Biden e lideranças do Congresso dos EUA discutem na 3ª feira o teto da dívida, mas acordo pode ser difícil

Último impasse semelhante, com risco de inadimplência pelos EUA, ocorreu em 2011, com forte impacto negativo no mercado financeiro

Roberto de Lira

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Uma sensação de déjà vu – termo psicológico usado para descrever o sentimento de alguém já ter visto ou vivido uma situação no passado – foi como o The New York Times se referiu hoje ao atual estágio da crise do teto da dívida dos Estados Unidos. Assim como em 2011, governo federal e uma parcela do Congresso discordam de como solucionar o impasse atual, que pode levar até à inadimplência no pagamento dos serviços da dívida e ao congelamento de programas de auxílio.

O presidente Joe Biden convocou as lideranças democrata e republicana na Câmara e Senado (grupo que a imprensa chama de “Big Four”) para uma reunião nesta terça-feira (9), mas já informou que vai insistir numa elevação do teto da dívida, ainda que temporária, sem pré-condições de mudanças orçamentárias.

No final de abril, a maioria republicana na Câmara, comandada pelo deputado Kevin McCarthy, aprovou uma lei que associa a elevação do teto em US$ 1,5 trilhão até o ano que vem a um compromisso de cortes de gastos que podem chegar a US$ 4,5 trilhões em programas federais na próxima década, alguns deles importantes para a administração Biden, que está oficialmente em campanha pela reeleição no ano que vem.

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Mesmo que a legislação tenha chances mínimas de prosperar na tramitação no Senado, onde a maioria é democrata, a turbulência econômica do impasse assombra os economistas e analistas de mercado. Em 2011, durante a gestão de Barack Obama, coube a Biden (seu vice) negociar um acordo com o Congresso, que foi firmado praticamente em cima da hora.

A dificuldade de se chegar a um acordo na época levou a Standard & Poor’s a rebaixar a classificação de crédito dos EUA. Na sequência, os ativos de risco tiveram forte reação: o dólar caiu, as ações afundaram 5% num único dia e os spreads de crédito aumentaram.

O limite de dívida dos EUA, de US$ 31,4 trilhões, foi atingido em 19 de janeiro. Desde então, o Tesouro vem usando medidas extraordinárias e se valendo de receitas extras para obter o dinheiro adicional necessário para pagar as contas do governo.  Mas na semana passada, a secretária Janet Yellen afirmou que a data X (quando o governo não teria como pagar suas obrigações) havia encurtado para o começo de junho.

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Soluções descartadas

Neste final de semana, surgiram opiniões de especialistas de que o governo Biden poderia invocar a 14ª emenda da Constituição para ordenar que o Departamento do Tesouro continue pagando suas contas, mesmo se o teto não for aumentado. Mas Yellen disse sem entrevista à rede ABC que acredita num acordo e que há um longo caminho ante de se pensar numa solução desse tipo.

Na semana passada, o presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano), Jerome Powell, defendeu como essencial que o teto da dívida seja elevado em tempo hábil para que o governo dos EUA possa pagar todas as suas contas no vencimento.

“Deixar de fazer isso seria sem precedentes. Estaríamos em um território desconhecido. As consequências para a economia dos EUA podem ser altamente incertas e bastante adversas”, comentou em entrevista após a reunião do Fomc.

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Sobre uma outra solução temporária aventada na imprensa americana, de que o Fed poderia auxiliar na questão, comprando títulos não horados pelo governo, Powell foi mais enfático. “Ninguém deve presumir que o Fed pode proteger a economia, o sistema financeiro e nossa reputação dos danos que tal evento pode infligir”, afirmou.

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