Analistas veem taxa de participação ainda baixa e dinâmica desfavorável à geração de empregos

Previsão é de taxa média mensal ajustada de desemprego oscilando entre estabilidade e crescimento ao longo de 2023

Roberto de Lira

Mutirão do emprego em SP
Mutirão do emprego em SP

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A taxa de desemprego média com ajustes sazonais do Brasil tem se mantido relativamente estável nos últimos meses, mas tende a subir até o final do ano, em linha com a esperada desaceleração a economia, de acordo com analistas consultados pelo InfoMoney. A taxa média em janeiro ficou entre 8,5% e 8,7%, segundo os cálculos dos especialistas, mas pode subir a até 9% até o encerramento de 2023.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) divulgada nesta sexta-feira (17) pelo IBGE a taxa de desemprego no Brasil ficou em 8,4% no trimestre móvel encerrado em janeiro, praticamente estável em relação à desocupação verificada em outubro (8,3%). Em dezembro, a taxa estava em 7,9%.

Segundo Gabriel Couto, economista do Santander, a taxa de desemprego dessazonalizada ficou em 8,5% janeiro, estável em relação ao patamar de dezembro, e isso pode ser explicado  pela taxa de participação no mercado, que permaneceu em 61,8%, ainda no menor nível desde agosto de 2021.

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Pelas contas do economista, se essa taxa de participação fosse estivesse na média histórica pré-pandemia de cerca de 63%, o desemprego dessazonalizado seria de 10,4% em janeiro.

Para ele, o resultado da PNAD de janeiro continuou a mostrar mercado de trabalho provavelmente superaquecido, mas com sinais mistos na desagregação. “A taxa de desemprego permanece em níveis baixos mais pela redução da taxa de participação do que pelo crescimento do emprego”, comentou.

Couto disse esperar que a tendência de desaceleração do mercado de trabalho continue à frente, mas alertou que a continuidade de uma baixa taxa de participação implica em risco de queda nas projeções para a taxa de desemprego.

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Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, calculou que a taxa de desemprego mensalizada, com ajuste sazonal, subiu ligeiramente, de 8,5% em dezembro para 8,6% em janeiro.

Ele atribuiu isso a uma contração da população ocupada, com queda de -0,2% entre dezembro e janeiro, um pouco mais forte que o declínio da força de trabalho (-0,1%). “A primeira registrou a quarta taxa de variação negativa na base de comparação mensal, com uma perda acumulada de 0,7% em tal período. Essa dinâmica reflete o arrefecimento da atividade econômica doméstica ao longo do segundo semestre de 2022”, afirmou.

Margato também destacou o enfraquecimento da geração de emprego, que segundo ele tem sido generalizado entre setores e tipos de ocupação. A soma das categorias informais, por exemplo, apresentou em janeiro a quinta queda consecutivo, após uma intensa recuperação iniciada em meados de 2021.

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Ou destaque de retração foi na categorias  “Empregado no setor público sem carteira”, que recuou 4,5% entre dezembro e janeiro, possivelmente como reflexo da transição de governos. Além disso, a categorias “Empregador sem CNPJ” (-1,8%) foi outro destaque negativo na leitura mensal.

Já a taxa de participação do mercado de trabalho brasileiro, que segue muito abaixo do nível pré-Covid (63,5%), vinha em trajetória de recuperação até o início do segundo semestre do ano passado, mas voltou a recuar desde então (declínio de 0,8 p.p.).

“Esta dinâmica recente pode estar relacionada, ainda que parcialmente, às maiores transferências de renda do governo”, disse o economista da XP, lembrando o menor incentivo à oferta de mão de obra causado por isso.

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Sobre a massa de renda real habitual – que combina o rendimento médio do trabalho com a população ocupada – Margato destacou que o indicador está cerca de 4,5% acima dos patamares pré-pandemia e que mostra crescimento de 6,8% no acumulado dos últimos 12 meses (apesar da ligeira queda de 0,1% no mês).

“Segundo nossas projeções atualizadas, a massa de renda real disponível às famílias subirá aproximadamente 3,5% em 2023”, estimou.

Para Margato, o emprego total no Brasil seguirá enfraquecendo ao longo do ano, na esteira da dinâmica desfavorável dos setores mais sensíveis ao ciclo econômico. “De acordo com as nossas previsões, a taxa de desemprego dessazonalizada atingirá 9,0% no final de 2023, após 8,2% no final de 2022”, comparou.

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Ou seja, é previsto um nível ainda muito inferior aos 11,5% registrados antes do surto de COVID-19, mas apontando o fim da sólida recuperação do emprego vista ao longo dos últimos seis trimestres. “Por fim, antevemos taxa de desemprego média de 8,7% este ano, após 9,3% no ano passado.”

Informalidade

A análise do Banco Original é similar, com os cálculos internos apontando para uma taxa mensal dessazonalizada de 8,6% em janeiro, ante 8,4% em dezembro.

Segundo o banco, chamou a atenção no mês o quadro de informalidade. Ainda que moderadamente, voltou a subir de 38,8% para 39%. “Esse avanço é consequência de uma maior ocupação em conta própria sem CNPJ e dos trabalhadores domésticos sem carteira”, explicou a instituição.

No front formal, com exceção dos trabalhadores domésticos, que avançaram 0,8%, todas as aberturas recuaram.

O Original concorda que a ocupação começa a perder fôlego, mas faz a ressalva que boa parte do aumento na taxa de desemprego no mês pode ser explicada pela constante contração da taxa de participação, que saiu de 62,1% em dezembro para 61,9% em janeiro.

“Ou seja, muitas pessoas consideradas aptas a trabalhar não estão procurando emprego. Olhando à frente, esperamos uma resiliência no início do ano devido ao setor de Serviços, que ainda não se recuperou totalmente. Contudo, a partir do segundo semestre, quando o setor mostrar uma desaceleração mais forte e a taxa de participação voltar a subir, esperamos um aumento na taxa de desemprego”, previu o banco.

Para o BTG Pactual, a série com ajuste sazonal ficou relativamente estável em 8,7%, com redução da população economicamente ativa e da população ocupada em relação ao dado registrado no mês de dezembro.

“Ressaltamos que, no dado dessazonalizado, a taxa tem registrado certa estabilidade nos últimos 8 meses em torno deste patamar, registrando pequena flutuação entre 8,6% e 8,7%.”

Ao analisar a composição do índice, o BTG indicou uma surpresa negativa em relação ao rendimento médio real habitual, que apresentou queda na comparação mensal, de 0,2%, no primeiro movimento baixista desde abril de 2022.

Para o banco, o resultado de hoje reforça uma visão de desaceleração do mercado de trabalho, em linha com cenário base projetado de perda de ímpeto da atividade econômica, devido ao patamar restritivo dos juros.

“Para 2023, a despeito de esperarmos certa estabilidade na taxa, esperamos uma deterioração do qualitativo do mercado de trabalho, com baixa taxa de participação e modesta geração líquida de postos”, estimou o BTG Pactual.

Para 2024, é projetada uma taxa de desemprego média de 8,8%, atingindo 9,1% em dezembro, em virtude da estimativa de baixo crescimento (0,7%).