Novo presidente do BoJ terá o desafio de normalizar política econômica de forma gradual

Acadêmico Kazuo Ueda tem perfil conciliador e analítico e tem missão de combater efeitos colaterais de anos de flexibilização monetária

Roberto de Lira

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A escolha do acadêmico Kazuo Ueda para substituir Haruhiko Kuroda à frente do Banco do Japão deve significar que o BoJ vai finalmente caminhar para a normalização de sua política monetária, após anos de uma atuação considerada excessivamente branda. Mas as avaliações publicadas na mídia local e por casas de análises apontam que essa virada tende a ser gradual, dado o perfil do economista.

Ueda é professor de Economia na Kyoritsu Women’s University, em Tóquio, e é especialista em política monetária e macroeconomia. Ele já fez parte do conselho de políticas do BoJ entre 1998 e 2005 e será o primeiro acadêmico a chefiar o Banco Central após a Segunda Guerra Mundial.

Segundo o jornal Asahi Shimbun, o primeiro-ministro Fumio Kishida estava à procura exatamente de um representante da academia que pudesse rapidamente se inserir no círculo interno de banqueiros centrais para manter um diálogo com os pares e ter uma ideia do que outros países estão planejando em termos de política monetária.

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Outra característica considerada vital para o indicado do BoJ segundo o jornal é a capacidade de captar com precisão as mensagens do mercado e transmitir as intenções do Banco do Japão sem interpretações errôneas.

Nesta quarta-feira (15), Kishida disse que, quando considerou os nomes de prováveis candidatos ao cargo, tinha em mente uma pessoa que pudesse trabalhar para alcançar o crescimento econômico acompanhado pelo crescimento salarial e atingir a meta de estabilidade de preços de forma sustentável e estável. “Prestei a devida atenção ao impacto que teria sobre mercados financeiros”, disse.

O primeiro-ministro disse que Ueda é a escolha “mais adequada” para governador, descrevendo-o como um “economista de renome internacional” que tem “profundo conhecimento do campo das finanças em termos de teoria e prática”.

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Pesou a favor de Ueda o fato de ter estudado no americano Massachusetts Institute of Technology (MIT) com Stanley Fischer, que além de ter presidido o Federal Reserve também tinha sido orientador de Ben Bernanke (outro ex-Fed), e de Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu.

Pessoas próximas a Ueda acreditam que seu perfil estudioso, de quem coleta opiniões diversas antes de tomar uma posição, será importante para colocar a política monetária do país de volta no curso normal no médio e longo prazo, isso após a postura “dovish” que o Banco Central vem adotando desde abril de 2013, quando Kuroda assumiu o posto.

O novo presidente do BoJ, que deverá ser aprovado sem problemas pelos legisladores japoneses – o primeiro-ministro Kishida tem boa maioria nas duas casas do parlamento – não se encaixa, segundo fontes, nem na categoria “reflacionista” que apoia a flexibilização monetária ou “reformista”, que pressiona por uma reforma estrutural.

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Um indicativo de como pode ser sua atuação aconteceu em agosto de 2000, quando a economia japonesa estava estagnada e numa fase deflacionária branda. Na reunião do BoJ daquele mês, Ueda a votou contra a proposta de mudança da política de juros zero e aumento das taxas de juros. Ele foi voto vencido e a economia piorou depois disso, levando a críticas de que a mudança tinha sido prematura.

O Banco Central introduziu a flexibilização quantitativa no ano seguinte, colocando a política monetária de volta na direção de taxas de juros ultrabaixas para estimular a economia estagnada.

Os desafios agora são outros. A inflação ultrapassou os 4% no Japão, bem acima da meta do BoJ de 2%, mas acredita-se que a normalização está encaminhada. O que se quer evitar, na verdade, é que o Japão volte aos tempos de deflação. Ele também precisará combater os efeitos colaterais de anos de flexibilização monetária sob Kuroda, que distorceram os mercados de títulos e expandiram o balanço do BoJ, até abrir caminho para a futura normalização da política.