Copom: após IPCA-15, economistas veem chances de alta da Selic acima de 1,5 ponto na reunião desta quarta

Se até o final da semana passada, economistas se dividiam entre alta de 1,25 e 1,5 ponto, aposta em alta mais forte ganhou espaço após prévia da inflação

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Se a expectativa para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) já era de aceleração no ritmo de alta da Selic, para entre 1,25 ponto e 1,5 ponto percentual, em meio ao cenário de deterioração fiscal com o drible no teto de gastos anunciado na semana passada pelo governo, a possibilidade de uma alta ainda mais expressiva ganhou força nesta terça-feira (26).

Isso porque foi divulgado na manhã desta terça, às vésperas da reunião do Banco Central, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de outubro, que teve alta de 1,20% em outubro frente setembro, sendo a maior variação para o mês desde 1995 (1,34%), e a maior variação mensal desde fevereiro de 2016 (1,42%). O número foi além do esperado, com o consenso Refinitiv projetando alta de 0,97% na base mensal.

Segundo Tatiana Nogueira, economista da XP, o IPCA-15 mostra a inflação pressionada tanto pelos repasses em curso dos elevados custos de produção quanto pelo efeito da aceleração dos preços dos serviços.

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Com isso, a projeção da casa para o IPCA de outubro, que era de 0,77%, passou para avanço de 1,06%. A projeção para 2021 passou de 9,1% para 9,5%. Em 2022, a expectativa segue em 5,2%.

Itens como aluguel, passagem aérea, hospedagem, cabeleireiro, entre outros, apresentaram reajustes de preços bem maiores do que o esperado.

Na semana passada, cabe destacar, a XP revisou as suas projeções para a alta de juros, agora esperando dois aumentos de 1,5 ponto porcentual nas reuniões do Copom de amanhã e dezembro, de 1 ponto antes. Assim, os juros chegariam ao fim de 2021 em 9,25%. Para 2022, a casa estima duas altas da taxa, de 1 ponto e 0,75 ponto, e Selic de 11% no fim do ciclo e no fim do ano que vem.

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Também na última semana, o Barclays havia elevado a sua projeção de aumento da taxa de 1 ponto porcentual para 1,5 ponto porcentual, elevando também a estimativa de taxa de juros terminal, de 9,25% para 9,75%.

“No Brasil, a incerteza crescente sobre a política fiscal em 2022 devido às mudanças propostas ao teto dos gastos provavelmente vai exacerbar a avaliação do Copom sobre os riscos de alta para a inflação na reunião de quarta-feira”, escreveram os analistas do Barclays Roberto Secemski, Alejandro Arreaza, Pilar Tavella e Nestor Rodriguez.

Após o IPCA-15, contudo, a instituição destacou ainda que vê “riscos de alta” em sua projeção de elevação da Selic para a próxima quarta.

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O Goldman Sachs, em relatório da tarde desta terça-feira, apontou que, com IPCA-15 de outubro, com núcleo e inflação de serviços significativamente acima do esperado, somando-se ao cenário macro mais deteriorado e a queda do real, espera que o Copom acelere o ritmo de alta das taxas para pelo menos 1,5 ponto percentual, para 7,75% ao ano.

Porém, além disso, avalia uma probabilidade de 20% de uma alta ainda maior da Selic no encontro de amanhã, entre 1,75 ponto e 2 pontos percentuais.

Em um cenário de deterioração das expectativas de inflação, enquanto o caso-base do banco é de alta de 1,5 ponto, avalia alguma probabilidade de que o BC possa entregar uma surpresa ‘hawkish’ [mais dura] para o mercado para melhor ancorar as expectativas e assim subir os juros em 1,75 ponto (possivelmente até 2 pontos), para 8%, sugerindo a possibilidade de nova alta de mesma magnitude na reunião de dezembro (para 9,75%).

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“Em nossa avaliação, a relação risco-recompensa entre crescimento e inflação com uma alta de 1,75 ponto não é desfavorável e pode eventualmente reduzir a necessidade de uma resposta mais agressiva em 2022, em particular se uma trajetória mais antecipada da Selic começar a apontar para a inflação projetada abaixo da meta em 2023”, avalia Alberto Ramos, chefe de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o IPCA-15 coloca mais uma pressão sobre Banco Central, uma vez ser difícil acreditar que a autoridade monetária vai ter comunicação boa o suficiente para entregar uma alta menor que 1,5 ponto sem trazer stress para o mercado.

