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SÃO PAULO — A pandemia de coronavírus vai estimular um protecionismo maior entre os países, mas também deve ampliar as intenções de cooperação em determinadas áreas. A avaliação é da ex-secretária de Estado americana Hillary Rodham Clinton, que participou da Expert 2021 nesta quinta-feira (26).
Segundo Hillary, um grupo de países vai olhar com mais atenção para as lições que aprendemos com a pandemia. “Por exemplo, nos Estados Unidos, aprendemos que é preciso ter uma melhor cadeia própria de suprimentos, principalmente de proteção pessoal. A gente não tinha nem supply chain para muitos ingredientes farmacêuticos”, disse. “Acho que vamos ver mais países tentando construir sua própria rede de suprimentos.”
A ex-secretária de Estado americana falou, contudo, que no lado econômico os países deveriam ter mais cooperação entre si. “Eu pessoalmente gostaria de ver muito mais cooperação econômica entre os Estados Unidos e a América do Sul”, afirmou. “Eu acho que isso seria algo que nos colocaria em uma posição muito forte no futuro. Estamos competindo com a China e temos que tirar vantagem da nossa grande vizinhança e de todos os talentos que temos aqui”, disse.
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Sobre a recuperação da economia dos EUA, Hillary disse que vê com bons olhos: “já recuperamos boa parte do que tínhamos perdido com a pandemia”. Ela citou ainda que nem todas as pessoas voltaram ao mercado de trabalho e que, embora esteja positiva em relação à retomada, concorda com o presidente Joe Biden de que ainda há muito trabalho a fazer.
Hillary comentou ainda sobre o risco à democracia em algumas partes do mundo. “Eu olho ao redor do mundo e vejo líderes que foram eleitos democraticamente através de votos, mas aí eles tentam se cercar do máximo de poder possível e se tornam autoritários. Isso é uma ameaça muito séria à democracia”, disse. Ela enfatizou que as pessoas numa democracia devem ter acesso fácil aos fatos e informações verdadeiras.
Nesse contexto, a ex-secretária de Estado americana criticou as grandes empresas globais de tecnologia. “Eu gostaria de ver as empresas fazendo mais para se auto-regular contra a desinformação (…), mas infelizmente não temos visto isso. Eu acho que elas não o farão por conta própria, então será necessário que os governos, sejam sozinhos ou em parceria, tentem previnir que as tech inundem nossas mentes e mercados com informações falsas.”
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“Eu clamo para que as gigantes de tecnologia façam a sua parte. Elas terão que mexer em seus modelos de negócio, vão ter que mudar seus algorítmos, vão ter que mudar a maneira como elas realmente premiam os disseminadores de conteúdo falso, pessoas que vão fazer e falar qualquer coisa porque sabem que isso os dará atenção, provavelmente os fará famosos e os dará dinheiro”, afirmou.
Afeganistão
Sobre a tomada de controle do Afeganistão pelo grupo extremista Talibã, Hillary disse que é preciso que todos façam o máximo que puderem para tirar a maior quantidade possível de pessoas do país em segurança. Ela falou sobre o esforço que tem feito para isso junto com outras pessoas, como Malala Yousafzai.
Hillary mencionou ainda que, depois disso, os governos devem garantir duas coisas: oportunidades para que os refugiados possam recomeçar suas vidas onde quer que estejam, e apoio como for possível aos que não conseguiram escapar do Afeganistão em tempo: “tenho certeza que as pessoas, especialmente as mulheres, que lá ficarem não vão desistir de lutar por educação e saúde e por qualquer outro direito.”
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“Malala é uma mulher inspiradora. Ela e eu temos falado bastante nas últimas semanas porque há muitas pessoas no Afeganistão que têm estado na linha de frente na defesa da educação de meninas e mulheres, lutando por saúde e tentando construir uma democracia, e tantas coisas mais”, disse.
“Estou trabalhando com um grupo de ativistas e ONGs para tentar evacuar o maior número possível de pessoas e suas famílias. É muito difícil, como vocês podem ver nos noticiários, para que elas consigam atravessar Cabul e chegar ao aeroporto, depois conseguir entrar no aeroporto e finalmente serem colocadas dentro de um avião”, completou.
