Indústria brasileira avança em agosto e traz alívio, mas baixo dinamismo persiste, apontam economistas

Expectativa de casas de análises e bancos é que juros altos e cenário externo ainda impactem produção no próximo trimestre

Camille Bocanegra

(Shutterstock)
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O IBGE publicou hoje os dados da Produção Industrial Mensal (PIM), referente a agosto de 2023. Os números apontaram crescimento de 0,4%, considerando a queda de 0,6% vista no mês anterior. No ano, o acumulado aponta recuo de 0,3%, mesmo movimento visto em agosto do ano passado.

As expectativas de mercado apontavam para crescimento de 0,5%, em média, como previsto por Itaú. Para XP, a expectativa era de 0,6%, enquanto o Bradesco projetava alta de 0,2%.

“Apesar da alta em agosto, a indústria segue com baixo dinamismo desde o pós-pandemia, tendência que deve ser mantida no restante do ano. O crescimento robusto do PIB este ano, a despeito da estabilidade da indústria, reflete a importante contribuição do setor agrícola e maior resiliência do setor de serviços”, considera o Bradesco.

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Na análise do Itaú, “o segmento de manufatura mostra estabilidade, enquanto o setor de mineração/extrativa está em declínio no 3T23”.

Para XP, o dado aponta que “o cenário de produção industrial estagnada permanece”, apesar de considerar o dado divulgado hoje como um “sinal de alívio”. A corretora projeta o crescimento da indústria brasileira, como um todo, em cerca de 0,5% em 2023 e considera que o crescimento do PIB teria ficado em -0,15% no terceiro trimestre, na comparação trimestral.

“Uma primeira leitura do indicador não traz grandes novidades, apesar da alta na margem a indústria não conseguiu ainda engatar uma série convincente de altas e há grande volatilidade no comportamento dos seus componentes se observada a difusão, por exemplo”, comenta o economista André Perfeito.

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O número foi composto por aumento de 18 categorias, entre 25 atividades e 4 categorias econômicas que compõem o índice. No entanto, para a análise da XP, poucos setores industriais tem, de fato, mostrado crescimento consistente no período recente.

Entre os destaques, está a categoria de bens de consumo duráveis, que teve um aumento de 8% na comparação mensal (após contrair 9%). “No entanto, essas atividades ainda estão em tendência negativa, com a produção atual significativamente abaixo do nível de dezembro de 2022. As condições monetárias restritivas e o endividamento elevado das famílias continuam a causar impacto”, comenta a XP.

A indústria de bens capital apresentou alta expressiva de 4,3%. No entanto, como havia recuado em julho, o avanço tornou-se negativo.

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Declínio de mineração

Entre os pontos de atenção destacados nas análises, está o declínio da indústria da Mineração, pelo segundo semestre consecutivo. Na comparação mensal, houve queda de 2,7% enquanto o recuo, considerando o trimestre anterior, foi de 1,1%.

A queda surpreendeu, uma vez que a indústria vinha de forte alta no início de 2023.

“A principal surpresa negativa em relação à nossa estimativa foi no setor ‘Mineração/extrativa’ (ver tabela), mostrando alguma reversão na tendência de alta observada desde o início de 2023”, considerou o Itaú.

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A XP destacou que a surpresa se deu, principalmente, pela natureza da atividade, que não seria diretamente impactada pelo cenário atual de juros, nem por outros aspectos do cenário macroeconômico que impactam outros setores.

“Vale lembrar que essa atividade, que não é muito sensível ao ciclo econômico, cresceu fortemente no primeiro semestre de 2023 e ajudou a impulsionar o PIB”, destaca a XP.

Outros setores que surpreendem são as atividades manufatureiras, que apresentaram flutuação muito forte como Produtos de Informática, eletrônicos e ópticos (16,6% na comparação mensal após -14,4% em julho) e de Produtos Farmacêuticos (avanço de 30% entre julho e agosto após queda de 18% nos dois meses anteriores).

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Expectativas

Para os números do futuro, nenhuma das análises entende que será possível uma retomada mais rápida, principalmente em razão dos juros mais altos ainda presentes até o fim de 2023.

“No futuro, o setor industrial enfrentará desafios devido ao impacto defasado das condições financeiras restritas (taxas altas), retornos marginais decrescentes da normalização “pós-pandemia” da atividade, condições de crédito exigentes e demanda externa enfraquecida”, considera o Goldman Sachs.

No mesmo sentido, o Itaú entende que a renda disponível será um dos fatores determinantes para um ritmo mais lento para retomada da produção industrial. “Esperamos uma leve diminuição na produção industrial no futuro, com desaceleração da renda disponível no 2º semestre de 2023, juntamente com altos estoques em todos os segmentos”, considera o Itaú.

Por mais que o cenário macroeconômico no Brasil seja, sim, o maior responsável pela trajetória esperada pela maioria dos analistas, o economista André Perfeito considera que os juros nos EUA também poderão impactar a produção industrial, principalmente em razão de juros longos mais altos.

Nos EUA, a expectativa é que ainda haja uma nova alta de juros, desde a última decisão do Federal Reserve e a coletiva de Jerome Powell no mesmo dia do anúncio da taxa. Desde então, alguns sinais do Fed, seja do próprio presidente ou de diretores do banco, indicam que a elevação ainda não terminou.

“Este processo, contudo, pode ser moderado pela elevação dos juros mais longos, estes sim mais relevantes para a atividade industrial, que estão sob pressão da elevação dos juros norte-americanos. Contudo a queda já verificada nos vértices mais longos podem ter efeitos que irão ainda ser sentidos”, comenta o economista André Perfeito.

A projeção do Picpay é que, em 2023, a variação para a produção industrial brasileira fique em -0,2%. A estimativa é pautada, para além dos juros altos, no menor crescimento da economia global e da carência de demanda enfrentada pela China, que não favoreceria nossas exportações. Marco Antonio Caruso, economista-chefe do Picpay, e Igor Cadilhac, economista do Picpay, comentam que o alto comprometimento de rendas das famílias também impactam o consumo de bens de maior valor agregado e dependentes de crédito.

“Do outro lado, o governo tem promovido políticas de estímulos à atividade econômica, que podem incentivar a indústria”, ponderam os economistas do Picpay.

O número de hoje não compromete a projeção do C6, que considera que o PIB brasileiro crescerá 3% em 2023 e 1,5% em 2024.

“Mantemos nossa visão de que a indústria deve ficar estável à frente, pressionada pelos juros elevados e pela desaceleração global da atividade. Projetamos que a produção industrial feche o ano próxima da estabilidade”, diz Claudia Moreno, economista do C6.