fevereiro, com a taxa anual agora em 7,46% – de 7,80% em fevereiro no comparativo anual”, destaca.
As surpresas de alta no indicador vieram de comunicações, vestuário, artigos de higiene pessoal e alimentação fora do domicílio, segundo o Goldman Sachs. Para baixo, os destaques foram em despesas pessoais, como aluguel e condomínio, e utensílios domésticos (devido aos eletroeletrônicos).
O banco também chama a atenção para a taxa anual, que está agora em 5,36%, ante 5,78% no final de 2022. A inflação entre os preços livres está em 7,80% no comparativo anual, abaixo dos 9,39% no final de 2022 e do pico de 12,07% de julho de 2022.
“Esperamos que a taxa de inflação anual caia para 4% com a divulgação do IPCA do mês de março, reflexo de um efeito base muito alto (+1,62% em março de 2022)”, afirma o banco.
O Goldman alerta, no entanto, que a dinâmica da inflação subjacente ainda é desafiadora, uma vez que a inflação entre bens e serviços com preços livremente determinados ainda está em alta de 7,80%, com núcleo em 7,94%.
E destaca ainda que as pressões inflacionárias são generalizadas em um cenário de mercado de trabalho ainda apertado e a expectativa de deterioração do mix de políticas macroeconômicas e microeconômicas, incluindo uma considerável expansão fiscal e parafiscal em 2023 e nos próximos anos.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, destacou que o índice de difusão passou de 67,03% em outubro do ano passado para 61,31%.
Mas ela chama a atenção para os preços administrados, que registraram inflação de 1,90% na comparação mensal, ante 0,57% em fevereiro. A gasolina e a energia elétrica residencial, itens com os maiores pesos dentro do grande grupo, apresentaram inflação de 5,76% e 2,85% respectivamente.
“A retomada dos impostos sobre combustíveis automotivos e o reajuste da concessionária de energia elétrica que atende o Rio de Janeiro, terceiro maior peso regional do IPCA, foram as grandes responsáveis pela inflação do grupo”, explica.
Já os chamados preços livres apresentaram inflação de 0,30%no mês e de 7,80% na comparação anual, significativamente abaixo da inflação verificada em fevereiro (0,82%). Dentre as categorias de uso, os bens não duráveis aceleraram de 0,29% para 0,51%, sendo que a inflação de alimentos arrefeceu significativamente e alcançou 0,02%.
No sentido oposto, estão os itens de higiene pessoal, cuja inflação mensal foi de 2,36%, por conta de perfumes, artigos de maquiagem, produtos para cabelo e para barba, que apresentaram forte inflação.
A média dos núcleos acompanhados pela CM Capital desacelerou de 0,72% para 0,48% entre fevereiro e março. “O final do impacto do reajuste das mensalidades escolares contribuiu intensamente para o arrefecimento. Apesar dessa desaceleração, o nível inflacionário ainda é demasiadamente elevado e não sugere a conversão inflacionária para dentro dos limites superiores e inferiores do regime de metas para a inflação”, alerta Carla.
Para o BTG Pactual, o cenário de inflação segue desafiador, apesar da melhora na dinâmica inflacionária na ponta. “Entendemos que mudanças no arcabouço fiscal, possível alteração da meta de inflação e nova expansão fiscal contratada devem dificultar a convergência da inflação para o centro da meta no horizonte relevante de política monetária”, pondera o banco em relatório.
Um fator que pode ajudar na dinâmica é a substancial queda no preço do petróleo e arrefecimento no preço de alimentos, com destaque para grãos, impactado pela boa safra doméstica.