PIB do 4º trimestre melhora “carrego estatístico” para 2022, mas ano deve ser de crescimento fraco, dizem economistas

Apesar do dado positivo, ano será desafiador em meio à guerra na Ucrânia, preços em alta, juros elevados por mais tempo, renda menor e eleições.

Lucas Sampaio

Transportes e armazenagem de cargas crescem com aumento das exportações e das vendas do comércio online (Foto: José Fernando Ogura-AEN)
Transportes e armazenagem de cargas crescem com aumento das exportações e das vendas do comércio online (Foto: José Fernando Ogura-AEN)

Publicidade

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no quarto trimestre de 2021 surpreendeu não só pelo crescimento de 0,5% na comparação com o terceiro trimestre, mas também por melhorar o “carrego estatístico” para 2022, apontam economistas. No ano, a economia brasileira cresceu 4,6% e se recuperou das perdas de 2020.

Apesar da boa notícia, eles alertam que o país vem crescendo muito pouco há vários anos, que a previsão para a alta deste ano é bastante baixa (média de 0,3%, com algumas projeções de PIB negativo) e que 2022 será bastante desafiador em meio a uma nova realidade geopolítica mundial, inflação em alta, juros elevados por mais tempo e eleições presidenciais.

O efeito de “carrego estatístico” para 2022 é de 0,3 ponto percentual, segundo economistas consultados pelo InfoMoney. O “carrego estatístico” é quando o resultado de um trimestre causa um impacto positivo nos seguintes (assumindo taxas de variação nulas ao longo de ano).

Continua depois da publicidade

Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores, diz que esse “carrego” positivo e “os dados um pouco mais positivos em janeiro e fevereiro” podem melhorar o PIB de 2022, apesar da guerra na Ucrânia e suas consequências. “Nossa previsão é de 0,7%, mas vemos possíveis revisões pra cima”.

Rodolfo Margato, economista da XP, é mais cauteloso. A expectativa é de uma alta de 0,4% do PIB no primeiro trimestre, mas diz “a economia brasileira deverá enfraquecer nos próximos trimestres, refletindo fatores como aperto da política monetária, níveis de renda deprimidos e elevação das incertezas no ambiente econômico global”.

“Portanto, mantemos uma postura cautelosa a respeito das perspectivas de crescimento econômico. Projetamos estabilidade para o PIB de 2022”, aponta a análise da XP sobre o resultado do PIB.

Continua depois da publicidade

Alexandre Schwartsman, economista, consultor e colunista do InfoMoney, diz que o resultado do quarto trimestre surpreendeu principalmente devido ao crescimento do agronegócio e ele muda a previsão para 2022, “mas não muda muito”. “Não muda a perspectiva que você vai ter trimestre após trimestre com crescimento baixo. Não é uma mudança fundamental”.

Schwartsman aponta como problemas para este ano a inflação alta (e o conjunto de choques inflacionários devido à guerra na Ucrânia que deve mantê-la em patamares elevados), a alta dos juros para combatê-la e o impacto da variante ômicron do novo coronavírus no primeiro trimestre. “Tem razões conjunturais para o país crescer pouco em 2022”.

Marcos Ross, professor de economia da FGV e economista-chefe do Haintong no Brasil, analisa que os resultados do agronegócio e de serviços foram muito bons no quarto semestre, pelo lado da oferta, e pelo lado da demanda o consumo privado e do governo e os investimentos tiveram um crescimento mais forte, mas não houve “grandes surpresas” no resultado.

Continua depois da publicidade

“O destaque é mais o debate para 2022. Com o ‘carrego estatístico’, pelo menos estatisticamente o resultado ser um pouco melhor, mas tem muitos riscos para o ano. Tem um ciclo monetário mais forte do que o mercado estava esperando, tem risco geopolítico, tem o cenário interno que é desafiador, com as eleições”, elenca o professor da FGV. “É mais provável que tenhamos uma contração do PIB em 2022”.

‘É muito pouco’

Ross também diz que a questão do carrego estatístico “é uma discussão muito menor”. “Eu concordo nos termos técnicos, mas ainda assim não muda qualitativamente o resultado de 2022. Se vai ser uma contração de 0,2% ou um crescimento de 0,2%, é muito pouco. É muito menos do que o mundo está crescendo”.

Levantamento compilado pela Austin Rating aponta que a alta do PIB do Brasil em 2021 ficou em 21ª em ranking com 34 países, atrás do resultado de Holanda, México e Suécia e à frente da Espanha. Mas o Brasil tem a menor projeção de crescimento para 2022 (a segunda pior é a do México, de alta de 1,9%).

Continua depois da publicidade

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, diz que “historicamente o Brasil fica no meio ou na rabeira da tabela”, mas o problema maior do país não é a posição no ranking neste ano ou no ano passado, mas o baixo crescimento do país na última década.

Gráfico ranking mundial PIB Brasil 2021
Publicado no @infomoney via Instagram

“Se a gente pegar os últimos dez anos, de 2012 a 2021, na média o Brasil cresceu 0,4%. Os pares emergentes [Brics) cresceram 3,4%, o mundo cresceu 3% e mesmo os países desenvolvidos cresceram 1,2%”, compara Agostini.

“O mundo cresceu, os emergentes cresceram, e o Brasil não. Até os países desenvolvidos cresceram três vezes mais que a média do Brasil”, pondera o economista-chefe da Austin Rating. “Claramente isso mostra que o Brasil tem problemas que se sobressaem. O Brasil ainda tropeça nas próprias pernas. O que tem feito o Brasil crescer sempre de forma mediana é o baixo nível de investimento da economia e os problemas domésticos, principalmente fiscais”.

Continua depois da publicidade

“O quadro do Brasil já é anêmico e você adiciona uma pandemia que ainda não está controlada e você ainda adiciona em cima uma guerra que pode tomar proporções mundiais. E ainda tem eleição. Não dá para ser muito positivo com o crescimento do Brasil em 2022”, afirma Marcos Ross, professor da FGV.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.