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Uma queda mais homogênea na produção industrial brasileira foi o destaque do indicador referente a julho divulgado nesta terça-feira pelo IBGE, segundo a opinião de analistas. Nos meses anteriores, a indústria extrativa vinha mostrando desempenho positivo, dado que a atividade sobre menos interferência da política monetária restritiva, mas isso mudou no mês retrasado.
Segundo o IBGE, o recuo das atividades extrativas foi de -1,4% no mês, enquanto a indústria de transformação caiu 0,4% no mês, na quarta retração consecutiva. Com isso, a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) mostrou queda de 0,6% na comparação mensal e de 1,1% na anual em julho.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, destaca que, dos quatro grandes grupos econômicos pesquisados pelo IBGE, três vieram com resultado negativo no mês: bens de capital (-7,4%), bens de consumo duráveis (-4,1%) e bens intermediários (-0,6%).
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“Desses três, o mais afetado é o de bens de capital, que encolheu 16,9% na comparação com julho de 2022, mostrando como o juro alto por período prolongado inibe o investimento para ampliação da capacidade instalada de máquinas e equipamentos”, explicou a economista.
Ela também comentou que o mau momento não surpreende, uma vez, que olhando para a série histórica, o volume da produção da indústria brasileira segue estagnado desde meados de 2021. “Na nossa visão a indústria deve seguir em ritmo fraco até o final do ano, refletindo o impacto dos juros altos por período prolongado e desaceleração global da economia”, previu.
Mesmo com essa estimativa, o C6 bank revisou para cima sua projeção de PIB para 2023, de 2,5% para 3%. A projeção para 2024 também foi elevada, de um crescimento de 1% para 1,5%. Isso por conta dos dados fortes do PIB do segundo trimestre, divulgados na última sexta-feira (1).
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João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, também destacou o fraco desempenho das indústrias extrativas como responsável pela queda da PIM ter superado as estimativas. Além disso, a indústria de transformação, como esperado, segue mostrando recuos consecutivos na margem. “As atividades da indústria de transformação continuam sofrendo com as condições financeiras ainda muito restritivas”, comentou.
Savignon disse que o indicador deixou um carrego (carry-over) de -0,5% para o 3º trimestre de 2023. “Nossas projeções apontam para um resultado próximo da estabilidade para a indústria no ano”, afirmou.
Para ele, os desafios para o setor industrial seguem inalterados, com uma conjuntura econômica desafiadora no ano. “Especialmente no que diz respeito à perspectiva de menor fôlego da demanda por bens (o que mantém os estoques elevados) e manutenção dos juros elevados (maior custo do crédito e endividamento).”
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Na análise do Santander Brasil, assinado por Gabriel Couto, os dados de julho mostraram alguns sinais preocupantes, uma vez que até a mineração apresentou queda. Além disso, os bens de capital continuam a indicar uma tendência muito negativa e o índice de difusão manteve-se em níveis baixos.
“Acreditamos que os efeitos contracionistas das condições financeiras instáveis começaram a se materializar no 3º trimestre, afetando principalmente os setores relacionados a bens. Em nossa opinião, as condições financeiras restritivas deverão continuar a sufocar o desempenho da produção industrial e das vendas no varejo nos próximos trimestres”, diz o relatório do Santander.
O analista também comentou que permanecem os sinais de desaceleração para a atividade global, uma vez que esperamos que segmentos mais cíclicos devem sofrer com as condições financeiras altamente restritivas. “Além disso, esperamos que o impacto positivo das safras recordes de verão fique limitado ao 1º trimestre e ao início do 2º trimestre.”
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Abaixo do pré-pandemia
Os economistas do PicPay, Marco Antonio Caruso e Igor Cadilhac, lembraram em sua análise que a indústria brasileira ainda se encontra 2,3% abaixo do nível pré-pandemia e que, em julho, prevaleceu a disseminação de taxas negativa, com 15 atividades registrando queda na comparação com o mês anterior.
