Dados macroeconômicos dos EUA ainda fortes reduzem o risco de recessão à frente, dizem analistas

Números da atividade e de auxílio desemprego apontam hoje para um crescimento moderado do PIB ao invés de uma retração

Roberto de Lira

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Dados macroeconômicos divulgados nesta quinta-feira (23) nos Estados Unidos ajudaram a reforçar a mensagem passada ontem pela ata do Fed de que a atividade continua aquecida e o mercado de trabalho permanece forte, mantendo pressões inflacionárias e justificando uma política monetária ainda restritiva por um período mais longo. Analistas consultados elo InfoMoney também afirmam que o risco de uma recessão americana começa a perder força.

Fabio Fares, especialista em análise macro da Quantzed, afirmou que a ligeira revisão para baixo do crescimento do PIB no 4° trimestre, de 2,9% (na primeira estimativa) para 2,7%, não trouxe muita novidade, deixou o mercado mais animado. “Alguns players já pensam que EUA podem inverter cenário de recessão se apoiando no mercado de trabalho”, comentou.

Sobre a ata de ontem, Fares destacou que o discurso da autoridade monetária continua firme e forte, deixando claro que alguns membros do Fomc queriam subir mais os juros porque estão percebendo uma demora em relação ao controle da inflação.

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“Minha percepção é que o mercado começou a cair na real de que o FED está falando sério e que vai demorar muito ainda para os juros caírem. Os juros vão continuar subindo por mais duas ou três reuniões. O erro foi atacar a inflação em doses homeopáticas e agora a inflação só deve voltar para a meta em 2025. Ou seja, são dois anos de inflação e juros altos, alertou.

De fato, além da revisão do PIB, Bureau of Economic Analysis apontou hoje que o índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE) aumentou 3,7%, uma revisão em alta de 0,5 ponto porcentual ante o dado anterior.

E o núcleo do PCE, que exclui as variações de preços de alimentos e energia chegou a 4,3%, uma revisão para cima de 0,4 ponto percentual.

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Para Angelo Polydoro, economista da ASA Investments, o fechamento muito forte do PIB no quarto trimestre muito forte mostrou que, sob várias lentes, a economia americana está indo muito bem. Isso se junta dados de pedidos de auxílio-desemprego bastante baixo, uma indicação que o mercado de trabalho continua aquecido.

Polydoro destacou o comentário exposto na ata do Fed ontem, de que alguns diretores acreditam que talvez a economia não tenha recessão em 2023.

“A gente sabe que com um aumento de juro muito grande num curto espaço de tempo, a chance de estourar alguma bolha de vulnerabilidade na economia americana existe. Mas vejo esses indicadores como uma resiliência da economia. Talvez seja um crescimento mais baixo, mas não vai precisar de recessão”, afirmou.

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Já André Kitahara, gestor de portfólio macro da AZ Quest, destacou na divulgação do PIB a revisão na parte de demanda, em especial no consumo de bens duráveis, além de uma revisão para cima nos investimentos das empresas.

“Olhando só esse dado é uma combinação que deveria ser boa para a inflação, uma surpresa para baixo na margem de consumo e uma surpresa para cima no investimento, o que sugere uma oferta agregada um pouco mais robusta à frente. Essa combinação seria bem-vista para quem está esperando que a inflação caia”, disse.

Sobre o seguro-desemprego, Kitahara afirmou que o dado vem numa toada parecida há várias semanas. “Número baixos sugerem um mercado de trabalho bastante apertado ainda”, alertou.

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Carlos Lopes, economista do BV, afirmou que  conjunto de indicadores divulgado hoje reforça a comunicação do Fed de que está se caminhando para uma taxa terminal (o ponto máximo ante da interrupção do ciclo alta) um pouco mais alta do que a imaginada antes e que também que ela deve permanecer elevada por mais tempo que o previsto.

Lopes destacou que os pedidos de seguro-desemprego ainda estão num nível muito baixo, mostrando um mercado de trabalho apertado. “Mesmo com a desaceleração da atividade econômica, as empresas têm sido relutantes em demitir, talvez pelas dificuldade de contratar que tiveram ao longo de toda a pandemia”, comentou.

O dado do PIB, mesmo revisado para baixo, também aponta que a desaceleração da economia não está sendo grande o suficiente para afetar de forma drástica tanto o mercado de trabalho como a inflação, disse Lopes.

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“A inflação tem se mostrado ais persistente do que o imaginado antes pelo Fed. Por isso esse viés mais “hawk” na comunicação”, afirmou o economista, para quem os dados conversam com a decisão do Fed de se mostrar dependente de dados para tomar decisões.

Para Francisco Nobre, economista da XP, o dado semanal do seguro- desemprego veio um pouco abaixo do esperado hoje e os números continuam baixos, reforçando que o mercado de trabalho segue aquecido.