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A desaceleração do crescimento do crescimento econômico dos Estados Unidos, confirmada nesta quinta-feira (27) pela divulgação que o PIB do 1° trimestre – que avançou apenas 1,1%, ante uma projeção de 2,0% – acendeu alertas sobre a proximidade de recessão no país segundo alguns analistas.
Mas o diagnóstico é que o ainda aquecido consumo interno, motivado tanto pela renda mais alta como pelo emprego, ainda devem exigir a manutenção da política restritiva do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que se reúne na semana que vem para decidir sobre a taxa de juros.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, destaca que o PIB do trimestre inicial de 2023 divulgado hoje foi inferior tanto em relação à expectativa de mercado como ante o dado do último trimestre do ano anterior, quando a economia cresceu 2,6%.
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Entre os principais pontos da divulgação, Pizzani cita crescimento do consumo das famílias tanto no setor de bens industriais, impulsionado pelos segmentos de veículos novos e seminovos e peças automotivas, quanto nos serviços, onde as maiores altas foram registradas nas áreas de cuidados pessoais e serviços de alimentação e acomodação.
No lado oposto, o economista menciona a queda do investimento privado em formação de estoques, liderado especialmente pelo setor de vendas de máquinas e equipamentos industriais. “O setor de habitação, especialmente o de moradias individuais, também apresentou performance bem baixo do esperado”, lembra.
Já com relação ao desempenho das variáveis relacionadas ao setor externo, as importações, que contabilmente são negativas para o cálculo do PIB, foram impulsionadas pelas aquisições de bens industriais, especialmente no caso dos bens de consumo duráveis, com foco na indústria automobilística.
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Segundo Pizzani, essa fotografia reforça a visão sobre a situação ainda delicada enfrentada pela economia dos EUA, cujo baixo crescimento atual, “de caráter inflacionário”, apoia-se em segmentos que foram afetados expressivamente pela retomada das atividades presenciais após o período mais agudo da pandemia.
“Contrastando com o crescimento cada vez mais fraco, o nível de inflação segue se mostrando resiliente, avançando concomitantemente ao crescimento da renda dos trabalhadores do país. Esta combinação deixa evidente que as apostas atuais do mercado de uma guinada gradual do Fed para um postura mais ‘dovish’ se mostram equivocadas”, comenta o economista da CM Capital.
Para ele, mesmo considerando a defasagem dos efeitos da política monetária, uma alteração desta natureza deveria encontrar reflexo em melhorias mais evidentes da trajetória de preços e salários, algo que ainda não verificável na economia norte-americana não só pelo resultado do PIB do primeiro trimestre, como também por outros indicadores e métricas de acompanhamento dos indicadores supracitados.
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“A perspectiva é que o comitê de política monetária (Fomc) siga com sua postura mais restritiva ao longo deste ano, o que inclui ao menos um reajuste adicional na próxima reunião do grupo, além de sustentar tal taxa por período prolongado o suficiente para desaquecer a economia ao ponto de gerar uma reversão da trajetória de crescimento de preços e salários nominais”, prevê.
Recessão mais próxima
Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad, afirma que a desaceleração econômica confirmada hoje pode ser atribuída, em parte, às nove elevações consecutivas de juros pelo Fed – que saíram do intervalo de 0% a0,25% para 4,75% a 5% – visando controlar a alta da inflação nos últimos dois anos.
Pereira cita que a probabilidade de recessão nos EUA para os próximos 12 meses está hoje em 65%, de acordo com pesquisas com economistas. “Apesar dessa situação ser preocupante, o mercado de trabalho ainda apresenta níveis historicamente baixos de desemprego, em torno de 3,5%, o que contribui para a expectativa de pelo menos mais uma elevação de juros nos EUA a ser anunciada na primeira semana de maio”, alerta.
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Ele lembra que a inflação americana fechou o ano de 2022 em 6,3% e que a expectativa para esse ano é de 3,9%, ambos acima da meta de 2% perseguida pelo Fed. “Para controlar a inflação, é inevitável que haja um menor crescimento da economia no país”, comenta.
