Campos Neto pede que haja coordenação entre politicas fiscal e monetária

Em evento da Febraban que contou com a presença de Fernando Haddad, presidente do BC defendeu responsabilidade com gastos

Roberto de Lira

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto disse nesta sexta-feira (25) que existe no mundo uma mensagem clara de que os arcabouços fiscais precisam de limites. “É preciso maior coordenação entre as políticas fiscal e monetária. Não pode ter política fiscal de um lado e política monetária do outro”, afirmou no almoço anual da de dirigentes de bancos promovido pela Febraban.

Entre os convidados do evento estavam dois ex-ministros de governos petistas: Alexandre Padilha e Fernando Haddad, que estão na equipe de transição.

Para ilustrar a preocupação sobre como a política fiscal interfere no trabalho do BC, Campos Neto mostrou gráficos sobre a curva de juros futuros que já precifica uma alta na Selic no ano que vem, quando a aposta era de cortes. A mudança aconteceu quando surgiram as notícias sobre a intenção da equipe de transição do novo governo de pedir uma estouro do teto de gastos de cerca de R$ 200 bilhões.

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“No Brasil, o mercado espera que o juro vai voltar a subir pela incerteza sobre arcabouço fiscal. O BC não faz política fiscal, usamos política fiscal como parte de nossa modelagem e o Brasil precificava uma queda de juros que foi revertida”, disse .

Para Campos Neto, a batalha contra a inflação não foi vencida, nem local, nem globalmente e ainda é preciso ser cauteloso e o processo de desinflação não será linear. Ele disse ainda existe no mundo uma mensagem clara de que os arcabouços fiscais precisam de limites.

Segundo Campos Neto, parte da resiliência do atual processo inflacionário nos países mais desenvolvidos pode ser atribuído ao modelo que imperou nos últimos anos. “A gente vinha de um período de grande bonança, com juros baixos no mundo inteiro e países imprimindo dinheiro sem gerar inflação. Mas começaram a aparecer rachaduras nesse modelo”, afirmou, explicado que a queda na produtividade foi um desses efeitos.

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Para ele, efeitos de mudanças na demografia, de ruptura das cadeias globais e de efeitos da cooperação tecnológica estavam nublados pelo excesso de liquidez. E isso fez com que os governos se acomodassem em relação às reformas. “Toda vez que produtividade cai, os governos fizeram reformas, mas isso não aconteceu nos últimos25 anos. Só vimos isso em mercados emergentes”, afirmou.

Esse diagnóstico foi apresentado quando Campos Neto estava explicando por que houve críticas em relação à atuação dos Bancos Centrais, especialmente em relação à falta de previsão sobre a alta generalizada de a respeito que se seguiu à pandemia. “A gente (os BCs) se preparou por uma recessão e veio uma depressão”, lembrou.

Segundo ele, houve dificuldade de entender o impacto da crise sanitária na demanda, principalmente a de bens, que gerou um deslocamento na demanda de energia para a produção. E isso se deu num momento de transição para uma energia sustentável, que demanda investimentos que têm impacto macroeconômico mais longo.

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O consumo de bens, disse Campos Neto, subiu muito e não caiu até hoje. Ele também lembrou que havia uma tese equivocada de que não seria gerado um problema de demanda porque as pessoas estavam em casa durante a pandemia. Assim, quando a mobilidade das pessoas voltasse, isso iria se equilibrar naturalmente. Mas não foi o que aconteceu. “Pela primeira vez, os preços da energia subiram e o capex de energia caiu e isso fez a inflação ficar mais persistente”, afirmou.