Segundo ele, o mercado já esperava que o IPCA fosse puxado por transportes, combustíveis e energia elétrica. Porém, a participação do setor aéreo na alta do índice, com as passagens ficando em média 30% mais caras, foi uma surpresa.

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A média dos núcleos subiu 0,82% na base mensal e os serviços subjacentes subiram 0,66%, ambos bem acima do que era esperado.

“As pressões sobre a inflação não devem arrefecer rapidamente e novas fortes altas devem ocorrer nos próximos meses. Essa surpresa na prévia de inflação deve também pressionar o Copom a subir a Selic em 1,5 ponto percentual”, reforça a Rio Bravo.

A Daycoval Asset também projeta alta de 1,5 ponto da Selic na próxima reunião do Copom e taxa ao fim do ano de 9,25%,.

O Itaú também vê uma alta para 7,75% dos juros, ressaltando que o aumento recente do prêmio de risco doméstico poderia provocar uma deterioração adicional das expectativas de inflação, ensejando, assim, uma postura de controle de danos, o que implica em um ajuste mais tempestivo da política monetária.

“Em sua comunicação, esperamos que o comitê sinalize um outro aumento de mesma magnitude para a próxima reunião, em dezembro, e que reforce o alerta sobre a necessidade de reduzir a incerteza sobre as perspectivas fiscais, que já era indicada como uma fonte de assimetria altista no balanço de riscos para a inflação”, avaliam os economistas.

Para o banco, as autoridades também devem repetir a mensagem que a taxa Selic irá até o nível necessário para trazer a
inflação para a meta no horizonte relevante para a política monetária, com maior foco em 2022. Dado o contexto de mudança no regime fiscal, isso implicará, na visão dos analistas, em uma taxa Selic de 11.25% ao final do ciclo de aperto monetário em março de 2022.

O Credit Suisse mudou as suas projeções e se, na semana passada, passou a projetar alta de 1,25 ponto da Selic em meio à deterioração fiscal, agora também projeta avanço de 1,5 ponto na reunião desta quarta.

“Naquele momento argumentamos que, sem um forte e confiável compromisso do governo com o teto de gastos em 2022, a aversão ao risco poderia continuar piorando e o BC provavelmente precisaria aumentar os juros em mais de 1,25 ponto para segurar a deterioração nas expectativas de inflação.  Acreditamos que as condições para limitar uma nova aceleração no ritmo de aperto não foi cumprida. Em nossa opinião, as taxas neutras mais elevadas provocadas pelo enfraquecimento do quadro fiscal e a piora do balanço de riscos para a inflação farão com que o BC aumente a Selic mais rapidamente e para
uma taxa terminal mais elevada de forma a limitar o aumento das expectativas de inflação”, apontam os economistas do banco suíço.

Nas próximas reuniões, a projeção é de que o BC eleve os juros também em 1,5 ponto em dezembro, 1 ponto em fevereiro de 2022, 0,75 ponto em março e 0,5 ponto em maio do ano que vem. Com isso, a taxa Selic iria para 9,25% ao final de 2021 e para 11,5% ao final de 2022.

As projeções para a inflação também foram revisadas. “Com a surpresa do IPCA-15 e o reajuste anunciado na segunda do preço dos combustíveis, estamos revisando nossa projeção para o IPCA de 9,1% para 9,8% para 2021. Para 2022, estamos revisando nossa projeção de 5,5% para 5,8% devido à maior expectativa de impacto da inércia inflacionária”, apontam.

O Citi também vê alta de 1,5 ponto nessa reunião e espera que o BC anuncie uma outra alta na mesma magnitude na reunião de política monetária de dezembro, com a taxa Selic devendo chegar aos 11% ao ano ao fim do atual ciclo de aperto, no ano que vem.

“As pressões inflacionárias continuam abundantes, tornando-se mais disseminadas e persistentes do que o pensado anteriormente”, apontou o banco.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.