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As principais economias América Latina estão em trajetória de recuperação desde a forte queda observada durante o início da pandemia na primeira metade de 2020 – a maior parte delas recuperou ainda no ano passado o nível de atividade pré-pandêmico – mas já começam a mostrar sinais de desaceleração. A avaliação está no mais recente relatório XP Macro sobre a região.
Segundo o estudo, a atividade nesses países ainda recebe impulso de políticas monetárias e fiscais expansionistas, processo que também se beneficia da alta nos preços das comodities. Mas com a inflação ainda resistente e a resposta dos bancos centrais de subir as taxas de juros, a economia da América Latina também deve desacelerar nos próximos meses.
O texto aponta que dados do PIB referentes ao terceiro trimestre deste ano já sugerem essa tendência. Pelas projeções da XP, a economia do Brasil deve crescer 2,8% neste ano, ante 4,6% em 2021, enquanto o PIB mexicano deve fechar o ano com alta de 2,5%, ante os 4,8% de crescimento do ano passado.
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O comportamento é similar na Colômbia (crescimento de 10% em 2021 e de 8% em 2022), no Chile (alta de 11,7% e 2,1%, respectivamente) e na Argentina (+10,3% e 4,0%).
Em todos os casos, o crescimento projetado para 2023 será ainda menor: Brasil (+1%), México (+1,5%), Colômbia (+1,5%), Chile (-0,9%) e Argentina (+2%).
Essa intensidade diversificada nos processos de desaceleração estão relacionadas com as dinâmicas das economias de cada país, afirma Francisco Nobre, um dos economistas da XP que assinam o relatório. “Os barcos estão andando na mesma direção, mas cada um está em momentos diferentes”, comparou.
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Juros e inflação
Um exemplo dessas diferenças de momento é sobre a política de juros dos bancos centrais. Brasil e Chile, por exemplo, sinalizaram uma pausa na alta de suas taxas básicas. Mas o delta, ou seja, a diferença de juros no caso chileno foi muito intensa (a taxa subiu de 0,5% para 11,25% no atual ciclo). Enquanto isso, Colômbia e México estão próximos de atingir a taxa terminal (a que encerrará o ciclo contracionistas).
Na Argentina, por sua vez, há um problema estrutural na economia, destacou Nobre, e a inflação está muito mais aguda: a variação anual saltou de 83,0%, em setembro, para 88,0% em outubro, a maior nível dos últimos 30 anos.
Já inflação desses países ainda vai demorar para convergir às metas dos Bancos Centrais (por volta de 3% ao ano). Para Nobre, embora a desinflação tenha começado em alguns países, esse processo vai ser lento. “Mais para 2024”, previu.
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Riscos políticos
Aos riscos macroeconômicos, os países da América Latina acrescentam fatores políticos à conta. Na Colômbia, Gustavo Petro foi eleito como primeiro presidente com viés de esquerda, o que elevou as incertezas no campo fiscal, o que pode interferir na política do BC. O quadro é similar ao brasileiro, onde a equipe de transição de Luiz Ignácio Lula da Silva tenta negociar uma ampliação de gastos em 2023.
No Chile, o também esquerdista Gabriel Boric enfrenta altos índices de rejeição, o que provocou a rejeição de sua proposta para uma nova Constituição em setembro. E a Argentina, às voltas com a renegociação de sua dívida, terá eleições presidenciais no ano que vem.
Nesse campo, só o México está mais tranquilo, segundo Nobre, porque o mandato do presidente López Obrador só se encerra em 2024 – e ele tem bons índices de aprovação junto à população.
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Maiores economias
Com momentos diferentes, o comportamento da região também é verificado nas grandes economias globais. Ou seja, a inflação permanece em níveis elevados em todo o mundo, mas há sinais de descompressão, com preços mais baixos das commodities e a normalização das cadeias de suprimentos contribuindo para um alívio nas pressões sobre os preços.
Mas as condições financeiras mais apertadas e os riscos geopolíticos persistentes devem enfraquecer consideravelmente as maiores economias em 2023. A previsão é que os Estados Unidos entrarão em terreno de recessão moderada em 2023, refletindo os efeitos defasados da política monetária.
Para a Europa, a previsão é pior, analisou Nobre. “Deve entrar em recessão mãos profunda. A situação é mais complicada pela proximidade geográfica com a Rússia e a inflação de energia e alimentos muito alta”, disse.
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Embora ainda persistam dívidas sobre o impacto das políticas de covid zero no país, o economista da XP vê a China na “mão oposta” dos demais mercados, mas inflação controlada, juros mais baixos e política expansionista adotada pelo governo.