“Estamos fazendo tudo o que podemos para tirar essas pessoas corajosas de lá. É uma situação terrivelmente perigosa, há inclusive ameaças à segurança do próprio aeroporto agora. Eu agradeço ao governo dos Estados Unidos, outros governos, pessoas físicas comuns, empresas e ONGs, todos que, de alguma forma, estão lutando para conseguir tirar de lá o maior número de pessoas possível.”
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Covid-19 e o papel dos líderes
Perguntada sobre o papel dos líderes globais em relação à Covid-19, Hilarry criticou os governos que se recusaram a tomar responsabilidade sobre a crise sanitária. A ex-secretária de Estado americana também alertou que estamos enfrentando uma nova onda de infecções pela variante delta e que outras variantes estão por vir.
“Primeiro, eles têm que ser líderes. Devem liderar em vez de se opor ao que é uma tremenda conquista científica, desenvolver uma vacina para combater essa pandemia”, disse. “Eu fico muito triste que nós tivemos uma quantidade de líderes que se recusaram a ter responsabilidade”, completou.
“Nós temos que fazer mais para vacinar o restante do mundo. É tão trágico que nós tenhamos pessoas no meu país que não vão tomar a vacina, que nós tenhamos líderes que não vão encorajar ou até exigir a vacinação, e o restante do mundo está ao mesmo tempo implorando pela vacina. Eu acho que os países, como o meu e outros, precisam fazer muito, muito mais para distribuir as vacinas à África, a outras partes da América Latina, Ásia, literalmente qualquer lugar onde as pessoas ainda não estejam protegidas”, afirmou.
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Hillary disse que tem netos pequenos e que, por isso, tem uma razão ainda mais pessoal para lutar para que todos se vacinem: “eles são menores que 12 anos e não podem se vacinar ainda. Eu quero proteger as crianças para quem a vacina ainda não é indicada”.
Distribuição de vacinas
A ex-secretária de Estado americana disse que a distribuição de vacinas no mundo não está tão efetiva quanto ela gostaria que estivesse. Ela citou os países que têm doado imunizantes e os agradeceu por isso, e citou o esforço internacional encabeçado pela ONU (Organizações das Nações Unidas) para levar as vacinas a países mais pobres, o Covax Facility.
Hillary fez um apelo à indústria farmacêutica global para que, em parceria com governos, invistam na fabricação de vacinas em mais países. “Há uma dúzia de plantas na África e na Ásia que poderiam estar produzindo mais vacinas [contra a Covid]. Temos que ter a maior produção global de vacinas possível para estabelecer uma rede efetiva de distribuição dos imunizantes e tentar ter o maior número de pessoas vacinas possível até o final deste ano”, disse.
“Até o final do ano, eu imagino que os testes com crianças vão ter sido concluídos. Até lá, vamos tentar vacinar o maior número de adultos possível. Outra coisa que eu gostaria de adicionar é que a gente deveria ter vacinação obrigatória. Acho que os empregadores deveriam obrigar seus funcionários a se vacinar nos Estados Unidos, nos hospitais, no setor público americano. As evidências são claras que as vacinas são seguras e funcionam. Elas salvam vidas”, completou.
Amazônia e diferença de gênero
A ex-secretária de Estado americana falou ainda sobre os eventos climáticos anormais que tivemos nos últimos meses, sinal de que estamos correndo contra o tempo na corrida para salvar o meio ambiente. Ela clamou por mais investimentos em produção limpa de energia e disse que as pessoas precisam fazer sua parte, mas que são as empresas e os governos que vão liderar esse processo.
“Prevenir o desmatamento e plantar árvores faz uma imensa diferença quando isso é feito em grande escala”, disse. “A Amazônia é a maior floresta do mundo. É realmente muito importante que o governo de vocês, as empresas e até mesmo as pessoas no Brasil parem com o desmatamento da Amazônia. Coloquem as pessoas para trabalharem plantando árvores e não cortando. Coloquem as pessoas para trabalhar instalando painéis solares e não furando para explorar petróleo e gás”, afirmou.
Hillary falou ainda sobre a diminuição das diferenças de gênero no mundo, as quais, na visão dela, foram prejudicadas pela pandemia. “As mulheres da nossa força de trabalho, especialmente as da linha de frente, como as que trabalhavam no setor de saúde, por exemplo, ficaram extremamente pressionadas a deixar seus postos para cuidar de seus descendentes ou ascendentes, uma vez que os serviços estavam parados”, disse.
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