“Além disso, somente uma das quatro grandes categorias econômicas expandiu. Os destaques negativos ficaram com os setores de veículos automotores, reboques e carrocerias (-6,5%) e indústrias extrativas (-1,4%), que devolveram parte dos ganhos prévios”, citaram.
Ele explicaram que, após o setor de veículos surfar um bom momento com o incentivo do governo federal para a aquisição de carros populares, as condições conturbadas nas fábricas voltaram a predominar. “Por outro lado, apesar do resultado negativo no mês, a indústria extrativa segue sendo o principal impacto positivo em termos anuais.”
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Sob a ótica das categorias, eles destacaram os bens de capital, que seguiram em tendência de queda, recuando 7,4% e atingindo o menor patamar desde agosto de 2020. “Analisando estes dados em conjunto com os insumos típicos para a construção civil (0,1%), percebemos que o desempenho da proxy do PIB de investimentos piorou na ponta”, alertaram
Para os economistas do PicPay, segue válida a projeção de uma ligeira alta de 0,2% para a produção industrial brasileira no ano. Entre as preocupações que colocam um viés baixista para a estimativa, eles citaram a expectativa de menor crescimento na economia global, com a China enfrentando carência de demanda, e os juros altos e alto comprometimento de renda das famílias, que são ruins para consumo de bens de maior valor agregado e dependentes de crédito.
Para o Goldman Sachs, a queda da PIM em julho foi impulsionada por contrações mensais consideráveis na produção de bens de capital e duráveis. “No futuro, espera-se que o setor industrial enfrente obstáculos decorrentes do impacto desfasado de condições financeiras mais restritivas, da diminuição dos retornos marginais resultantes da normalização da atividade pós-pandemia, de condições de crédito mais exigentes e de uma procura externa mais fraca.
Maykon Douglas Rodrigues Feitosa, da HighPar, por sua vez, lembrou que três das quatro grandes categorias econômicas apresentaram recuo, mostrando um perfil disseminado de taxas negativas. Ele disse ainda ver um cenário desafiador ao setor, que é o mais prejudicado por questões estruturais e pela perda de força da demanda, devido aos juros elevados.
Para a XP, as atividades mais sensíveis aos impulsos fiscais e as ligadas às matérias-primas ainda apresentam um bom desempenho, reforçando as projeções para o PIB de 2023, enquanto as atividades mais sensíveis às taxas de juro continuam a enfrentar dificuldades. “A categoria de bens de capital exemplifica este último caso.”
Apesar na queda na margem, a XP destacou que a indústria de mineração expandiu 2,3% no trimestre móvel. “Esta atividade, pouco sensível à política económica, avançou cerca de 10% face ao final do ano passado”, diz relatório.
A estimativa preliminar para a produção industrial de agosto é de um crescimento de 0,4% na comparação mensal e de 0,3% na anual. “Projetamos que a indústria brasileira em geral crescerá cerca de 0,5% em 2023.”
Já o XP Tracker para o crescimento do PIB no 3º trimestre aponta para uma retração na comparação com o trimestre anterior e uma alta de 1,9% ante o mesmo trimestre do ano passado.
Já na opinião do Bradesco, a indústria segue com baixo dinamismo desde o pós-pandemia, tendência que deve ser mantida no restante do ano. “O crescimento robusto do PIB este ano, a despeito da estabilidade da indústria, reflete a importante contribuição do setor agrícola e maior resiliência do setor de serviços.”
Para o Bank of America (BofA), num contexto de condições de crédito restritivas e de elevados níveis de estoques, a recuperação da demanda permanece incerta. “O índice de confiança do setor continuou a diminuir à medida que surgem preocupações relativamente ao elevado endividamento das famílias e às condições de mercado desfavoráveis. Olhando para o futuro, nossa previsão preliminar para a produção industrial e de um declínio de 0,1% em agosto.”