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A nova surpresa positiva com a taxa de desemprego no Brasil em junho não representa risco inflacionário à frente, segundo a análise de economistas. Além de o indicador – que ficou em 8,0% no trimestre encerrado em junho e abaixo da previsões – estar fortemente atrelada à baixa taxa de participação, os especialistas destacaram que o rendimento médio continua “andando de lado” no ano, o que reduz as pressões inflacionárias.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, atribuiu a nova queda da taxa de desemprego à elevação da população ocupada, que subiu em mais de 1 milhão de pessoas no trimestre. “Uma outra boa notícia foi a estabilização da taxa de participação, que vinha apresentando queda desde o 4º trimestre de 2022 e ficou estável no trimestre findo em junho, na comparação com março”, comentou.
Ela também destacou o comportamento dos salários. “Apesar da queda na taxa de desemprego ser significativa, de 9,3% para 8,0% em 12 meses, o rendimento real médio está estável na margem, o que indica que a melhora no mercado de trabalho não vem trazendo pressão inflacionária adicional e não deve ser uma preocupação para o início de corte da Selic pelo Copom a partir de agosto”, afirmou.
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A economista comentou ainda que esse comportamento sugere que o nível da taxa natural de desemprego da economia pode ser menor que o estimado, indicando melhora estrutural no mercado, o que pode ser resultado de reformas recentes como a trabalhista.
“Uma recuperação da taxa de participação futuramente pode também oferecer espaço para maior crescimento do emprego sem pressionar a inflação e deveria ser foco de políticas públicas nesse sentido”, defendeu.
Alexandre Maluf, economista da XP Investimentos, citou como particular importância na divulgação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) que a taxa de desemprego mensal dessazonalizada caiu para 7,8% em junho, de 8,1% em maio. “O indicador está nos menores níveis desde o 2º trimestre de 2015”, comparou.
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Ele comentou ainda que a população ocupada cresceu pelo quinto mês consecutivo, embora modestamente (0,2%), para 99,3 milhões de pessoas, e que a força de trabalho também aumentou 0,2%, para 107,6 milhões.
Outro indicador importante citado foi a taxa de participação na força de trabalho, que segue significativamente abaixo dos níveis pré-pandêmicos – de 61,6% em junho de 2023 ante 63,4% em fevereiro de 2020.
Maluf também deu atenção à estagnação do rendimentos reais do trabalho nos últimos meses. O rendimento médio real usual do trabalho avançou levemente (0,2%) em junho, ante queda de 0,5% em maio.
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“O indicador praticamente estabilizou no primeiro semestre de 2023, após uma forte retomada ao longo de 2022 – está cerca de 0,5 ponto percentual abaixo do período pré-covid). A dinâmica do rendimento médio real efetivo do trabalho é semelhante”, destacou
Ele comentou ainda que a massa de renda real do trabalho vem perdendo força no período recente, embora ainda mostre um crescimento acumulado de 6,7% nos últimos 12 meses – o indicador está girando cerca de 4% acima do pré-pandemia.
Sobre as expectativas, o economista da XP prevê que o mercado de trabalho brasileiro vai desacelerar gradualmente no segundo semestre de 2023, em linha com o arrefecimento da atividade doméstica. A projeção é que taxa de desemprego deverá terminar 2023 em cerca de 8,5%, com taxa média de 8,4% no ano, abaixo dos 9,3% do ano passado.
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Desaceleração gradual
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, comentou que, como não ocorreu uma entrada maciça de pessoas no mercado de trabalho no 2° trimestre, não ocorreu pressão nas curvas de salário e, consequentemente, maior pressão inflacionária. “Houve uma queda significativa na taxa de desemprego que não foi acompanhada de aumento de rendimento”, enfatizou o economista.
Marco Caruso e Igor Cadilhac, economistas do PicPay, também consideram que a taxa de participação vem sendo o pilar da análise do mercado de trabalho há um tempo e que a mudança de tendência na ponta captada em junho pode indicar uma desaceleração, ainda que não tenha refletido nos números mais recentes.
“De modo geral, como era esperado, a leitura qualitativa do indicador é de que o mercado de trabalho segue forte, inclusive nos surpreendendo em termos de menor desemprego. No entanto, olhando à frente, entendemos que a perda do fôlego da atividade econômica em conjunto com o aumento da taxa de participação corrente, contribuirão para um aumento da taxa de desemprego de forma lenta”, estimaram. Para 2023, a projeção do PicPay é de uma taxa média de desemprego de 8,4%.
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Claudia Moreno, economista do C6 Bank, por sua vez, destacou que a composição da PNAD mostrou aumento tanto na população economicamente ativa (PEA) quanto na população ocupada. “O crescimento da PEA indica uma leve melhora na dinâmica do mercado de trabalho na medida em que aumentou o número de pessoas que buscam emprego.”
Sobre o rendimento médio real habitual, o comentário foi que ele continua “andando de lado” nos últimos meses, permanecendo abaixo do patamar pré-pandemia. Mas a economista ponderou que, na comparação com igual período do ano passado, ainda acumula alta de 6,2%.
“Na nossa visão, o segundo semestre deste ano deve ser marcado por uma desaceleração mais acentuada nos dados de atividade, o que impactar negativamente o mercado de trabalho. No entanto, acreditamos que a taxa de desemprego deve ficar abaixo de 8% ao final de 2023. Vale lembrar que estes patamares se encontram abaixo da média histórica brasileira, que é de cerca de 10%. Para 2024, nossa projeção é que a taxa de desemprego termine o ano perto de 8%”, disse Claudia.
Adriana Dupita, economista sênior para Brasil e Argentina na Bloomberg Economics, também destacou que o relatório de junho mostrou mais ganhos de empregos sem qualquer indício de pressões inflacionárias dos salários, “uma combinação bem-vinda para os formuladores de políticas brasileiros”.
Ela comentou ainda que a renda média do trabalho ajustada pela inflação aumentou 0,1% em junho em relação ao mês anterior, não se recuperando totalmente da pandemia. A renda total aumentou 0,6% em junho, sustentada pelo aumento do emprego, mas que isso tem suporte lento ao consumo das famílias num ambiente de juros altos.
Para Adriana, é improvável que os dados mudem os planos do Banco Central de começar a relaxar sua política monetária restritiva na reunião de 2 de agosto. “Esperamos que reduza os juros em 50 pontos-base após manter a Selic em 13,75% por quase um ano”, estimou.