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Bloomberg — Os proeminentes economistas Lawrence ‘Larry’ Summers e Mohamed El-Erian engrossaram o coro de críticas à decisão da Fitch Ratings de rebaixar a nota de crédito dos Estados Unidos, argumentando com o que apontaram como resiliência da maior economia do mundo.
Para o ex-secretário do Tesouro Summers, embora existam motivos para preocupação com a trajetória de longo prazo do déficit dos EUA, a capacidade do país de honrar suas dívidas não está em dúvida.
El-Erian, consultor econômico chefe da Allianz SE e colunista do Bloomberg Opinion, disse que o rebaixamento foi “um movimento estranho” que provavelmente não terá impacto sobre os mercados.
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“A ideia de que isso está criando o risco de inadimplência nos títulos do Tesouro dos EUA é absurda e não acho que a Fitch tenha qualquer percepção nova e útil sobre a situação”, disse Summers em uma entrevista por telefone. “Os dados dos últimos meses mostram que a economia está mais forte do que as pessoas pensavam, o que é bom para a qualidade de crédito da dívida dos EUA.”
“Não consigo imaginar que algum analista de crédito sério vá dar importância a isso”, disse Summers, professor da Universidade de Harvard e colaborador pago da Bloomberg TV.
“Os Estados Unidos enfrentam sérios desafios fiscais de longo prazo”, disse o ex-secretário do Tesouro em uma postagem nas redes sociais. “Mas a decisão de uma agência de classificação de crédito hoje, quando a economia parece mais forte do que o esperado, de rebaixar os Estados Unidos é bizarra e inepta.”
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Choques econômicos
A Fitch cortou sua classificação dos EUA em um degrau, passando de AAA para AA+, afirmando que os cortes de impostos e as novas iniciativas de gastos, juntamente com uma série de choques econômicos, aumentaram os déficits orçamentários. A medida segue a decisão da S&P Global Ratings de rebaixar os EUA de seu nível mais alto em 2011, e deixa a Moody’s Investors Service como a única das principais agências de classificação a manter o país em seu nível de crédito mais alto.
“O rebaixamento da classificação dos Estados Unidos reflete a deterioração fiscal esperada para os próximos três anos, um ônus elevado e crescente da dívida do governo geral e a erosão da governança em relação aos pares com classificação ‘AA’ e ‘AAA’ nas últimas duas décadas”, disse a Fitch em um comunicado.
Essa erosão na governança “tem se manifestado em repetidos impasses sobre o limite da dívida e resoluções de última hora”, disse a empresa de classificação de risco.
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Mesmo com o acordo bipartidário para suspender o teto da dívida dos EUA, alcançado no início de junho, houve uma deterioração constante dos padrões de governança em questões fiscais e de dívida nos últimos 20 anos e um progresso limitado no tratamento dos custos crescentes do bem-estar social, escreveram os analistas da Fitch.
O ônus da dívida dos EUA chegará a 118% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2025 – mais de duas vezes e meia acima da mediana ‘AAA’ de 39%, de acordo com a Fitch, que projeta que a relação dívida/PIB aumentará ainda mais no longo prazo, aumentando a vulnerabilidade dos EUA a futuros choques econômicos.
O déficit federal atingiu US$ 1,39 trilhão nos primeiros nove meses do atual ano fiscal, um aumento de cerca de 170% em relação ao mesmo período do ano anterior.
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Esse aumento deveu-se, em parte, ao aumento das taxas de juros, à medida que o Federal Reserve aperta a política monetária, com o custo do serviço da dívida do governo dos EUA saltando 25%, atingindo o valor mais alto em 11 anos, de US$ 652 bilhões.
Na segunda-feira, o Departamento do Tesouro aumentou sua previsão de empréstimos no trimestre de julho a setembro para US$ 1 trilhão, mais do que alguns analistas esperavam e bem acima dos US$ 733 bilhões previstos no início de maio.
“Perplexos”
“É provável que a grande maioria dos economistas e analistas de mercado que analisam essa questão fique igualmente perplexa com os motivos citados e com o momento”, escreveu El-Erian em uma publicação no Twitter, a plataforma de mídia social que está sendo renomeada para X.
“É muito mais provável que esse anúncio seja descartado do que tenha um impacto perturbador duradouro na economia e nos mercados dos EUA.”
A reação imediata dos mercados financeiros na Ásia foi relativamente discreta. Pouco antes, os prêmios dos títulos do Tesouro caíam ligeiramente, perto da estabilidade, com os investidores ainda posicionados nos bônus da maior economia do mundo como um refúgio.
O dólar subia em relação à maioria de seus principais pares, enquanto os futuros de ações dos EUA caíam.
“Completamente absurdo”
“A Fitch rebaixa o rating dos EUA, uma decisão ampla e corretamente ridicularizada; não faz sentido nem mesmo com base em seus próprios critérios declarados”, publicou no Twitter o laureado com o Prêmio Nobel e colunista do New York Times, Paul Krugman.
“Certamente há uma história por trás disso – mas seja qual for, é uma história sobre a Fitch, não sobre a solvência dos EUA”, disse ele.
A decisão da Fitch foi “completamente absurda”, disse Jason Furman, professor de economia da Universidade de Harvard e ex-conselheiro econômico do presidente Barack Obama.
“Os Estados Unidos estão tão bem dentro da zona AAA que pequenas mudanças em qualquer um desses aspectos não deveriam importar”, escreveu Furman em um post no Twitter, referindo-se a melhorias nos critérios-chave da Fitch, como desempenho macroeconômico e a relação dívida/PIB dos EUA.
Ao abordar as críticas, James McCormack, chefe global de classificações soberanas e supranacionais da Fitch Ratings, disse que o rebaixamento se baseou na perspectiva fiscal de médio prazo para os EUA, “que é caracterizada pelo aumento dos déficits e da dívida pública”, em vez de previsões de uma possível recessão, escreveu ele em uma resposta por e-mail a perguntas.
“Em nossa opinião, as métricas fiscais dos EUA serão comparadas de forma menos favorável com seus pares de classificação no período futuro, e não estamos confiantes nas medidas políticas que estão sendo acordadas e implementadas para lidar com a deterioração fiscal”, escreveu McCormack.