Indicadores de atividade de abril devem ficar entre moderados e fracos, dizem analistas

Vendas no varejo, volume de serviços e IBC-Br devem mostrar influência negativa da política monetária restritiva

Roberto de Lira

(Getty Images)
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Os importantes dados referentes a abril que serão conhecido nesta semana – o IBGE divulga nesta quarta-feira (14) a Pesquisa Mensal de Comércio e na quinta-feira (15) a Pesquisa Mensal de Serviços e o Banco Central tornará público o IBB-Br na sexta-feira (16) – servirão como fotografia da atividade econômica no segundo trimestre, após um início de ano aquecido. Os analistas esperam indicadores entre moderados e fracos, tanto pela base de comparação anterior forte como pelos efeitos cada vez mais claros da política monetária sobre a atividade.

Yihao Lin, economista da Genial Investimentos, afirma que suas projeções apontam para um cenário de cenário de desaceleração da economia brasileira, que deve permanecer nos próximos trimestres.

“Após um mês de março favorável para a atividade econômica, com uma forte expansão tanto do varejo como dos serviços, nossas projeções indicam uma reversão desse desempenho, ainda que parcial, refletindo os vetores contrários que a gente enxerga na economia brasileira atualmente”, comentou.

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Entre esses fatores ele citou em primeiro lugar o mercado de crédito, fortemente afetado pela política monetária contracionista do Banco Central, que eleva o custo de acesso e ainda contribui para deteriorar o perfil de endividamento das famílias.

“A gente enxerga uma relação inversa entre o comprometimento da renda familiar com o serviço da dívida e consumo das famílias. Esse comprometimento da renda se encontra em patamar historicamente elevado. Isso nos leva a projetar nos próximos trimestres a manutenção da desaceleração do consumo. E vai continuar batendo no varejo e no setor de serviços”, previu.

Outro ponto de atenção citado pelo economista da Genial é o mercado de trabalho, que ele classifica como “artificialmente apertado”. Embora a taxa de desemprego divulgada pela PNAD se sustente num patamar historicamente baixo, surpreendendo o mercado, ele alertou que a queda na taxa de participação dá um entendimento de que o mercado de trabalho se encontra mais aquecido do que de fato ele está. Ele afirma ainda que o crescimento da massa de rendimento habitual vem sendo afetado pela queda na ocupação e isso também é um fator adicional que tende a penalizar o consumo das famílias nos próximos trimestres.

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A perda e apetite por consumo pelas famílias, segundo Lin, já foi observada na divulgação do PIB do 1º trimestre no início deste mês. A gente viu um dado relativamente fraco de consumo das famílias, que permaneceu numa trajetória de desaceleração. Além disso teve forte queda nos investimentos, o que nos dá a confiança de que os próximos trimestre vão ser de fato marcados por uma desaceleração da economia”, comentou.

Lin lembrou que o componente de serviços prestados às famílias já vem em território de contração nas últimas leituras da PMS. E o varejo também deve trazer alguma reversão em abril, após o forte dado de março.

Combinando as contrações entre varejo, serviços e indústria (que o IBGE já divulgou ter recuado 0,6% no mês), Lin prevê uma retração de 0,34% do IBC-Br na comparação mensal.

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A Genial Investimentos, como outras casas, revisou para cima sua projeção para o PIB em 2023, de 0,8% para 1,7%. Mas Lin fez a ressalva que a estimativa está abaixo do carrego estatístico de 2,4%, exatamente pelos vetores de desaceleração, que vão acabar penalizando o consumo das famílias ao longo do ano.

Resiliência

Rodolfo Margato, economista da XP, também vê para o varejo em abril uma devolução parcial da surpresa de alta do mês anterior. A projeção para as vendas no varejo restrito são de uma alta de 0,4% na comparação mensal e de 1,0% ante abril de 2022.

