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SÃO PAULO – Nesta quarta-feira (27), membros do governo estadual de São Paulo afirmaram que estudam a possibilidade de aumentar o intervalo entre a aplicação das duas doses da CoronaVac, vacina desenvolvida pela parceria entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac. O pedido será feito ainda hoje ao Ministério da Saúde, de acordo com João Doria (PSDB), governador de São Paulo.
A possibilidade de aumentar o intervalo entre a aplicação dos imunizantes foi confirmado por Jean Gorinchteyn, secretário da Saúde do governo de São Paulo, em entrevista dada ao canal televisivo GloboNews.
Segundo Gorinchteyn, estudos feitos com a CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantan e pelo laboratório chinês Sinovac, apontaram eficácia de 50,39% com intervalo de 14 dias. Com mais de 28 dias, de acordo com o secretário, os estudos indicaram que a eficácia pode subir para 70%.
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“Em relação à eficácia: quem recebeu as duas doses no intervalo de 14 dias foi de 50%. Em intervalo maior acelerou e elevou para 70%. Portanto, com um período mais estendido do que 28 dias, como acontece com outras vacinas (que fazem com intervalo de até dois meses), vamos elevando a capacidade desses anticorpos e tendem a produzir eficácia maior”, disse Gorinchteyn na entrevista à GloboNews.
“Esse nível de proteção, de anticorpos neutralizantes, poderiam ser mantidos por algumas semanas. Ninguém vai deixar um intervalo maior do que duas ou três semanas [após os 28 dias]”, completou o secretário.
O secretário ressaltou que o país tem um pequeno número de doses e ainda não terminou de vacinar seus profissionais de saúde. “Precisamos ter uma celeridade maior para vacinar os idosos, que correspondem a 77% das pessoas que morrem em decorrência da Covid-19”. A chegada de insumos liberados pela China em 3 de fevereiro permitiria honrar a segunda dose, segundo Gorinchteyn.
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Segundo uma pesquisa da própria Sinovac no Brasil, a vacina foi até 20% mais eficaz quando os voluntários recebiam a segunda dose com um intervalo de três semanas, no lugar de duas semanas. Mas a bula da CoronaVac mostra que essa segunda dose deve ser aplicada em até 28 dias. O prazo sugerido pelo governo estadual, portanto, de mais de 28 dias, extrapola o que está na bula. Ainda não há dados que comprovem a eficácia do medicamento em um intervalo muito diferente do que foi recomendado.
Importante ressaltar que a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) orienta para que seja seguido o que está previsto na bula. Conforme será detalhado abaixo, o InfoMoney fez uma reportagem recentemente mostrando que ainda não há estudos conclusivos sobre os efeitos da aplicação de uma única dose ou espaçamento maior entre a aplicação das doses. Mas cientistas citam estudos na literatura médica que já sinalizaram que a aplicação de uma dose apenas pode inclusive gerar maior resistência do vírus – além de aumentar a desconfiança da população sobre a eficácia da imunização.
Ainda há dúvidas sobre prazo da segunda dose
Apesar das declarações do secretário estadual de Saúde à GloboNews, não ficou claro qual será o prazo de espaçamento das doses. Ao fim da entrevista, Gorinchteyn disse que a definição do período para aplicação da segunda dose, assim como a confirmação sobre a decisão de prorrogá-la de fato, ainda dependem da autorização do Ministério da Saúde. De acordo com o secretário, o Instituto Butantan deve solicitar o espaçamento das doses à pasta em breve.
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“O Centro de Contingência sentou ontem [26] junto com os especialistas para fazer essa discussão. O Dimas Covas é um dos membros e acenou essa possibilidade. Nós da secretaria estamos aguardando o espaçamento colocado pelo fabricante. Dimas Covas representa o fabricante e, dentro de todo seu embasamento científico, colocou [o adiamento] como possibilidade, aguardamos que o Butantan se coloque de maneira formal, por escrito, que isso [adiamento do intervalo entre as doses] é possível. Aguardamos também que o Ministério da Saúde coloque isso por escrito. Por enquanto, é uma discussão”, disse Gorinchteyn.
