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SÃO PAULO – Apesar da pandemia de coronavírus, o mundo terminou 2020 somando 56,1 milhões de pessoas com riqueza superior a US$ 1 milhão, cerca de 10% mais do que as 50,9 milhões verificadas um ano antes. A informação consta no relatório Global Wealth Report 2021, elaborado anualmente pelo banco Credit Suisse.
A riqueza agregada das famílias alcançou US$ 418,3 trilhões, com um aumento de US$ 28,7 trilhões de um ano para o outro.
No Brasil, o movimento foi inverso: o país foi o que teve a maior redução no número de milionários entre as economias avaliadas pelo Credit Suisse. Por aqui, segundo o relatório, 207 mil pessoas acumulavam mais de US$ 1 milhão no fim de 2020. Eram 315 mil em 2019, o que significa uma diminuição de 108 mil – ou 34% – de um ano para o outro.
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Uma das principais razões, segundo o relatório, foi a depreciação da moeda – que causou situação semelhante em outras economias. Índia, Rússia e Hong Kong também registraram diminuição, mas em menor magnitude. Na Índia, por exemplo, o número de milionários passou de 764 mil para 698 mil de um ano para o outro.
O Brasil também registrou um aumento no nível de desigualdade de renda, aponta o levantamento. O índice de Gini do país – indicador que mede o grau de concentração de renda em um grupo – alcançou 89 no fim de 2020. Quanto mais próximo de 100, maior a desigualdade verificada. Em 2010, o índice de Gini brasileiro era de 82,2, pelos cálculos do Credit Suisse.
Atualmente, as pessoas mais abastadas do Brasil – que somam 1% da população – detêm 49,6% da riqueza do país, contra 44,2% no ano 2000 e 40,5% em 2010.
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Isso não aconteceu em outros países da América Latina avaliados pelo Credit Suisse. No Chile, a fortuna acumulada do 1% mais rico caiu de 40,1% para 33,6% entre 2000 e 2020. No México, a queda foi de 42,8% para 31%. Nos dois casos, o índice de Gini mudou pouco no período. Segundo o relatório, “a desigualdade de renda aumentou entre os 90% mais pobres da população, compensando um declínio da desigualdade no topo”.
Riqueza das famílias X economia real
“O contraste entre o que aconteceu com riqueza das famílias e o que está acontecendo na a economia em geral pode nunca ter sido tão forte”, diz o relatório sobre o aumento do número de milionários no mundo.
Em retrospectiva, o relatório aponta que os impactos da pandemia de coronavírus sobre as economias logo se refletiu nos mercados financeiros, com as bolsas de valores recuando em todo o mundo. Como resultado, estima-se que US$ 17,5 trilhões tenham sido eliminados da riqueza agregada das famílias entre janeiro e março de 2020.
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Com a ação dos governos e dos bancos centrais que se sucedeu, os mercados recuperaram a confiança e, até o fim de junho de 2020, a maior parte das perdas foi revertida. Isso era “compreensível”, segundo o relatório.
“Mas o que aconteceu na segunda metade de 2020 foi imprevisto. Os preços das ações continuaram em um caminho ascendente, atingindo níveis recordes no fim do ano”, diz o estudo. “Os mercados imobiliários também foram infectados pelo otimismo prevalente, e os preços dos imóveis aumentaram a taxas não vistas por muitos anos”.
A falta de correspondência entre esses movimentos e a economia real tem razões claras, segundo o Credit Suisse. “Muitos governos e bancos centrais nas economias mais avançadas, ansiosos por evitar os erros cometidos durante a crise financeira global, adotaram ações preventivas”, diz o relatório.
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Primeiro, organização programas de transferência de renda massivos para apoiar pessoas e negócios mais afetados pela pandemia. Depois, baixaram as taxas de juros – para perto de zero, em alguns casos – deixando claro que assim permaneceriam por um bom tempo.
Como os números brasileiros demonstram, os resultados dessas políticas não foram iguais em todo o mundo. A América Latina foi a região com pior desempenho, com a riqueza total caindo 11,4% ou US$ 1,2 trilhão. “Com as principais economias atingidas pela pandemia, isso não seria uma surpresa”, diz o relatório.
Mas os efeitos da taxa de câmbio também foram grandes. Não fosse a depreciação das moedas, a redução da riqueza na América Latina teria sido de 1,8%, menor do que a registrada na Índia.
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