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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nestas 3ª e 4ª feira em Brasília, quando deve decidir pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano, mas já preparando o terreno para o início do ciclo de flexibilização.
É precisamente neste momento que a comunicação da autoridade monetária vai precisar de muita habilidade, para passar a mensagem de que a estratégia de serenidade e paciência tem surtido efeito, que houve sinais positivos tanto do lado da inflação corrente como no das expectativas, mas que ainda há riscos a serem considerados, afirma em entrevista ao InfoMoney o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale. “Precisa ter muito cuidado para não derrapar na última curva”, afirmou.
Megale diz acreditar que tanto o comunicado pós-decisão como a Ata do Copom devem trazer uma descrição da melhora do cenário macroeconômico desde a última reunião, com projeções de alta do Produto Inter Bruto (PIB) por conta de choques de oferta (sem pressão na demanda), recuo de projeções de inflação e tramitação do arcabouço fiscal no Congresso. Mas sem perder de vista os riscos fiscais e parafiscais, que ainda podem interferir na expectativa de médio e longo prazo.
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Ele diz não acreditar que o tema de uma possível alteração na meta de inflação na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) no próximo dia 29 seja o tema de maior relevância para o Copom em junho, embora seja importante para os encontros seguintes. Lei abaixo os principais trechos da entrevista:
O cenário de inflação ficou mais benigno desde a última reunião do Copom. Há alguma chance de início de queda dos juros nesta semana?
Caio Megale: Acho nula. Seria se precipitar demais. A inflação no atacado e, agora, a inflação no varejo estão caindo. No Brasil, a gente começou antes esse esforço, a expectativa de inflação estava até outro dia subindo e o BC correndo atrás. Finalmente está dando certo a estratégia de serenidade e paciência e a coisa está começando a funcionar. Então, acho que cortar juro agora seria botar tudo isso em risco.
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Com qual cenário o Banco Central vai trabalhar?
Estou racionalizando assim: o BC colocou o juro em 13,75% em setembro do ano passado e vem mantendo. Pegando a virada do ano como comparação, será que hoje faz sentido a política monetária? Acho que ela tem que estar contracionista ainda, porque a inflação não está na meta e ainda longe do objetivo. Mas será que ela tem que estar tão contracionista como ela estava lá no começo do ano? Algumas coisas andaram do lado do BC. Lá no começo do ano, a inflação ainda estava acelerando no mundo. Agora os índices de preços no atacado viraram, estão caindo, a China reabriu, o Fed continuou subindo os juros e o real não se desvalorizou. Pelo contrário, o real está até mais forte do que estava no início do ano e a economia desacelerou aqui no Brasil. No curto prazo, o que eu vejo é que o mundo fez um baita esforço para conter a inflação e esse esforço está começando a fazer efeito.
As projeções para o PIB estão sendo revisadas para cima. Não seria mais um risco inflacionário?
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Mas está sendo revisada da melhor forma possível para a inflação, que é por conta de produção agrícola muito forte, um choque de oferta positivo. Mais produtos, para ajudar a trazer a inflação mais para baixo. Não é por demanda. O varejo e os serviços estão perdendo força. No primeiro semestre teve aquele choque exógeno no mercado de crédito que foi o caso das Lojas Americanas e de outros, como a Light. Então, esse choque, que não tem nada a ver com juros. Ele torna a mesma taxa de juros mais apertada do que era antes desse choque acontecer. Porque deixou o crédito mais caro, para a mesma taxa de juros. Esse é um conjunto de coisas que me dá conforto em dizer hoje que a política monetária pode ser menos contracionista do que era em janeiro. Então, o juro pode ser um pouco mais baixo. É mais ou menos isso que eu espero, não forma tão explícita, que BC vai tentar comunicar no “statment” e na Ata.
Como manejar as expectativas para as próximas reuniões? Precisa de um ajuste fino na comunicação?
Especialmente nessa reunião. O que a gente tem pela frente? Tem o CMN, que é importante, tem um novo diretor entrando, que tem uma visão não necessariamente alinhada, pelo menos historicamente; diferente do que os outros diretores do Copom têm. O Copom tocou a bola, driblou, foi na linha de fundo, cruzou e caiu no pé do centroavante. Tem que chutar para dentro do gol, está na hora de se consagrar. Precisa ter muito cuidado para não derrapar na última curva. Eu acho que ele (o Copom) levemente dá uma pincelada reconhecendo essa melhora, mas ainda dizendo que as expectativas estão altas, estão longe da meta, tem muito trabalho a ser feito, tem que ter paciência. E acho que mantém aquela frase no final: “apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. Acho que ele até deixa aquela frase lá meio para desencargo. E o governo já entendeu que a frase está lá não porque ele pensa em subir.
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Qual o ritmo de queda dos juros que será definido?
