Quando o misterioso Satoshi Nakamoto lançou o Bitcoin (BTC) no final de 2008, a ideia dele (ou dela) era que o usuário fizesse a própria custódia de suas criptomoedas em carteiras digitais. No white paper (manual) do ativo, ele não menciona a criação de exchanges. Para ser direto, Nakamoto tinha certa aversão a entidades tradicionais e queria distância de qualquer intermediário.
O fato, no entanto, é que o mercado cripto cresceu. Nesses 14 anos de história, novas empresas do setor foram criadas e assumiram o meio de campo no trade e na custódia de ativos digitais. Recentemente, bancos digitais e corretoras de valores também lançaram suas próprias plataformas de negociação cripto para morder um pedaço desse setor que movimenta bilhões de dólares.
Apesar da entrada desses novos players, investidores com cripto em plataformas terceirizadas que desejam seguir à risca o que dizia Nakamoto e ser o “próprio banco” têm liberdade para fazer isso. Basta transferir os ativos para carteiras de criptomoedas. Vale informar, no entanto, que bancos digitais e corretoras no Brasil ainda não liberam essa função. Eles ainda estão estudando a melhor forma de disponibilizar a opção.
Como fazer a transferência de criptomoedas para carteiras em exchanges
Transferir criptomoedas de uma exchange para uma carteira digital é simples. Primeiro, é preciso escolher o modelo. Há dois principais tipos: hot wallets (carteiras quentes), que são conectadas à internet, e cold wallets (carteiras frias), que não ficam conectadas à rede – essas últimas são dispositivos semelhantes a pen drives.
As hot wallets são mais recomendas para pessoas que usam criptoativos no dia a dia para pagamentos, trade etc. As cold wallets são melhores para guardar grandes quantidades de ativos, pois são mais seguras. Ambos os tipos têm seus endereços próprios – uma sequência de caracteres usadas na transação, como números de contas bancárias.
Depois de escolhido o modelo da carteira, basta ir na corretora onde as criptomoedas estão guardadas, inserir o endereço da carteira e fazer a transferência. As exchanges de criptomoedas normalmente cobram taxas. Além disso, as redes blockchain também têm suas tarifas. No Ethereum (ETH), por exemplo, ela chama “gás”.
Cada tipo de criptomoeda tem um endereço próprio. Se por acaso um Bitcoin for enviado para uma carteira do Ethereum, o valor é perdido e não há como reavê-lo, pois não há serviço de recuperação de criptos na blockchain. Por isso, é muito importante tomar cuidado e verificar se a numeração está correta antes de fazer qualquer transferência.
Plataformas terceirizadas ou carteiras?
As duas possibilidades têm lados positivos e negativos.
Quando o investidor deixa criptos nas exchanges ou bancos digitais, ele pode ficar despreocupado com a custódia. A segurança é de responsabilidade das empresas. Caso aconteça algum problema – hack, perdas dos fundos ou outro qualquer – é a entidade que responde por isso. No Brasil, por exemplo, os investidores são protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor.
O ponto negativo de deixar em plataformas terceirizadas é que elas, por movimentarem muito dinheiro, são mais visadas por hackers. Em janeiro deste ano, cerca de US$ 34 milhões foram roubados de 483 contas da corretora cripto Crypto.com, baseada em Cingapura.
Entretanto, por estarem na mira de hackers, as corretoras criptos costumam investir bastante em segurança.
No caso das carteiras privadas, o lado positivo é que o investidor é seu próprio banco e não tem que arcar com as taxas das corretoras. Além disso, como a quantia movimentada é menor, há menos chances hack, desde que o investidor se proteja de vírus e programas maliciosos.
Mas se por um lado cuidar do próprio dinheiro é positivo e menos custoso, também joga maior responsabilidade nas costas do investidor. Quem faz a custódia dos próprios tokens não pode de forma alguma perder a “seed” (semente, em português) gerada logo a criação da carteira.
Essa seed é uma sequência de 12 a 24 palavras (em inglês) que funciona como uma senha de recuperação de sistema. Se ela for pedida, é impossível ter acesso às criptos. Na blockchain, não há uma empresa ou entidade no controle para solucionar os problemas dos usuários, como nos bancos e nas exchanges.
Em 2021, um programador alemão chamado Stefan Thomas contou para o jornal The New York Times que perdeu a senha do dispositivo que daria acesso a dados para acessar seus 7 mil BTC. Na época em que a reportagem foi publicada, o prejuízo estimado de Thomas estava na casa de US$ 1 bilhão.
Bancos e corretoras
Os bancos digitais e corretoras brasileiras que lançaram plataformas de negociação de criptomoedas no Brasil ainda não liberaram a função de transferir ativos para carteiras privadas.
A Mynt, do BTG Pactual, disse em seu site que a função de retirada ainda não está disponível, mas que está “estudando formas para garantir a melhor experiência possível” para os usuários.
Contatado, o Nubank informou que constantemente explora oportunidades para desenvolver ou implementar novas funcionalidades em seus produtos, mas que no momento a experiência “Nubank Cripto permite a compra, venda e manutenção de Bitcoin e Ethereum” na plataforma. Ou seja, não é possível transferir.
A Xtage, plataforma de negociação de criptomoedas da XP Inc. que entrou em operação no mês passado, também não permite a transferência de moedas digitais para carteiras ou outras plataformas. Contatada, a empresa disse que no momento não quer falar sobre o tema.