PIB do 1º tri traz nova leva de alta nas projeções de crescimento, mas economistas fazem alerta

Recuo da taxa de investimento levanta “uma bandeira vermelha para o crescimento no médio prazo”, conforme aponta o Bank of America

Equipe InfoMoney

(Getty Images)
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Após um dado de Produto Interno Bruto (PIB) mais forte do que o esperado no primeiro trimestre de 2023 (1T23), com alta de 1,9% frente o 4T22, ante consenso Refinitiv de avanço de 1,3%, diversas casas de análise revisaram suas estimativas para a economia brasileira desde o fim da última semana, que já se refletiram no relatório Focus desta segunda-feira (5).

A agropecuária brilhou no 1° trimestre, com uma alta de 21,6% ante o quarto trimestre de 2022 e de 18,8% quando comparado aos primeiros três meses do ano passado. A demanda doméstica final foi fraca, por sua vez, com contração trimestral de 0,5%.

Dadas as revisões de dados e os números do primeiro trimestre, a previsão de crescimento real do PIB em 2023 do Goldman Sachs subiu de 1,75% para 2,6%.

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“No futuro, esperamos que a atividade se beneficie de estímulos fiscais e parafiscais renovados (transferências fiscais federais adicionais para famílias de baixa renda com alta propensão a consumir) e expansão da massa salarial real (mercado de trabalho resiliente) e o impacto de uma perspectiva favorável para os preços dos alimentos agrícolas no rendimento disponível real”, aponta.

No entanto, o Goldman avalia que o fraco impulso da reabertura econômica, as condições monetárias e financeiras domésticas ainda apertadas, os elevados níveis de endividamento das famílias, os baixos níveis de ociosidade econômica (taxa de desemprego), a moderação da criação de emprego, a fraca confiança dos consumidores e das empresas e a incipiente recuperação do o ciclo de crédito podem gerar ventos contrários à atividade após o 1T23.

Leia também: Cerca de 90% do PIB do 1° tri teve efeitos diretos e indiretos do agronegócio, diz Silvia Matos, do FGV/Ibre

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Na mesma linha, o Bank of Americana elevou sua projeção para o PIB de 2023 para 2,3% (ante 0,9%), mas reduziu as projeções de 2024 para 1,8% (que era de 2,4%).

O banco destaca o PIB acima do esperado nos primeiros três meses de 2023, mas avalia que o recuo da taxa de investimento, em contraponto ao aumento da taxa de poupança, levantaria “uma bandeira vermelha para o crescimento no médio prazo”.

A alta nos três meses do ano foi puxada pelo setor agropecuário, com a safra recorde de soja e melhores condições climáticas.  “O setor de serviços foi outro destaque positivo, impulsionado pelo crescimento dos serviços de intermediação financeira e transportes”, avalia o BofA. Por outro lado, investimentos brutos foram a surpresa negativa.

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Pela ótica da demanda, o consumo privado foi beneficiado pelo impulso fiscal e pelo recuo da inflação. “No geral, o PIB do lado da demanda aumentou 0,8% no trimestre, o que significa que os estoques subiram 1,1% na margem, um mau sinal para o crescimento de curto prazo”, avalia.

O UBS BB revisou as projeções de 1,5% para 1,9% para este ano. O banco avalia que o crescimento brasileiro passa a ficar mais próximo da média de longo prazo. “O desempenho em tempo real do Brasil está indo bem, apesar da assimetria, e está se tornando mais claro que o país terá crescimento acima do consenso pelo quarto ano consecutivo”.

Preços de commodities e as altas taxas de juros são desafios para o crescimento, segundo o banco. “No entanto, não queremos deixar de lado o fato de que um choque positivo de oferta era necessário para o país para mostrar um crescimento próximo à média dos últimos 20 anos de 2,2%”, apontam os economistas do banco.

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O Citi elevou a sua projeção de crescimento de 1% para 2023. O banco avalia que, apesar de acreditar que a maior parte do aumento da atividade ser temporário, algumas evidências sugerem possíveis repercussões para o resto da economia (especialmente o mercado de trabalho muito forte), motivando outro ajuste para cima em sua estimativa de crescimento anual do PIB.

O JPMorgan elevou sua projeção para o PIB de 1,7% para 2,4%, devido ao choque de oferta mais positivo e efeitos para a economia.

O Credit Suisse aponta que o forte desempenho do setor agrícola também afetou os serviços relacionados, como transporte e armazenagem. Para o restante de 2023, espera que os impactos da supersafra continuem impactando positivamente a atividade, revisando assim a expectativa para o PIB agrícola para este ano de 9,8% para 13,1%. Assim, a projeção para o PIB como um todo foi de 1,3% para 2,1%.

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Outras casas, por sua vez, como a XP, o Itaú e o Bradesco, avaliaram o dado positivamente, mas ainda farão revisões.

O Bradesco aponta que o resultado do PIB foi excelente, mas a abertura foi fraca, toda concentrada em agropecuária, com consumo das famílias praticamente estável e investimentos em queda.

“Neste sentido, não imaginamos a continuidade deste ritmo de crescimento daqui em diante. Em outras palavras, este crescimento não parece sustentável. Em função do carregamento estatístico, mesmo esperando uma desaceleração da atividade no 2S23, nossa projeção do PIB para 2023, atualmente em 1,4%, terá que ser revisada para cima, próximo de 2%”, avalia.

Em termos de política monetária, os últimos dados fortes de atividade (CAGED, Pnad Contínua e PIB do 1T23) afastam a possibilidade de queda da Selic na próxima reunião de junho, apontam os economistas do banco, que esperam que a primeira queda ocorra na reunião de setembro.