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A carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) encerrou 2022 com forte crescimento pelo terceiro ano consecutivo, impulsionado pelas modalidades de custo mais elevado no segmento de pessoas físicas (PFs) e pelo capital de giro no segmento de pessoas jurídicas (PJs).
Porém com a política monetária mais restritiva, houve desaceleração a partir do segundo semestre do ano. A elevação da taxa Selic foi transmitida para os juros cobrados nas operações de crédito e isso gerou uma elevação na inadimplência do crédito livre, especialmente no segmento das famílias. O diagnóstico está no Relatório de Economia Bancária de 2022, divulgado nesta terça-feira (6) pelo Banco Central.
Segundo o relatório, a carteira de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) encerrou 2022 com forte crescimento pelo terceiro ano consecutivo. O saldo total dos empréstimos e financiamentos cresceu 14,0% no ano, alcançando R$5,3 trilhões.
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A relação crédito/Produto Interno Bruto (PIB) subiu 1,2 ponto percentual no ano, atingindo 53,8% em dezembro. A dinâmica do crédito teve características distintas em cada semestre. Na primeira metade de 2022, o crescimento do crédito no segmento de pessoas físicas manteve-se em ritmo elevado, atingindo variação equivalente a 17,7% anuais em junho, mesmo com a implementação da política monetária mais contracionista desde o início de 2021.
As modalidades de custo mais elevado foram as que mais contribuíram para o crescimento dos empréstimos às pessoas físicas, refletindo as mudanças na composição das concessões, com a ampliação da contratação das linhas de uso emergencial, como cartão de crédito rotativo e cheque especial.
No segmento de pessoas jurídicas com recursos livres, houve crescimento mais destacado nas operações de capital de giro, compensando o arrefecimento na carteira de desconto de recebíveis, principalmente o relacionado à antecipação de vendas de cartão de crédito.
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Já no segundo semestre de 2022, o ritmo de crescimento do crédito desacelerou, com o arrefecimento na evolução do crédito livre. A expansão do crédito livre às famílias diminuiu, refletindo a moderação no crescimento das operações de crédito pessoal não consignado e de cartão de crédito à vista.
No crédito livre às empresas, também houve moderação, ocorrida de forma disseminada entre as modalidades. “Contribuíram para esse arrefecimento a queda no nível da atividade econômica e a volta do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e do Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (Peac), programas de crédito direcionado que supriram parte da necessidade de recursos das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs)”, diz o texto do BC.
No balanço final de 2022, o estoque de crédito às pessoas físicas registrou acréscimo de 17,7% (ante 21,0% em 2021), com variações de 17,4% nas modalidades de crédito livre (destaque para o crédito consignado) e 18,0% no crédito direcionado (ressaltando-se tanto o crédito rural como os financiamentos imobiliários).
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No segmento de pessoas jurídicas, observou-se aumento no saldo de 9,0% (10,6% em 2021), com variação de 10,1% no crédito livre, ressaltando-se as modalidades de capital de giro, desconto de duplicatas e recebíveis e financiamento de veículos.
“O crédito direcionado avançou 6,9%, com crescimentos de 5,5% no saldo das operações do BNDES, 12,0% no do crédito rural e 5,0% na modalidade outros créditos direcionados, em que estão classificados os programas Pronampe e Peac.”
Juros
Mas a elevação da taxa Selic foi transmitida para os juros cobrados nas operações de crédito contratadas em 2022. A taxa média de juros dos novos contratos de crédito aumentou 5,5 p.p. ao longo do ano, atingindo 30,1% a.a. em dezembro. No crédito livre, a taxa média de juros encerrou o ano em 41,7% a.a., com aumento de 7,9 p.p. no período.
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Nas contratações das pessoas físicas, a taxa média das modalidades com recursos livres atingiu 55,4% a.a. em dezembro, com aumento de 10,4 p.p. em doze meses. O Relatório destaca-se, nesse segmento, o aumento acima da média nos juros cobrados na modalidade cartão de crédito rotativo (60,3 p.p.), evidenciando o peso da inadimplência na composição do custo da modalidade.
No segmento de pessoas jurídicas, a taxa livre alcançou 23,1% a.a. em dezembro, representando aumento de 3,4 p.p. no ano. A taxa na linha de cheque especial para as empresas, que não tem limite de taxa máxima como na linha voltada para as pessoas físicas, foi a que registrou o maior aumento no ano (22,4 p.p.)
Inadimplência
Em 2022, houve aumento na inadimplência do crédito concedido pelo SFN, principalmente no segmento de recursos livres. O índice de inadimplência nos empréstimos às famílias com recursos livres cresceu de forma mais acentuada no primeiro semestre, principalmente nas modalidades cartão de crédito rotativo e crédito pessoal não consignado.
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No segmento de pessoas jurídicas com recursos livres, verificou-se piora nos atrasos superiores a 90 dias no quarto trimestre, especialmente na modalidade capital de giro.
Dessa forma, a taxa de inadimplência do crédito bancário aumentou 0,7 p.p. no ano, alcançando 3,0% em dezembro, diz o relatório do BC. A inadimplência da carteira de crédito às pessoas jurídicas subiu 0,4 p.p., para 1,7%, com acréscimo de 0,6 p.p. no crédito livre e estabilidade no direcionado, enquanto a do crédito às pessoas físicas cresceu 0,9 p.p., atingindo 3,9%, com variação de 1,5 p.p. nas modalidades livres e também estabilidade nas direcionadas.