Publicidade
Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que serão divulgados na manhã desta quinta-feira (2) pelo IBGE devem evidenciar a perda de impulso da atividade econômica no quarto trimestre de 2022, já refletindo o aperto das condições monetárias e de crédito. Analistas e economistas consultados pelo InfoMoney acreditam que o PIB deve ter ficado perto da estabilidade na comparação com o terceiro trimestre, com as projeções oscilando entre ligeira queda ou até uma alta marginal.
Para o ano de 2022 como um todo, no entanto, as projeções são de crescimento de até 3%, devido ao forte desempenho do setor de Serviços, beneficiado pela retomada plena da circulação de pessoas após o período mais crítico da pandemia, aos auxílios emergenciais pagos pelo governo federal e à queda na taxa de desemprego ao longo do ano.
A projeção da XP Investimentos para o PIB do quarto trimestre é de um crescimento apenas marginal, de 0,1%, e isso vai confirmar a desaceleração já captada no terceiro trimestre, quando a economia cresceu 0,4%, comentou o economista Rodolfo Margato.
Continua depois da publicidade
Ele lembra que a variação média da evolução do PIB no primeiro e segundo trimestres do ano passado foi superior a 1%. De todo modo, a projeção para o ano fechado é de um crescimento de 3%, disse Margato, muito acima do +0,5% projetados no início do ano, que ele classificou como “sólido”.
Em relação à abertura setorial, é esperado pelo lado da oferta um crescimento de 0,4% do setor de Serviços no 4° trimestre em relação ao 3° tri. “Ainda é uma leitura favorável, mas é importante mencionar a desaceleração em relação aos trimestres anteriores, quando o PIB do setor terciário cresceu ao redor de 1%”, ponderou o economista da XP.
Já a Indústria deve ser o destaque negativo da divulgação (a estimativa é de uma queda de 0,5%), interrompendo uma sequência de recuperação observada no segundo e terceiro trimestres. “Deve pesar bastante um desempenho bem fraco da indústria de transformação”, disse Margato.
Continua depois da publicidade
Ele destacou que o processo de elevação de juros e a consequente piora nas condições de crédito têm impactado a produção industrial e boa parte do comércio varejista, especialmente dos segmentos que fabricam bens mais sensíveis ao crédito, como bens de consumo duráveis e bens de capital.
Para a Agropecuária, é estimado um modesto aumento para o PIB no trimestre, que deve ser insuficiente para evitar uma queda no ano.
No lado da demanda, a XP espera uma ligeira queda, de 0,1%, da chamada absorção doméstica, conceito que engloba consumo das famílias, consumo do governo e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, a medida de investimentos pela ótica do PIB).
Continua depois da publicidade
O economista prevê uma estabilidade do consumo das famílias, um crescimento ao redor de 0,5% parta o consumo da administração pública no último trimestre de 2022 e uma queda dos investimentos.
Na leitura anual, no entanto, a FBCF deve mostrar ainda um crescimento, da ordem de 0,8%, mas com contração no último trimestre derradeiro. “Considerando esses três componentes, a gente espera uma ligeira variação negativa para a absorção doméstica”, estimou.
Um destaque positivo deve ser a contribuição do setor externo, comas as exportações líquidas devendo mostrar um crescimento pronunciado no quarto trimestre.
Continua depois da publicidade
Impacto dos juros altos
Andrea Damico, sócia e economista chefe da Armor Capital, afirmou que trabalha com uma projeção de estabilidade (0,0%) no quarto trimestre. Isso porque ela acredita que o setor de Serviços ainda deve trazer uma contribuição positiva. “Porém, quando a gente olha para a Indústria e mesmo o Comércio, eles devem contribuir negativamente para o resultado”, afirmou.
Andrea disse acreditar que o dado a ser divulgado amanhã vai confirmar a desaceleração econômica em curso. “A gente está vendo desde o ano retrasado o BC subindo os juros. Isso tem um impacto obviamente na economia e esse desempenho da atividade mais fraco no último trimestre do ano passado tem bastante a ver com isso”, comentou.
A economista chefe da Armor Capital ressaltou que o crescimento global mais modesto também tem impacto na economia, mas reforçou que o fator determinante é mesmo a desaceleração da economia doméstica por conta do ciclo de juros.
Continua depois da publicidade
Na análise do Banco Original, os últimos indicadores do ano passado já sinalizaram a perda de ímpeto da atividade econômica no quarto trimestre, que deve ser confirmada amanhã. “Tanto a Agricultura quanto Indústria e Varejo se posicionaram como âncoras negativas para o PIB, absorvendo choques da La Niña sobre a produtividade, sobretudo nas safras de soja e milho na região sul do País, e parte dos efeitos negativos da taxa de juros”, avaliou o banco.
Para o Original, o setor de serviços destoou e se mostrou mais robusto em dezembro, evidenciando um maior consumo de serviços presenciais diante de eventos extraordinários como a Copa do Mundo e, em menor grau, os descontos da Black Friday sobre alojamento e alimentação.
A partir dessa análise do quadro macroeconômico, o Banco Original projeta uma contração de 0,1% do PIB no 4° trimestre e um crescimento de 2,9% no acumulado do ano.
Carlos Lopes, economista do Banco BV, está um pouco mais pessimista e prevê uma taxa de -0,2% no último trimestre de 2022 ante o trimestre anterior, interrompendo uma trajetória de cinco trimestres consecutivos de crescimento.
