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SÃO PAULO – Uma das maiores empresas de fotografia das últimas décadas, a Kodak viu suas ações dispararem 1.167% em dois dias nesta quarta-feira (29) em meio a notícias de que irá produzir ingredientes farmacêuticos para ajudar na pandemia do coronavírus.
Os papéis da empresa já haviam saltado mais de 200% na véspera, quando o governo de Donald Trump anunciou um empréstimo de US$ 765 milhões para a Eastman Kodak lançar um novo negócio focado em ingredientes para medicamentos.
“Nunca mais queremos confiar em remessas da China ou de outros lugares para obter suprimentos médicos que salvam vidas”, disse o governador de Nova York, Andrew Cuomo, em comunicado.
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A Kodak, que tem sede em Nova York, já tem familiaridade com o negócio de produtos químicos, já que produzia filmes fotográficos. Agora, seu plano é apoiar “a auto-suficiência dos EUA na produção dos principais ingredientes farmacêuticos necessários para manter nossos cidadãos seguros”, segundo o presidente executivo da empresa, Jim Continenza.
Nesta quarta, as ações fecharam com ganhos de 318%, a US$ 33,20, depois de chegarem a saltar 572% na máxima do dia e terem os negócios paralisados mais de uma vez.
A Kodak entrou com pedido de falência em 2011, conseguindo se recuperar em 2013. Desde então, os papéis chegaram a bater uma máxima histórica de US$ 37,20 em 9 de janeiro de 2014, para depois chegar a uma mínima de US$ 1,55 em 23 de março deste ano.
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Diante deste cenário de tamanha volatilidade para os ativos, hoje não existe nenhuma corretora ou banco que cobre a companhia. Ou seja, não existe nenhum preço-alvo ou análises mais detidas de instituições financeiras que possam ajudar os investidores a entenderem o que este movimento significa em relação aos múltiplos dela.
Alta é exagerada?
Para mostrar a dificuldade de fazer o valuation da Kodak neste momento, Allen Root, ex-estrategista do banco de investimentos R.W Baird, apresentou o que este empréstimo significa para a companhia em um artigo publicado no MarketWatch.
Segundo ele, as ações da companhia estavam acima de US$ 17 em 2015, operando a um múltiplo de 0,4 vezes suas vendas. Hoje pela manhã, já era mais de 1 vez suas vendas, com os papéis em cerca de US$ 21.
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Mas seria isso muito alto? Para comparar, Root destaca que este novo negócio da Kodak pode ser caracterizado como de “produtor de medicamentos genéricos”, setor em que as companhias, em média, negociam a 1,5 vez as vendas.
Porém, é preciso destacar que a Kodak não tem nem mesmo seu negócio de medicamentos montado e, quando começar a operar nesta área, ela não será sua fonte exclusiva de receitas.
Ainda segundo Root, os fabricantes de medicamentos genéricos tem cerca de US$ 1 em ativos para gerar US$ 0,40 em vendas. Com base nisso, o empréstimo de US$ 765 milhões do governo para a companhia poderia gerar vendas entre US$ 300 e US$ 400 milhões.
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Porém, a conta não é tão simples, já que os investidores ainda precisam adicionar outros fatores nesta conta, como as dívidas, o que torna o valuation bastante complicado.
“Não há uma maneira ótima de saber até onde a ação pode ir no curto prazo desta transformação”, conclui ele, mas destacando que a alta faz sentido e que este empréstimo do governo mais que dobrou o tamanho da Kodak da noite para o dia.
Ato de Produção de Defesa
Este empréstimo feito pelo governo para a Kodak está dentro do chamado Ato de Produção de Defesa, que foi invocado por Donald Trump ainda em março, no início da pandemia.
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Por meio desta medida, o presidente tem um amplo conjunto de medidas ao seu dispor para moldar a base industrial do país, de modo que seja capaz de fornecer materiais e bens essenciais necessários em uma crise de segurança nacional.
No anúncio, o governo americano disse que este acordo com a Kodak foi o primeiro do tipo. Anteriormente, Trump usou o Ato de Produção de Defesa para exigir que a montadora Ford fabricasse respiradores e máscaras e que a General Motors fizesse ventiladores.
Além disso, o governo concedeu US$ 354 milhões para a Phlow Corp. em maio para começar a produzir ingredientes farmacêuticos ativos e outros itens para medicamentos.
Porém, estas medidas tem levantado questionamentos de analistas, que se perguntam por que acordos do tipo não foram concedidos para empresas como a Amneal Pharmaceuticals, Mylan e Teva Pharmaceutical Industries, já que todas elas já fazem fabricação de medicamentos genéricos.
“Achamos intrigante o motivo pelo qual as empresas farmacêuticas que têm as capacidades e o conhecimento para isso ainda não receberam esses contratos”, disse Ami Fadia, do SVB Leerink, a investidores nesta quarta. “Trazer a fabricação de produtos farmacêuticos de volta aos EUA não é tarefa fácil e (continuamos) acreditando que os principais fabricantes de genéricos farão parte da solução”.
Atualmente, a maior parte dos fabricantes de medicamentos não produzem seus ingredientes ativos nos EUA, sendo que muitos preferiram países de menor custo, como China e Índia, para adquirir parte ou todos os itens. Com a pandemia, isso tem pesado e atrapalhado o andamento de estudos de combate ao coronavírus.
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