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O desafio do novo governo de encontrar uma solução para o problema fiscal é um ponto crucial para o comportamento da inflação em 2023, diz o economista André Braz, coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV). “A questão fiscal é um risco, porque pode mexer com as incertezas, afetar o câmbio e, por sua vez, os preços das commodities e dos combustíveis.” Quanto à volta da inflação em outubro, disse que o efeito do corte de impostos sobre combustíveis e energia elétrica chegou ao fim. A seguir, os principais trechos da entrevista:
O que essa virada de três meses de deflação para inflação em outubro indica?
A variação negativa do IPCA era muito sustentada pela renúncia fiscal do ICMS sobre gasolina, energia elétrica e serviços de telecomunicações. Se não fosse isso, o IPCA teria tido variação positiva. Ou seja, não era um efeito generalizado, mas sustentado por quedas pontuais. Tanto é assim que o índice de difusão, que mostra o porcentual de itens com variação positiva, permaneceu acima de 60% nesse período.
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O resultado do IPCA de outubro pode mudar a intenção do BC de começar a cortar juros a partir de meados de 2023?
Sim, porque o resultado veio um pouco acima das expectativas, e temos hoje pressões inflacionárias que preocupam. Alguns aumentos que sustentaram o resultado do IPCA de outubro são permanentes, como o reajuste dos planos de saúde. Neste caso, não há revisão para baixo, e a alta deve permanecer até o próximo reajuste. Também o índice de difusão de quase 70% no mês mostra que a inflação está bem espalhada. Isso acende a luz amarela para quem monitora a inflação. No entanto, o resultado de um mês não é suficiente para mudar o cronograma da política monetária. Acredito que a autoridade monetária vai prestar mais atenção a partir do resultado de outubro. À medida que os resultados de novembro e dezembro vierem um pouco acima do previsto, isso poderá indicar um adiamento do início do período de corte de juros.
O imbróglio fiscal que o novo governo terá de enfrentar é um risco para o aumento da inflação?
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É um risco, porque mexe com as incertezas, pode afetar o câmbio e, por sua vez, os preços das commodities e dos combustíveis. Tratar bem a questão fiscal é fundamental para que o novo governo diminua essa incerteza, buscando maior estabilidade cambial. Uma desvalorização do real é uma porta aberta para o aumento da inflação. Quanto mais informação houver sobre o futuro da política fiscal, e se ela for bem recebida pelos agentes econômicos, mais facilmente será possível controlar a inflação.
O ponto mais crucial para a inflação de 2023 é a questão fiscal?
Acho que sim. A questão fiscal preocupa porque é de onde foi tirado o fôlego para esse recuo abrupto da inflação em 2022. Se a questão não for bem equacionada, ela será um risco, que pode provocar desvalorização cambial mais forte, com desdobramento sobre a inflação.
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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.