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Os dados do setor de serviços em outubro, que mostraram volume 0,6% menor que em setembro e 0,4% abaixo do observado no mesmo mês ano passado, são o sinal mais forte até aqui da consolidação do cenário de esfriamento da atividade econômica, que vinha sendo adiado especialmente pelo mercado de trabalho aquecido. Os economistas destacaram a intensidade da queda, puxada pelos números dos serviços prestados às famílias e pelos transportes.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, destacou que a queda interanual do indicador da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) foi o segundo resultado negativo após 30 avanços seguidos nessa leitura. Já o índice mensal segue vindo pior que as projeções e acumulando o terceiro recuo consecutivo, devolvendo 2,3% nos últimos meses.
Ele citou que as contribuições negativas vieram dos transportes (-2,0%) e dos serviços prestados às famílias (-2,1%). “Enquanto os serviços prestados às famílias eliminaram boa parte do ganho de setembro, os setores de transportes têm sido impactados pela disseminação do encerramento das colheitas recordes e seu efeito no transporte de cargas (-2,7%)”, detalhou.
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Cadilhac alertou que é importante reconhecer que a intensidade da desaceleração de um setor importante da atividade econômica, o de maior peso e cuja dinâmica tende a ser mais inercial, tem sido maior que a esperado.
“De toda forma, ainda mantemos uma visão relativamente positiva para o último semestre, que deve flertar com variações do PIB próximas a zero. Para 2023, projetamos um avanço de 2,3% da Pesquisa Mensal de Serviços.”
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, também citou que a principal surpresa negativa veio de transportes e do serviços prestados às famílias, sendo que essa última categoria continua 5,2% abaixo do patamar pré-pandemia. “Daqui até o final do ano, o segmento de serviços deve continuar andando de lado, impactado pelo efeito dos juros ainda altos na economia”, estimou.
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Para ela, o dado de hoje corrobora a visão de desaceleração da atividade econômica no segundo semestre. “Nossa previsão é que o PIB do quarto trimestre apresente uma pequena contração e termine 2023 com expansão ligeiramente abaixo de 3%. Já para 2024, projetamos um crescimento do PIB de 1,5%”, previu.
Embora o resultado da PMS de hoje não altere a expectativa do C6 Bank de corte 0,50 ponto percentual na reunião do Copom de hoje, a projeção de crescimento do setor foi rebaixada, de uma alta anual de 2,6 para 2%.
Perda de tração
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, comentou que a resiliência apresentada nos serviços prestados às famílias vem perdendo tração ao longo dos últimos meses, com seu resultado acumulado em 12 meses desacelerando de 7,1% em agosto para 5% em outubro.
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“O movimento não deve ser visto como surpreendente, uma vez que estava claro desde o início do ano que haveria uma normalização dos resultados deste grupo, que passou por um processo de crescimento excepcional ao longo de 2022 em função da recomposição do nível de atividade pós-pandemia e dos estímulos fiscais cedidos pelo governo no segundo semestre”, explicou.
Segundo ele, o que chamou a atenção foi a resiliência desse grupo apresentada no decorrer do primeiro semestre de 2023, que foi sustentado por uma demanda agregada ainda consistente e por um mercado de trabalho aquecido.
Sobre a queda nos serviços de transporte, Pizzani alertou que o acompanhamento desta categoria é importante por sua elevada sensibilidade ao comportamento do ciclo econômico do país.
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Neste sentido, ele argumentou que que o arrefecimento é de certa forma compreensível, uma vez que o grupo representa uma combinação de diferentes fatores. O desaquecimento da produção e da demanda por bens industriais a procura por transporte rodoviário de cargas e afeta também o subgrupo de armazenagem e serviços de transporte auxiliares, que sofrem também com a desaceleração da produção agropecuária, cujas safras de maior porte já passaram.
A exceção em transportes em outubro, ficou por conta dos transportes aéreos, que tem apresentado um comportamento peculiar tanto em termos de volume quanto em termos de preço nos últimos meses, dado o volume elevado de eventos no Brasil, especialmente neste segundo semestre.
O economista da CM Capital disse ainda a consolidação do cenário de desaquecimento no setor de serviços após o crescimento desenfreado observado em 2022 levou mais tempo que o esperado.
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“Algo que deve ser atribuído ao comportamento do mercado de trabalho do setor, que segue se expandindo, ainda que em níveis moderados, à resiliência da demanda, ao elevado volume de eventos culturais e de entretenimento e à demanda significativa do setor de transportes em função da excelente performance do setor agropecuário.”
Para novembro, ele disse esperar algum movimento de correção para cima, motivado tanto pela base extremamente frágil do indicador, que vem de três quedas consecutivas, como pelo impacto de fortes fatores sazonais, como os eventos tradicionalmente ocorridos no mês, como a realização do GP de Fórmula 1 em São Paulo.
A CM Capital projeta crescimento de 2,4% para o setor de serviços em 2023 e de 1,1% em 2024.
A análise do Goldman Sachs é que a perda de impulso da reabertura econômica, as condições monetárias e financeiras internas restritivas e os níveis ainda elevados de endividamento das famílias, têm mitigado a melhora na renda propiciada pelos estímulos fiscais, a desinflação e os ganhos salariais.
Sinais para o BC
Nicolas Borsoi, economista chefe da Nova Futura, também comentou que os dados da PMS reforçam os sinais de perda de tração da economia, apesar da performance positiva no setor no trimestre anterior.
“É mais um dado que conversa com a perspectiva de aceleração do ciclo de cortes do BC, desfazendo em parte a percepção de força da economia após o PIB do 3º trimestre. Ainda acredito que o cenário de cortes de 0,50% é mais provável, mas as chances de um 0,75%, principalmente para janeiro ou março, estão aumentando, e rápido”, afirmou.
Maikon Douglas, analista da holding de investimentos Highpar, analisou que o setor está passando por uma correção mais forte do que se esperava nos últimos meses. “Embora venha de patamares muito elevados, fruto da enorme expansão vivenciada durante e após a pandemia, e apesar da expansão da renda média no mercado de trabalho”.