IPCA abaixo do esperado em novembro é surpresa positiva, mas não afasta projeções de juros mais elevados

Para economistas, inflação segue pressionada tanto pelos contínuos repasses de elevados custos de produção quanto pela aceleração dos preços de serviços

Mariana Zonta d'Ávila

Bomba de combustível (Foto: Bloomberg)
Bomba de combustível (Foto: Bloomberg)

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Impactada novamente pela alta dos preços de combustíveis, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou alta de 0,95% em novembro.

Ainda que o dado tenha representado a maior variação para o índice no mês desde 2015, o resultado veio abaixo da alta de 1,08% esperada por economistas consultados pela Refinitiv.

No ano, o indicador acumula alta de 9,26% e, nos últimos 12 meses, de 10,74%, acima dos 10,67% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores.

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Em relatório, Tatiana Nogueira, economista da XP, credita o resultado aos descontos acima do esperado na Black Friday. “O desvio de 0,13 pp de nossa projeção concentrou-se principalmente em três subgrupos: alimentação no domicílio, alimentação fora do domicílio e cuidados pessoais, este último, devido ao efeito dos descontos da Black Friday – e pode subir novamente em dezembro e janeiro”, escreve.

Ainda assim, Tatiana avalia que o resultado mostra a inflação pressionada tanto pelos contínuos repasses de elevados custos de produção quanto pelo efeito da aceleração dos preços dos serviços.

A projeção de IPCA da XP para 2021, atualmente em 10,2% está sob revisão com viés de baixa após a surpresa de novembro na variação anual.

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João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos, também destacou que a inflação de novembro surpreendeu para baixo, com alimentação sendo o principal destaque, principalmente fora do domicílio.

Os serviços também continuam arrefecendo, indicando que o setor potencialmente já tenha atingido um pico ao mesmo tempo em que a demanda desacelera, mas ainda é cedo para afirmar que o IPCA está em um momento de inflexão na tendência de alta dos últimos meses. Já a desaceleração da atividade econômica pode ajudar a arrefecer a inflação nos próximos meses, avalia.

Para Alexsandro Nishimura, economista e sócio do escritório BRA, a desaceleração em ritmo maior do que o esperado da inflação traz alívio às preocupações com a alta dos preços na economia local.

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A opinião é compartilhada por André Perfeito, economista da Necton, que diz esperar surpresas benignas nos próximos meses com o mercado “errando para pior”, uma vez que há nos modelos da maioria dos economistas componentes inerciais relevantes que irão ainda jogar para cima as projeções.

Perfeito chama atenção para a deflação de alimentos que saiu de 1,25% em outubro para -0,04% em novembro.

“Este fenômeno irá ficar cada vem mais evidente nas próximas semanas e esperamos que o relatório Focus possa efetivamente mostrar dados melhores. Estamos entrando na fase ‘menos pior’ dos dados econômicos em que o valor em si é ainda ruim, mas já aponta fadiga. Isso não quer dizer que irá melhorar a economia no curto prazo, mas só de vir melhor na margem já irá abrir espaço para correção dos juros e de Bolsa”, escreve, em comentário.

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A Necton manteve sua projeção de Selic a 11,5% ao final do ciclo de aperto monetário, com estimativa de aumento de 1 ponto da taxa básica em fevereiro.

Já Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, avalia que ainda que o indicador tenha vindo abaixo do projetado pelo mercado, não é tão positivo. “Ainda acho que o IPCA segue pressionando o Banco Central a fazer ajustes de 1,5 ponto percentual na taxa de juros”, afirma.

Cruz chama atenção para a alta do preço do gás de botijão, o que mostra, segundo ele, que o brasileiro ainda vai sofrer com a inflação por muito tempo.

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Desde ontem, a inflação e os juros têm pautado os mercados após o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, ter elevado a taxa básica de juros a 9,25% ao ano, no maior patamar desde 2017.

No comunicado divulgado junto com a decisão, o BC também sinalizou que deve fazer um ajuste, de mesma magnitude (de 1,5 ponto percentual) na próxima reunião, em fevereiro de 2022.

O comunicado pegou o mercado de surpresa, pois os investidores esperavam uma postura mais branda da autoridade monetária diante de indicadores mais fracos da economia.