Para o varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, material de construção e o atacarejo, é prevista uma queda de 1,6% em abril ante março e uma alta de 2,8% sobre o mesmo mês do ano passado.

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Já para a PMS, é esperado um crescimento de 0,1% na atividade no mês e uma alta de 5,1% na comparação anual.

Essas projeções apontam para um crescimento adicional da atividade no segundo trimestre, porém a um ritmo bem mais moderado do que observado no início do ano. “O 1° trimestre refletiu em grande medida o choque positivo da agropecuária, especialmente a produção de grãos, tendo a soja como protagonista. Tem uma contribuição novamente do Agro no 2° trimestre, só que com ímpeto menor”, avaliou.

A estimativa da XP para o segundo trimestre é de uma elevação do PIB próxima a 0,5% ante o trimestre anterior e um pouco acima de 2,5% na comparação com o segundo trimestre de 2022. “Um crescimento adicional na margem, mas perdendo força em relação ao trimestre anterior, que veio bem acima do que o imaginado a princípio. Essa é a mensagem principal, considerando todos esses indicadores desta semana”, afirmou.

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Para o IBC-Br, que sai na sexta-feira, a previsão é de alta de 0,3% no mês e de 3,5% na comparação anualizada. Após a revisão mais recente, a projeção para o PIB de 2023 subiu de 1,4% para 2,2%, um pouco acima do consenso de mercado atual.

Margato diz ter uma visão um pouco mais construtiva em relação às expectativas de consumo para o ano. “Do lado do consumo, a gente vê resiliência. Isso reflete o mercado de trabalho ainda sólido, com geração positiva em termos líquidos de empregos mês a mês e uma recomposição de salários em termos reais”, afirmou.

Além da maior solidez do mercado de trabalho, ele citou ainda o volume de transferências diretas de renda para as famílias mais pobres, com a ampliação do Bolsa Família, o que eleva a renda disponível dos consumidores aumenta.

Para completar, há alguns sinais de alívio na inflação de curto prazo, especialmente em alimentos, energia e bens industrializados. “Esse cenário explica a resiliência do consumo das famílias. Teve crescimento no 1° trimestre e deve ter crescimento nos trimestre seguintes, ainda que com desaceleração suave ao longo de 2023”, ponderou.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, por sua vez, projeta uma leve alta de 0,4% nas vedas do varejo restrito em abril e uma retração perto de 2% no varejo ampliado. No primeiro caso, o indicador recebeu impacto positivo de supermercados, que tem peso de mais de 50% nesse índice.

Mas no varejo ampliado, as vendas de veículos deve ajudar na retração. Ela também lembrou que o atacado de alimentos deve contribuir para esse resultado fraco no mês porque veio de uma expansão muito forte em março.

Para a PMS, a estimativa do C6 Bank é de uma leve alta de 0,4%. “Tem uma expansão nos serviços de comunicação e informação, de outros serviços e de serviços profissionais administrativos e complementares, com uma leve retração do item de serviços prestados às famílias, lembrando que ele tem um peso relevante no PIB”, afirmou..

Claudia acredita que o consumo interno mais fraco observado no PIB do 1º trimestre deve continuar. “A gente está vendo os efeitos dos juros elevados, que já estão há algum tempo exercendo efeitos sobre a economia. Tem também o mundo que não está crescendo tanto e a questão da queda dos preços das commodities. Isso tudo acaba influenciando para uma atividade mais fraca e essa é a tendência”, disse.

Ariane Benedito, economista da Esh Capital, no entanto, afirma que, apesar desse aperto monetário ainda em patamar restritivo, os dados de serviços e de varejo tem se mostrado resilientes. “Isso se dá principalmente pelos estímulos a renda e o mercado de trabalho ainda aquecido”, destacou.

Entre os fatores que contribuem para um cenário de continuidade positiva desses setores, ele listou os reajustes nos rendimentos dos servidores públicos federais, a antecipação do abono salarial a partir de maio, o aumento do salário-mínimo e a estabilidade do mercado de trabalho, com o crescimento maior do que o projetado incialmente. Para as pesquisas de comércio e de serviços do IBGE, ela projeta crescimento anual de 1,1%, e 0,6% respectivamente.

