Ações da Petrobras (PETR4) sobem com investidor mirando mais fundamento e dividendos do que troca de CEO

Analistas avaliam que a empresa está descontada em relação a seus pares e com boas perspectivas de rentabilidade com petróleo em alta

Rodrigo Petry

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Apesar da percepção negativa do mercado por conta de mais uma mudança de seu presidente, as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) registram novo pregão de alta na abertura dos negócios nesta quinta-feira (26). Por volta das 10h48, as ações ON e PN (PETR3;PETR4) subiam, respectivamente, 0,71% e 1,22%.

Ontem, os papéis já haviam recuperado parte das perdas ocorridas na sessão posterior ao anúncio da indicação de Caio Paes de Andrade para o lugar de José Mauro Ferreira Coelho, para o cargo de CEO. No ano, as ações ONs sobem 11,77% e as PNs 10,90%.

Mesmo com o risco político envolvido na troca, as ações da Petrobras refletem não só a valorização do preço do petróleo, em disparada desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia (hoje a cotação do barril do Brent sobe 1,42%, a US$ 115), como também os bons fundamentos da empresa.

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Além disso, a companhia vem adotando uma generosa política de distribuições de dividendos, com um dividend yield (rendimento do dividendo) acima de 20%.

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Fundamento

“Basicamente, a ação da Petrobras não sofreu grandes alterações ou grandes perdas porque o petróleo continua subindo, permanecendo acima dos US$ 100 dólares. No cenário global, o fluxo de compra continua indo para todas as produtoras de petróleo no mundo, como a Petrobras”, diz Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos.

Conforme analistas, o valuation (valor da empresa) continua atrativo e os dividendos altos. A avaliação da Petrobras está na faixa de 2,4 a 2,5 vezes EV/Ebitda – indicador que mostra o valor justo de mercado de uma empresa –, frente a 3,4 vezes seus pares internacionais.

“Essa conjuntura de fatores faz com que a ação não sofra grandes perdas”, acrescentou Cunha, para quem as mudanças do governo “se parecem mais com uma retórica”, do que uma interferência direta.

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Para Waldir Morgado, sócio da Nexgen Capital, o mercado vem interpretando a troca de CEO como um gesto político, para demonstrar “que está preocupado com a escalada dos preços”, mas sem efeito prático na atual politica de preços.

“A mão do mercado está muito pesada para a Petrobras há tempos”, ressaltou Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos.

E um dos motivos, acrescentou Arbetman, passa pela questão da governança, já que a petroleira opera com margens “sólidas, baixo custo de extração” e deve manter rentabilidades altas com o Brent acima de US$ 110.

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Governança

Enquanto isso, a expectativa fica agora por conta da data em que será realizada a Assembleia Geral Extraordinária (AGE), que deve destituir Coelho, assim como todos os demais conselheiros eleitos pelo voto múltiplo em 13 de abril, elegendo Paes de Andrade, primeiramente como membro, e depois como CEO da Petrobras.

Isso porque o Conselho de Administração decidiu esperar algumas etapas antes de convocar a AGE. Entre elas, aguardar que o nome de Paes de Andrade seja submetido ao processo de governança interna, diante da política de indicação de membros da alta administração, para a análise dos requisitos legais e de gestão e integridade e posterior manifestação do Comitê de Pessoas.

Adicionalmente, o governo ainda precisa enviar as indicações dos demais sete membros para o conselho, com o respectivo enquadramento de ambos pelo Comitê de Pessoas. “Após as mencionadas etapas, o Conselho se reunirá novamente para deliberar sobre a convocação da AGE “, informou a Petrobras.

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Conforme a empresa, a realização da AGE está sujeita ao prazo mínimo de 30 dias entre a convocação e a sua realização. Em resumo, a dança das cadeiras pode se arrastar por cerca de dois meses.

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Como todos os conselheiros precisarão ser reconduzidos, o governo deverá utilizar a ocasião para renovar e indicar nomes mais alinhados aos ministros da Economia, Paulo Guedes, e de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, como o de Iêda Cagni, atual presidente do conselho do BB (BBAS3), segundo o colunista de O Globo, Lauro Jardim.

Em nota, a Moody’s ressaltou hoje que a troca de CEO, a terceira neste ano, “relacionada com o aumento dos preços dos combustíveis”, por conta da valorização do preços no exterior, “é negativa para o crédito da companhia”, reforçando os riscos de interferência do governo em sua governança.

Política de preços da Petrobras

Em relatório, o Bradesco BBI escreveu, citando informações de O Globo, que Paes de Andrade não pretende mudar a política de preços da empresa. Isso porque poderia resultar em um efeito cascata, de desorganização da economia, em vez de ajudar a melhorar o cenário.

“Por enquanto, a política de preços da Petrobras parece inalterada. Teremos que observar os próximos passos do governo como a possível eleição de novos conselheiros para melhor sentir se há algum risco de mudança na política de preços”, acrescentou.

Segundo uma fonte que acompanhou o desenvolvimento a implementação da atual política de preços da Petrobras, o máximo que o governo conseguiria, sem ferir os princípios da Lei das Estatais e o que o estatuto exige, seria dilatar o intervalo entre os reajustes. Isso poderia trazer uma “calmaria” ao governo, ao menos até as eleições.

Conforme o BBI, essa alternativa de espaçamento poderia ter um impacto financeiro limitado para a empresa, mas traria riscos de fornecimento, opinando que quaisquer alterações estatutárias “seriam interpretadas negativamente pelo mercado”.

Conforme o Estado de S.Paulo, a gestão da empresa precisa chegar em 31 de dezembro de 2022 praticando a paridade do preço médio do petróleo e, para tirar essa regra, precisaria se alterar o estatuto, retirando a obrigação por parte do governo de indenizar a empresa pelos custos que tiver com essa política.

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