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Em mais uma surpresa altista, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,73% em dezembro, encerrando o ano com inflação de 10,06%.
O dado representa a maior taxa acumulada no ano desde 2015 – quando foi de 10,67% –, e superou a meta de 3,75% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2021, cujo teto era de 5,25%.
O número também veio acima do esperado pelo consenso Refinitiv, que estimava alta de 0,65% em dezembro na comparação com novembro e de 9,97% no acumulado de 2021.
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Na avaliação de economistas do mercado financeiro, além do nível elevado, o dado divulgado nesta terça demonstra a disseminação das pressões inflacionárias, principalmente forte nos preços dos bens industriais (1,41%).
“A divulgação do IPCA para o mês de dezembro reforça um cenário extremamente desafiador para a inflação”, avalia Marcelo Fonseca, economista-chefe do Opportunity Total.
Segundo ele, o resultado de hoje sugere que o Banco Central ainda tem “um trabalho enorme à frente para garantir a convergência da inflação de volta às metas”. “Acreditamos que o BC deverá elevar a taxa Selic em 1,25 pp na reunião de fevereiro, encerrando o ano por volta de 12%. Não vislumbramos cortes de juros em 2022”, diz.
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No relatório Focus, do Banco Central, mais recente, as estimativas apontavam para alta de 9,99% do IPCA em 2021. Já para este ano, as expectativas são de inflação de 5,03%.
Com relação à taxa básica de juros, atualmente em 9,25% ao ano, os economistas consultados pela autoridade monetária projetam alta de 1,50 ponto percentual da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em fevereiro, para 10,75%, com juros encerrando 2022 em 11,75% ao ano.
Assim como o Opportunity, o Bank of America também espera um aumento da Selic menor do que o projetado no Focus no mês que vem. Segundo os economistas do banco americano, preocupações de uma desaceleração mais acentuada da atividade após a rápida disseminação da variante ômicron da Covid-19, juntamente com o dado divulgado hoje, reforçam a visão de uma redução gradual no ritmo de alta do BC, que deve subir a Selic em 1 ponto percentual na reunião de fevereiro.
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“Após atingir o pico em novembro, esperamos que a inflação continue desacelerando à frente e encerre o ano em 5,0%”, escreve o BofA.
Inflação disseminada
Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, escreve em relatório que os dados de altas recentes em bens domésticos e industriais são reflexo do atraso no repasse cambial, restrições de oferta, pressões de aumento de custos e maior demanda, após auxílios fiscais e monetários.
“A inflação está agora não apenas muito alta, mas também altamente disseminada; com projeção de permanecer acima de 9% até junho. Contra esse pano de fundo, há um risco crescente de que os mecanismos de fixação de preços e salários retrospectivos (com a redefinição de contratos salariais incorporando ajustes de custo de vida) mantenham a inflação crescente fixa”, escreve.
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Em relatório, o banco Modalmais também diz enxergar uma composição desfavorável do IPCA, advinda principalmente de pressões em bens industriais, mas também de repasses nos serviços a partir da reabertura econômica e do aumento nos preços dos alimentos.
“Estes pontos de atenção não devem ceder nos próximos meses, fundamentando nossa visão de que o BC priorizará o controle inflacionário em detrimento da atividade econômica. No entanto, deveremos observar dinâmica favorável nos itens administrados, com alívio no preço dos combustíveis e potencial antecipação na queda nas tarifas de energia, em função das maiores chuvas”, escreve Felipe Sichel, estrategista-chefe do Modalmais.
Dada a permanência de pressões subjacentes no IPCA, o banco reforça sua perspectiva de elevação de 1,5 ponto na Selic em fevereiro. “Além disso, esta leitura coloca viés altista na nossa projeção de 0,35% para o IPCA de janeiro”.
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Na avaliação de João Leal, economista da Rio Bravo, o IPCA surpreendeu em dezembro, mas não muda o cenário para o próximo Copom. “Setorialmente, a inflação voltou a acelerar em alimentos, serviços subjacentes e bens industriais, evidenciando que as pressões que já vinham afetando a inflação ainda estão elevadas e devem arrefecer gradualmente”, diz.
A expectativa da Rio Bravo é de que o IPCA encerre 2022 com alta de 5%. Há, contudo, um viés de alta. Essa redução na inflação se deve principalmente à alta no juro que deve chegar a 11,75%.
Por fim, Tatiana Nogueira, economista da XP, avalia que o desvio de 0,10 pp do resultado do IPCA em dezembro em relação ao projetado pela casa foi explicado principalmente por itens de “cuidados pessoais”, devido ao efeito de retorno do desconto da Black Friday. Na XP, a projeção para o IPCA de 2022 permanece em 5,2%.