Para as próximas medições, a economista diz que o ambiente econômico se tornará mais favorável para esses setores, com o possível início de cortes da Selic em agosto. “Para atividade de forma geral, acreditamos que o advento da surpresa positiva do Agronegócio no primeiro trimestre de 2023 não será capaz de manter a magnitude de alta para os trimestres subsequentes, dissipando o resultado forte de crescimento no ano. Entretanto o primeiro resultado do PIB criou um carrego estatístico para o indicador que elevaram as projeções. Esperamos uma leitura final de crescimento brasileiro em 2%.”

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, prevê que os dados do varejo em abril devem vir mais fracos que o esperado, em relação ao mesmo período de 2022.

Ele projeta que a maioria dos segmentos terá resultado negativo, como no setor de livros, jornais, revistas e papelarias, assim como tecidos, vestuário e calçados, móveis e eletrodomésticos, estes último com recuo significativo. “Tudo isso influenciado também pelos feriados em abril, o que tira o consumidor dos grandes centros e redireciona o orçamento deles para viagens e lazer, o que deve resultar em um mês mais fraco para o varejo”, explicou.

Em contrapartida, a pesquisa PMS deve vir em linha com os meses anteriores de fevereiro e março, quando cresceu 0,9% em cada, impulsionado exatamente pelas viagens e pelo consumo nos períodos dos feriados de abril.

“O dado pode até surpreender positivamente em um movimento claro do fenômeno do pós-pandemia. O setor de serviços ainda conta com a demanda represada de consumo, que está se materializando agora. E como muitas pessoas resolveram empreender e o setor de serviços é o mais acessível, isso ajuda a manter o setor aquecido”, afirmou.

Embora não faça projeção para o IBC-Br, Alves diz que, com a expectativa de baixa da taxa Selic no segundo semestre, é possível pressupor que haja um aumento do indicador do Banco Central. “Porém, não deve ser tão acentuado como no semestre anterior, exatamente pelo primeiro trimestre ainda fazer parte do período de recuperação deste indicador”, disse. “Logo, uma leve alta é esperada para o IBC-Br, aumentando a expectativa futura do PIB.”

Desaceleração

Essa visão mais positiva não é compartilhada por Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter. Ela comentou que deve haver uma desaceleração do crescimento tanto do varejo como de serviços e que a variação do IBC-Br deve ficar próxima de zero ou até ligeiramente negativa em abril.

“O impacto da restrição do crédito e juros altos deve continuar afetando o consumo e os efeitos do aumento da renda que observamos no início do ano, com aumento do salário-mínimo e do bolsa família, tendem a ter menor impacto”, ponderou.

Para ela, apesar do PIB mais alto no 1º trimestre, o consumo cresceu apenas 0,2% e já dava sinais de desaceleração em relação aos trimestres anteriores. “A queda da inflação entre maio e junho pode contribuir para uma performance melhor do consumo no trimestre, mas nossa expectativa é de uma estabilidade na margem em relação ao 1º trimestre”, disse.

Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital também disse ver uma continuidade do quadro observado na divulgação do PIB do 1º trimestre, quando a demanda doméstica recuou 0,5%, com queda nos investimentos e estabilidade do consumo das famílias.

“Isto é sinal de que o aperto monetário e a incerteza fiscal estão reduzindo o ritmo da atividade econômica. Abril e os próximos meses devem manter esta tendência de desaceleração, principalmente no setor de serviços”, afirmou.

As projeções da Galapagos são queda de 0,5% no varejo ampliado em abril e de 2% para a pesquisa de serviços.

