Tendência de demissões voluntárias nos EUA iniciada na pandemia chegou ao fim, diz especialista

A chamada "Grande Renúncia" perdeu força devido à instabilidade da economia e melhores condições de emprego

Roberto de Lira

(Noam Galai/Getty Images)
(Noam Galai/Getty Images)

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A chamada “Grande Renúncia”, a tendência de demissões voluntárias em massa no trabalho norte-americano – iniciada com a pandemia de covid-19 – chegou ao fim. Quem decretou isso foi o próprio professor de administração Anthony Klotz, que cunhou o termo em 2021. Em entrevista para a BBC, o especialista, que hoje está na University College London, disse que os últimos dados como o do relatório Jolts, de vagas e rotatividade de emprego nos EUA, apontam para uma normalização em patamares pré pandêmicos.

“Olhando para os números gerais de demissões e vendo que eles voltaram aos níveis de 2019, acho que podemos dizer que acabou. Não é apenas um simples liga e desliga, é claro, mas parece que estamos no final”, disse Klotz em entrevista.

Nos EUA, essa “Grande Renúncia” significou que 47 milhões de pessoas pediram demissão em 2021 e mais 50 milhões o fizeram em 2022, segundo dados do Departamento do Trabalho.

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Agora, no entanto, o êxodo foi interrompido, pelo impacto da atual instabilidade econômica no mercado de trabalho, algo o que os trabalhadores que pediram demissão durante a pandemia não lidaram, segundo o acadêmico.

“Mesmo que você queira largar o emprego, olha para o mercado (agora) e pensa: ‘talvez eu não deva’”, comentou Klotz. “A economia desacelerou, há demissões nas manchetes e avisos de que a Inteligência Artificial vai tirar todos os empregos. Tudo isso faz as pessoas pensarem duas vezes antes de pedir demissão.”

O professor comentou ainda que o trabalho melhorou para milhões de pessoas nos últimos dois anos. “Muitos empregos são mais flexíveis, em muitos empregos o pagamento é muito mais justo do que antes da pandemia e, em muitos casos, os benefícios foram melhorados. As empresas levaram o bem-estar dos funcionários mais a sério nos últimos anos e investiram muito mais em tornar seus locais de trabalho mais inclusivos e diversificados”, comentou.

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A reportagem da BBC cita que a satisfação no trabalho agora é maior do que em quase quatro décadas, de acordo com dados de pesquisa do Conference Board, um “think tank” sem fins lucrativos que rastreia a satisfação no trabalho desde 1987. Em uma pesquisa do final de 2022 com quase 2 mil trabalhadores americanos, mais de 60% relataram estar satisfeitos com o trabalho, e alguns dos mais satisfeitos foram aqueles que trocaram um emprego por outro melhor durante a pandemia.

“Falando de modo geral, os funcionários estão realmente mais felizes do que nunca. A economia não pode explicar isso tanto quanto a realidade de que, por causa dos últimos dois anos, os empregadores tiveram que melhorar. Agora você tem pessoas que estão dizendo: não vou largar meu emprego porque meu trabalho é realmente muito bom”, disse Klotz.

Mas, embora o quadro geral mostre que a “Grande Renúncia” pode estar diminuindo no geral, algumas indústrias ainda estão sentindo a dor da demissão em massa, especialmente em certos setores.

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Segundo professor, as taxas de demissão nos segmentos de saúde, manufatura e construção ainda estão bem acima dos níveis de 2019. “Quando você diz que a ‘Grande Renúncia’ acabou, provavelmente haverá pessoas que estão liderando organizações de saúde ou manufatura que ainda estão realmente lutando para encontrar trabalhadores ou com alta rotatividade. Eu diria que o que vem a seguir é apenas um mercado de trabalho instável.”

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