Em agosto começa com 25 pontos-base, para começar cauteloso e garantir a convergência das expectativas. E começa a acelerar para 50 bps a partir de setembro. Pode acontecer de ser mais porque em ciclos política monetária historicamente acontece muito isso. Tanto para cima como para baixo, a gente acaba se surpreendendo com o tamanho. A não ser que afunde a inflação e caiam as projeções para a frente e aí ele vai um pouquinho mais rápido do que 50 bps. Mas o meu passo já é um pouco mais acelerado do que o do Focus. Então eu acho que por aí mesmo, os 50 bps já é um bom ritmo.
O governo anunciou programas recentes de subsídios. Você prevê algum recado sobre risco parafiscal?
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Tem que ter um recado de parafiscal e fiscal. Falei de várias positivas, mas nem tudo é positivo. A gente voltou a ver o Mercadante (Aloizio Mercadante, presidente do BNDES) falando, então parafiscal está “alive and kicking”, como se fala nos Estados Unidos. É um risco para a frente sim. No fiscal, estamos vendo esse pacote de barateamento de carros, por exemplo. Os R$ 1,5 bilhão acabaram em 20 dias, o Lula gostou e falou deu certo. Claro que deu certo. Você pega o dinheiro, paga um pedaço da conta, vai funcionar, as pessoas vão comprar carro. A pergunta não é se as vendas vão aumentar com o governo pagando um pedaço da conta. É claro que vai aumentar. A pergunta é se essa é forma correta de se gastar o dinheiro público. Lembro dos IPIs reduzidos: um mês virava um ano inteiro de IPI reduzido e pode que esse negócio volte de mais um mês de subsídios à compra de veículos. No Minha Casa, Mina vida, o governo está lutando para aumentar o orçamento. O Secretário do Tesouro já falou que não vai conseguir fechar a conta, vai precisar de mais R$ 40 bilhões. No curto prazo, com liquidez, câmbio vindo, deflação de IPAs, todos esses fatores, dá pata começar a cortar os juros. Mas com esse fiscal e parafiscal vindo do outro lado, como fecha a história? Lá na frente, não vai conseguir cortar muito. Do 13,75% para 11% vai meio rápido, mas depois não sei.
O novo arcabouço fiscal precisa de um grande esforço de arrecadação para que o governo cumpra a meta de resultado primário. Qual sua percepção?
Está longe. O governo sinalizou que arrecadaria R$ 230 bilhões e a nossa conta é de R$ 100 bilhões a menos, isso se tudo desse certo. Mas minha impressão é que vai conseguir arrecadar uns R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões. Então, tem um buraco. A Câmara fez uns ajuste no arcabouço porque a regra do arcabouço é tentar que a despesa cresça em linha com a receita. Só que quando foram fazer a conta para o ano que vem viram que essa regra não funciona, dadas todas as promessas de aumento de salário-mínimo, PAC, Minha Casa, Minha Vida, etc. Quando vai de baixo para cima, não consegue chegar no mesmo número de cima para baixo. Aí o governo falou que para o ano que vem é 2,5% (o teto para o crescimento das despesas públicas) e a regra começa em 2025. Mas o Secretário está dizendo na imprensa que vai precisar de mais dinheiro, que não vai conseguir fechar a conta só com o dinheiro que tem lá. Então, a impressão é que a política fiscal vai ser expansionista, a pressão vai ser sempre para mudar um pouco a meta fiscal, permitir um gasto um pouco maior, projetar a receita um pouco mais forte. E é isso que eu não acho consistente com uma inflação estável em 3%. Acho que ela pode cair agora, mas quando vai entrando mais para 2024, é difícil a inflação não dar uma inflexionada em algum momento.
A expectativa com a reunião do CMN no dia 29 sobre meta de inflação pode ter peso na decisão do Copom?
Estive na reunião do Comitê Macro da Anbima e muitos economistas estavam falando de CMN, mas tenho uma visão meio contrária. Para mim, ele não vai fazer muita diferença, especialmente porque acho que não vai ter aumento de meta de inflação. Se tiver, aí vai ser complicado. Estou mais preocupado com política fiscal e coisas de médio prazo. Acho que eles vão explicitar o ritmo de convergência mais longo e tem um risco de ampliarem o intervalo. Acho muito difícil não fazer nada, não mexer em nada. No mínimo, vão mudar para a meta contínua, que é uma coisa que o Fernando Haddad tem falado muito, mas acho que não mexem na meta de 3%, que ficou muito ancorada e vai ser testada ao longo do tempo. Com essa dinâmica fiscal, é muito difícil imaginar que a inflação vai ficar em 3% em 2025, em 2026. Talvez no curto prazo fique por causa dessa deflação global, mas eu não sei se isso se sustenta. Acho que vai falar mais para a frente do que em 2024. Mas, ao estender o horizonte, implicitamente ele está dizendo: em 2024 não tem meta, a meta é de 3% em 2025.