Davos: Historiador Niall Ferguson diz que tese de desglobalização é “miragem”

Autor do livro 'Ascensão do Dinheiro' diz em debate que sequência de eventos macroeconômicos é apenas história acontecendo

Roberto de Lira

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O historiador Niall Ferguson afirmou nesta terça-feira no Fórum Econômico Mundial em Davos que a ideia de que existe uma grande tendência internacional para reverter a globalização é uma “miragem” que não é corroborada pelos dados, de acordo com reportagens da CNBC e do The Washington Post.

O historiador de 58 anos, hoje pesquisador das universidades de Stanford e Harvard, nos Estados Unidos, admite que alguns indicadores, como a redução relativa do comércio internacional em relação à produção industrial mundial, a queda dos fluxos de capitais e o predomínio do EUA como uma força cultural podem sugerir que a globalização atingiu o pico por volta de 2007.

Mas Ferguson argumenta num painel que discutia exatamente se o mundo passada hoje por uma desglobalização que há vários exemplos contrários à tese. Ele se referiu ao forte comércio em algumas zonas do mapa mundial, como o entre a União Europeia e os EUA, mas especialmente à “a contínua globalização dos serviços”.

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“Muito do que parece ser um pico na globalização seguido por um platô ou declínio tem a ver com movimentos de preços. Uma enorme distorção é criada pelo superciclo de commodities, que atingiu o pico em 2010-2011, e isso elevou os números”, explicou o historiador e autor do livro “A Ascensão do Dinheiro”.

“Tudo é uma miragem. Não há uma grande desglobalização acontecendo”, concluiu.

Ele disse no debate que não gosta muito da palavra “policrises” que vem sendo muito utilizada por especialistas para se referir ao atual momento das relações internacionais.

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“Isso é apenas história acontecendo. Você tem coisas que não são tão perceptíveis, a convergência econômica, a mudança tecnológica, que obviamente iriam alterar a forma como a economia global funcionava. Teve uma crise financeira em 2008-20099, uma reação protecionista e populista de 2016 a 2019, depois teve a ‘Guerra Fria II’ em 2018 entre os EUA e a China, uma pandemia e depois uma guerra na Europa Oriental. Seria surpreendente se essa série de eventos não tivesse produzido mudanças estruturais na economia mundial”, disse Ferguson.

Ele mencionou que os iPhones continuam a ser projetados na Califórnia e montados na China, embora mais tarde em sua apresentação tenha dito que uma “nova guerra fria” entre a China e os EUA pode levar a uma ruptura entre fabricantes de hardware e software.