Copom foi feliz e corajoso em determinar seu ritmo de cortes para “próximas reuniões”, diz Galípolo

Diretor do BC vê um cenário doméstico benigno para inflação e cenário internacional mais adverso, com juros nos EUA e guerra

Roberto de Lira

Diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo  (Paulo Bareta)
Diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo (Paulo Bareta)

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O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, destacou nesta terça-feira que a fotografia do momento está mostrando um cenário doméstico benigno na inflação, com política monetária ainda em estágio contracionista, mas que cenário internacional está mais  adverso. Com isso, ele acredita que o Copom foi muito feliz e corajoso em determinar um ritmo de cortes da Selic de 50 pontos-base “nas próximas reuniões” porque é máximo que é possível sinalizar daqui para a frente.

Com as incertezas ainda presentes, especialmente num momento no qual houve uma abertura na curvas de juros de longo prazo nos EUA e o conflito no Oriente Médio, o diretor do BC afirmou ser difícil traçar cenários de mais longo prazo. “Tentar se aventurar e cruzar essa linha pode ser bastante danoso para a política monetária”, afirmou, durante debate no 4º Summit do Sescon-SP.

Ele destacou que boa parte da mudança no cenário internacional está associada à abertura da curva dos treasuries norte-americanos, com impactos diferenciados. Alguns países, por exemplo, tem reduzido reservas em dólares por questões geopolíticas.

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Para o Brasil, embora seja possível observar desdobramentos no diferencial da taxa de juros, na demanda externa e no valor das commodities, o principal veículo que esse quadro traz é na taxa de câmbio.

Mas mesmo esses impactos não são fáceis de prever, disse Galípolo. “Se fosse possível receber a visita de viajante do tempo e ele dissesse que iria ter uma abertura da taxa de juros (nos EUA) e que ia ter guerra no Oriente Médio, eu erraria projeções para onde iria a taxa de câmbio e o preço do petróleo”, brincou.

Ele lembrou que várias economias estão sofrendo essas surpresas, com um momento de taxa de juros elevadas, um mercado de trabalho apertado e sucesso no combate à inflação. Galípolo também afirmou que há um debate internacional sobre os motivos dessas surpresas macroeconômicas. Parte disse, afirmou pode estar ligado a variáveis não observáveis, como hiato do produto, taxa de juros neutra e mudanças no PIB potencial. Também há mudanças no mercado de trabalho a serem consideradas.