Mas Lopes também destacou que o País tem alguns motores ajudando o crescimento econômico. “Esse quarto trimestre evidencia uma fraqueza da demanda doméstica. Deve ter um desempenho muito fraco de Indústria e Serviços e uma ajuda do setor Agro bem marcante, algo que deve valer também para 2023 como um todo, que deve ser um ano puxado pelo agronegócio”, estimou.
Ele também projeta uma contribuição positiva do setor externo, com queda das importações e alta das exportações no trimestre, outro comportamento que ele acredita que deva prevalecer em 2023.
Dois momentos
A leitura de Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos é similar, mas ele ainda acredita que a economia teve um crescimento marginal de 0,1% no último trimestre do ano passado, o que significa uma alta de 3% no ano.
Para ele, a desaceleração da economia brasileira na segunda metade de 2022 foi causada, principalmente, pelas incertezas políticas sobre qual cenário aguardar, o que tirou um pouco a confiança do consumidor e dos empresários para consumirem e investirem mais.
Para Alves o contraste entre o primeiro e o segundo semestre ficou muito claro, com o ano iniciando em crescimento forte. A guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro, teve como um dos efeitos a redução na oferta de commodities como como grãos, petróleo, e outros, o que acabou beneficiando a balança comercial brasileira de forma positiva.
Depois, aconteceram os auxílios emergenciais por parte do governo, a confiança do consumidor e do empresário aumentaram, o nível desemprego caiu e foram dados subsídios na energia e nos combustíveis.
“Isso ajudou a aumentar o consumo das famílias, com destaque para Serviços, que ainda vinha combalido da pandemia, e deve ter o seu melhor ano depois da crise da Covid” analisou.
Idean Alves disse que os juros em patamares elevados, o que em tese deveria inibir o consumo, só veio ajudar na retração para controle da inflação no segundo semestre. “Somado à menor confiança no mercado, fez o ritmo de crescimento do PIB desacelerar no segundo semestre”, comparou.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, acredita que a perda de tração da economia ficará evidenciada amanhã. Serviços, por exemplo, tende a vir mais fraco que nos trimestres anteriores, mas será o setor com melhor contribuição para o PIB na comparação anual, devido à recuperação do consumo e do emprego ante 2021.
Para o Agronegócio a previsão é de o setor sair de um resultado anterior de -0,08% no 3° trimestre para uma expectativa de alta de +0,9% no 4° tri. “Isso não muda o cenário do Agro no ano de 2022 que foi muito ruim”, ponderou.
Para a Indústria, Jorge prevê o contrário, com desaceleração forte após um início de ano mais positivo.
A previsão da Quantzed é de um crescimento +0,30% na comparação trimestral e de uma evolução do PIB entre 2,6% e 3% para o ano fechado.
Danilo Passos, economista da WHG, também está com uma estimativa de alta no trimestre, de 0,1%, porque disse acreditar que o setor de Serviços ainda deve mostrar crescimento no fechamento do ano, especialmente por conta dos serviços de informação e administrativos. Com essa alta, a projeção fechada de 2022 é de +3,10%.
“Por outro lado, o PIB industrial vai jogar contra. Olhando os dados da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, a indústria de transformação caiu 0,8% no trimestre, a parte de construção civil teve um desemprenho muito ruim, tanto na produção como na venda de material de construção”, ressaltou.
Para Passos, os dados da demanda vão mostrar o mesmo comportamento observado na oferta (com Serviços e Indústria). “O consumo deve ter uma contribuição ligeiramente positiva, mas o investimento vai ter um desempenho negativo no trimestre”, explicou.
Desaceleração espraiada
Já Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, afirmou que, os dados na leitura do 4º trimestre vão explicar melhor o quão espraiada está a desaceleração da economia.
Pelo lado da oferta, ele disse que devem ser observados o comportamento da agricultura e a dinâmica nos subsetores da indústria e de serviços. “Pelo lado da demanda, o setor externo será o grande destaque, como já observado nos dados da balança comercial e do balanço de pagamentos, cuja aceleração das exportações é o principal vetor de crescimento”, comentou.
O economista da Blueline, Flávio Serrano, projeta uma queda de 0,2% no PIB do quarto trimestre, o que significaria que o a economia cresceu 2,9% em 2022.
“No ano passado, os destaques para o crescimento claramente foram o setor de serviços pela ótica da oferta e o consumo das famílias pela ótica da demanda, com crescimento acima de 4% no ano. Por outro lado, o desempenho do produto agropecuário e do investimento decepcionaram em 2022”, avaliou.
Mas detalhadamente, ele prevê que o consumo das famílias devem ter desacelerado mais fortemente no trimestre, assim como o investimento deverá registrar mais uma taxa negativa. “Esse movimento será parcialmente compensando pelo gasto do governo e pelas exportações líquidas. No geral, o dado do PIB do 4° trimestre deverá mostrar mais claramente os efeitos defasados do aperto monetário sobre a economia”, explicou.
Leonardo Costa, economista da ASA Investments, disse que esperamos uma taxa de crescimento de 0% no trimestre, com a desaceleração na margem sendo puxada pelos Serviços, ainda em recuperação após o choque causado pela pandemia.
“Em 2023, a expectativa é de ritmo mais fraco para atividade econômica, efeito da política monetária contracionista, da queda dos indicadores de confiança e do esfriamento do mercado de crédito”.