O diretor da Nomad destaca que esse cenário se reflete na bolsa também. “O investidor está se movendo para a segurança da renda fixa com prazos curtos de vencimento, em oposição a apostar na apreciação de mercado de ações, que está estagnado”, diz.
Ele cita como exemplo, o fato de o S&P 500 (índice com as 500 maiores empresas americanas listadas na bolsa) ter subido em 2023 cerca de 5,6%, após uma queda de 19.4% em 2022.
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Francisco Nobre, economista da XP, também destaca que o dado do PIB no 1° trimestre trouxe como marca a desaceleração ante o final de 2022.
No entanto, ao analisar os dados desagregados, ele observa que aconteceram expansões nas despesas de consumo pessoal (+3,70%) e nas despesas do governo (+4,69%). Além disso, o aumento das exportações (+4,81%) mais do que compensou o aumento das importações (+2,94%).
“Em contraste, observou-se uma grande contração do investimento privado (-12,47%). Este movimento foi inteiramente impulsionado por uma queda acima do esperado no investimento em estoques”, cita.
Para ele, daqui para frente a economia dos EUA deve continuar desacelerando, em meio a condições financeiras apertadas. “Os dados recentes são consistentes com nosso cenário básico de uma recessão leve este ano. Para o ano de 2023, projetamos uma expansão do PIB de 0,5%”, estima Nobre. A previsão é que o PIB dos EUA contraia em 3,4% no segundo trimestre e em 2,3% no terceiro trimestre, em bases anuais, o que vai significar uma recessão técnica.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, classifica a desaceleração do crescimento da economia americana como uma boa notícia para o Fed, apesar da alta da inflação ao consumidor observada. Isso considerando que a política monetária está hoje em patamar mais restritivo e deve continuar impactando a demanda à frente contribuindo para a desaceleração do consumo e consequentemente da inflação.
Inflação do consumo
Andressa Durão, economista da ASA Investments, também observa que, apesar de um crescimento mais fraco no 1° trimestre, o consumo americano se mostra ainda bastante resiliente, trazendo maior contribuição positiva, embora deva desacelerar ao longo do ano, refletindo o aperto monetário.
“O PCE (inflação do consumo) do primeiro trimestre veio acima do esperado pelo mercado e, junto com um número mais baixo de pedidos de seguro-desemprego, levou a uma abertura dos juros. Os dados de mercado de trabalho sugerem que a economia americana está distante de uma recessão, que pode ocorrer no fim do ano ou no ano que vem”, comenta.
Para Andressa, os dados de hoje apoiam uma alta de 25 pontos-base dos juros na decisão do Fed da semana que vem.
Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, também faz a ponderação entre o crescimento mais moderado do PIB com a forte alta do consumo, em um cenário de mercado de trabalho aquecido. “O que puxou o indicador para baixo foi o ajuste de estoques das empresas”, analisa
É justamente a resiliência do mercado de trabalho que faz a análise da economista do C6 Bank destoar dos demais analistas quanto à atividade econômica. “Acreditamos que o crescimento da economia americana ficará abaixo do potencial este ano, mas não deve haver recessão”, comenta.
Para ela, o mercado de trabalho seguirá aquecido nos próximos meses, pressionando a inflação e obrigando o Fed a seguir com mais um aumento de 25 pontos-base na reunião de maio.
Como o núcleo da inflação em 12 meses ainda acumula uma alta de 4,6% em fevereiro, pelo núcleo do índice de gastos com consumo (que excluindo alimentos e energia do PCE), portanto bem acima da meta de 2%, a economista diz não prever cortes nos juros até meados de 2024.
“Reconhecemos, no entanto, que o início do corte de juros pelo Fed pode ser antecipado caso haja um aperto de crédito decorrente do colapso de alguns bancos regionais nos EUA”, pondera.
Pra Rodrigo Cohen, analista e co-fundador da Escola de Investimentos, no entanto, com o PIB abaixo do esperado, e com dados bons do PCE, que vão sair amanhã, é possível esperar que os juros deixem de subir nos EUA a partir de junho.