O governo paulista também não deu nenhuma estimativa sobre a duração desse espaçamento maior entre as doses na coletiva de imprensa realizada no Palácio dos Bandeirantes no início da tarde. Ainda assim, Dimas Covas, diretor do Butantan, defendeu na coletiva que o prazo pode ser estendido “sem problema algum” por mais 15 dias. No próprio teste clínico da CoronaVac, alguns voluntários receberam a segunda dose até duas semanas após o prazo estipulado, disse o diretor.
Outra declaração nesse sentido foi dada mais cedo por Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo, e reforçada por outros secretários regionais. “O Centro de Contingência do estado discutiu recentemente a possibilidade técnica de adiar a segunda dose. Hoje, ela é prevista para ser feita em até 28 dias após a primeira dose. No entanto, do ponto de vista cientifico-biológico, é possível pensar que a segunda dose dada em data posterior aos 28 dias seja até mais eficaz do que a dada após 28 dias”, afirmou Menezes durante a mesma coletiva.
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Eduardo Ribeiro, secretário executivo da secretária estadual de Saúde, também afirmou que a alteração no cronograma de aplicação das doses só acontecerá se houver uma recomendação expressa do Ministério da Saúde, seguindo as diretrizes do Plano Nacional de Imunização (PNI), ou se “houver um respaldo técnico favorável a essa nova estratégia”. Ribeiro não detalhou quem emitiria esse respaldo técnico.
O secretário executivo ressaltou que o quantitativo de doses que o estado de São Paulo dispõe é insuficiente até mesmo para vacinar apenas os profissionais da saúde.
Também na coletiva, o governador João Doria afirmou que a solicitação para aumentar o prazo entre as doses será feita ao Ministério da Saúde ainda hoje (27).
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Intervalo maior é seguro?
A decisão de adiar a aplicação da segunda dose da vacina contra a Covid-19 proposta pelo Centro de Contingência já foi analisada em reportagem anterior do InfoMoney e entrou no radar de muitos países. O principal argumento a favor defende a quantidade de pessoas a mais que podem receber as vacinas nesses primeiros lotes.
Essa estratégia foi adotada pelo Reino Unido, que tem imunizantes produzidos pelos laboratórios Pfizer/BioNTech e AstraZeneca. O Reino Unido resolveu aplicar a segunda dose da vacina contra o coronavírus até 12 semanas após a primeira no lugar do intervalo mais curto recomendado pelos laboratórios e pela própria Organização Mundial de Saúde (OMS), que defende que a segunda aplicação da vacina pode ser aplicada até seis semanas após a primeira.
De acordo com a rede de televisão inglesa BBC, a AstraZeneca disse acreditar que uma dose de sua vacina oferece proteção após 12 semanas. Já a Pfizer diz que não testou a eficácia de seu imunizante após um intervalo tão longo. A Associação Médica Britânica pediu que Stephen Powis, diretor médico da serviço britânico de saúde NHS, “revise urgentemente” a política para a vacina da Pfizer. A instituição diz que há “uma preocupação crescente da classe médica em relação ao atraso da segunda dose do imunizante da Pfizer/BioNTech, visto que a estratégia do Reino Unido se tornou cada vez mais isolada de muitos outros países”.
Números da vacinação em SP
Ainda durante a coletiva, o governador João Doria atualizou os números referentes à vacinação no estado. A imunização contra Covid-19 teve início há 10 dias, com a vacinação da enfermeira Mônica Calazans no hospital Emílio Ribas, na capital do estado.
Desde então, segundo o governador, mais de 200 mil profissionais de saúde em São Paulo já receberam a CoronaVac. Os paulistas podem acompanhar em tempo real os números de vacinados no estado. Eles são atualizados no Vacinômetro, ferramenta digital desenvolvida em parceria com a Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp). O Vacinômetro está disponível no portal do Governo de São Paulo, e, até 13h38 desta quarta-feira, indicava 212.073 vacinados no estado.