Serviços às famílias sentem o peso do crédito restrito e do nível de endividamento, dizem analistas

Embora a atividade de serviços esteja 11,5% acima do nível pré-covid, serviços para residências ainda estão 4,2% abaixo do patamar anterior

Roberto de Lira

(Divulgação/FreteBras)
(Divulgação/FreteBras)

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O avanço de 1,1% do setor de serviços em fevereiro foi bastante concentrado no volátil segmento de transportes e os dados mais fracos nos serviços às famílias – após dois meses de alta – apontam para uma acomodação no ano, dizem analistas. Endividamento alto das famílias, condições de crédito mais apertadas e perda de força da retomada pós-pandemia são os fatores listados pelos especialistas para justificar a estimativa.

O Goldman Sachs destaca em relatório que a expansão da atividade de serviços em fevereiro foi impulsionada por 3 das 5 grandes categorias: transporte e armazenamento, informação e comunicação e outros serviços. Por outro lado, os serviços a domicílios contraíram 0,7% em relação ao mês anterior.

O texto assinado pelo economista Alberto Ramos adverte que o setor tem mostrado impressões mensais muito voláteis – uma alta de 3,0% em dezembro, seguida por uma queda em igual proporção em janeiro e, agora, uma expansão de 1,1% – e que os filtros sazonais mostram grandes descontinuidades em determinados intervalos.

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O banco de investimentos lembra que a atividade de serviços está agora 11,5% acima do nível pré-covid (fevereiro de 2020), com resultados diversos: os serviços para residências ainda estão 4,2% abaixo daquele patamar, mas TI e comunicações estão 18,2% acima e os transportes estão 21,2% mais altos que na fase anterior à pandemia.

Para o restante do ano, é esperado que a atividade de serviços se beneficie dos estímulos fiscais renovados de transferências federais para as famílias de baixa renda (que têm alta propensão a consumir), além da expansão da renda real do trabalho e da redução da inflação.

Por outro lado, deve-se esperar o enfraquecimento do impulso da reabertura econômica e impactos das condições monetárias e financeiras domésticas apertadas e dos altos níveis de endividamento das famílias. Tudo isso tende a desembocas numa confiança fraca do consumidor e das empresas e na reviravolta no ciclo de crédito.

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Rodolfo Margato, economista da XP Invstimentos, também está mantendo a previsão de desaceleração para a maioria dos segmentos de serviços nos próximos meses, em linha com a dissipação do impulso “pós-covid”, a estabilização do mercado de trabalho e a piora da indústria. “A receita real do setor de serviços deve aumentar cerca de 2,5% este ano”, prevê.

Recuperação desigual

Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, a análise da pesquisa mensal de serviços mostra que alguns setores não só recuperaram o patamar pré-pandemia, como também cresceram desde então.

“É o caso de serviços de informação e comunicação, que subiu 8,7% frente a fevereiro de 2022. O mesmo movimento aconteceu com transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, que aumentou 5,2% na mesma comparação anual”, lista.

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Ele lembra que o avanço desses dois segmentos, que têm um peso de mais de 50% do cálculo da PMS, pode refletir algumas mudanças de hábito impulsionadas pela pandemia e que se mantiveram, caso das assinaturas de streaming (que entram em serviço de informação e comunicação) e das compras online (nos serviços auxiliares ao transporte e correio).

Mas, apesar do resultado positivo de fevereiro, alguns segmentos não se recuperaram tão bem. “É o caso dos serviços prestados às famílias, que têm um peso importante no cálculo do PIB, e encolheram 0,7% em fevereiro”, pondera.

“Na nossa visão, serviços devem começar a sentir mais fortemente daqui para a frente o efeito dos juros altos, devendo, por isso, andar de lado ao longo de 2023.”

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Já Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, afirma que a divulgação pelo IBGE de todos os dados setoriais de fevereiro dá uma visão mais clara da desaceleração da atividade no País. “Dos três principais setores, apenas serviços teve alta, de 1,1%, mas ainda longe de recuperar a queda de 3% observada em janeiro”, comenta em relatório do banco.

“O resultado de serviços sugere que foi efeito de uma correção parcial, especialmente quando analisamos que a principal influência do resultado foi a alta em transporte, que em janeiro haviam recuado fortemente”, pondera. “Observamos a continuidade de desaceleração no setor, que vem sendo a base da atividade econômica brasileira no pós-pandemia”, completa.

Enquanto isso, a produção industrial deu sequência à sua fase de fragilidade, apresentando o terceiro resultado mensal negativo consecutivo, fruto de uma menor produção de bens de capital.

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Por fim, destaca Rafaela, o varejo – que surpreendeu positivamente em janeiro, com alta de 3,8% – voltou a recuar em fevereiro, mas de maneira tímida, liderado pelo varejo ampliado. “Entretanto, esse desempenho melhor que o esperado do varejo ampliado não altera a perspectiva para o setor, que deve sofrer ao longo do 2º trimestre com a desaceleração no crédito, que ainda não se manifestou de forma contundente nos dados setoriais”, analisa.

“Nossa expectativa é de desaceleração gradual da atividade nos próximos meses, refletindo piores condições de crédito, menor demanda e a política monetária em patamar excessivamente restritivo.”

Para o Itaú, a receita real do setor de serviços tem apresentado alta volatilidade recentemente. “Apesar disso, esperamos uma desaceleração gradual nos próximos meses, em meio ao impacto defasado da política contracionista”, comentam em relatório os analistas Natália Cotarelli e Matheus Felipe Fuck.