Carlos Lopes, do Banco BV, é outro economista a projetar uma leitura de atividade econômica de moderada a fraca em abril. “O IBC-Br, que é o conjunto das atividades, até deve ter um desempenho melhor do que o mês de março. Mas qualitativamente, a gente espera uma alta de 0,5% no varejo restrito, o que significa uma desaceleração em relação a março (0,8%) e para o ampliado a gente tem uma queda de 2,30%, após uma alta bem forte”, comparou.

Para os serviços, a projeção é de uma queda de 0,2% no mês, também pela alta forte de 0,9% em março.

Lopes afirmou ainda que a tendência para os trimestres seguintes é de um desempenho mais fraco. O segundo trimestre deve ter uma queda no PIB, de 0,7%, em função da devolução do ganho do Agro no 1º trimestre, mas de maneira geral a atividade econômica no 2º, 3º e 4º trimestre deve ter um desempenho muito fraco, próximo de zero”, estimou.

Ele ponderou que a leitura de abril ainda pode trazer algum reflexo positivo do primeiro trimestre, como no caso das vendas no varejo restrito ou do IBC-Br mantém um crescimento, mas repetiu que os sinais são majoritariamente negativos quando se olha para a frente.

Sobre o consumo interno, Lopes disse ser interessante observar o desempenho da poupança das famílias, que deu um salto grande como proporção do PIB durante a pandemia, quando muito estímulo foi dado, mas as pessoas não podiam sair de casa para consumir.

Após esse salto, a poupança foi consumida ao longo de 2021 e 2022, anos muito fortes em termos de consumo. “E essa poupança atingiu seu valor mínimo na metade do ano passado. Desde então a gente vem tendo essa recomposição da poupança das famílias para um nível mais normal, próximo da média histórica”, lembrou.

Nos últimos meses, afirmou, houve uma recomposição dessa poupança, o que é ruim para o consumo, mas isso foi muito compensado pelo bom momento do agronegócio.

A projeção do Banco Original para o varejo restrito é de uma alta de 0,2% e, no ampliado, uma queda de 2,4%, muito por conta desempenho em março quando cresceu 3,5%, afirmou o economista Igor Cadilhac. “Para serviços, a gente está vendo uma queda de 0,4%”, estimou

Ele tem uma visão mais otimista para os meses à frente, uma vez que o cenário desafiador sempre citado está sendo jogado para a frente. “Esse cenário ainda existe, mas a gente comentava muito sobre a moderação na atividade econômica. E o que a gente tem visto recentemente é que esse contexto está sendo jogado cada vez mais para a frente. Recentemente a gente tem visto revisões de PIB para cima e inflação para baixo”, afirmou.

Nas contas de André Nunes de Nunes, economista-chefe do Sicredi, o varejo restrito deve mostrar queda de 0,9% no mês e o ampliado deve ter recuo de 2,0%. Já o volume de serviços deve ter alta de 0,2%, mas o IBC-Br vai mostrar recuo de 0,3%.

Ele destacou que a pesquisas do varejo passaram recentemente por mudanças de metodologia, o que pode comprometer as agregações e o ajuste sazonal. Mas as quedas foram projetadas devido à devolução da uma alta muito forte em março e tendência esperada pelo ciclo econômico, que é de desaceleração do crescimento da massa de rendimentos e o esgotamento do efeito das transferências de renda.

Uma análise é feita no que diz respeito aos serviços prestados às famílias, componente relevante do indicador. “Assim, esperamos um recuo, o terceiro consecutivo, determinado pela tendência de estabilidade da renda”, previu.

Sobre os serviços empresariais, ele citou o bom desempenho em transporte e armazenamento devido à boa safra de grãos, especialmente da soja, que pode se manter pelo fato da colheita e do transporte não terem se esgotado ainda. “Outros serviços empresariais ainda parecem estar fortes. Pelo menos é o que mostram as pesquisas do mercado de trabalho”, completou

Combinando esses dois fatores, ele afirmou que é possível ter uma elevação modesta no IBC-Br em abril.

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