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SÃO PAULO – Ainda inédita no Brasil, a abertura de capital de clubes de futebol já é algo que existe há anos no exterior, com casos famosos como Manchester United, Borussia Dortmund, Arsenal e Roma. Mas todos estes times estão longe de fazerem parte das chamadas “blue chips” (empresas com grande peso na bolsa).
Um caso diferente é o da Juventus, da Itália, que recentemente passou a integrar o principal índice de ações do país, o FTSE MIB. Mas este ganho de importância escancarou um problema do mercado: como se precificar um clube de futebol?
Tudo começa pelo fato de que um time não é como uma empresa tradicional, principalmente porque lucro não é exatamente uma meta, mas sim ganhar títulos. E segundo explica o economista Cesar Grafietti, consultor do Itaú BBA, há uma enorme dificuldade também para o acionista, que precisa entender como é investir neste mercado.
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“Por mais profissional que seja uma administração, o objetivo de um clube de futebol sempre é vencer. Lucrar, remunerar acionista, é uma consequência”, explica o especialista em finanças de clubes de futebol. Neste cenário, é difícil esperar que o clube pague dividendos quando ele pode usar seu lucro para contratar atletas ou aumentar a remuneração de estrelas da equipe.
Apesar destas questões, Grafietti afirma que abrir o capital para um clube de futebol tem diversos aspectos positivos, como melhorar a governança, aumentar a profissionalização da gestão, melhorar controles e trazer mais dinheiro para o clube. “Mas é difícil enxergar como um negócio de retorno sobre capital investido”, pondera.
Todas estas questões tornam bastante complicada a análise como empresa na bolsa de um time. Tanto que, dentro do índice da bolsa de Milão, a Juventus aparece como a empresa com menor cobertura de analistas, sendo que apenas Alberto Francese, da Banca IMI, acompanha os papéis, segundo informações da Bloomberg. Em média, as ações do FTSE MIB possuem a cobertura de 19 analistas.
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O impacto de Cristiano Ronaldo
Com ações na Bolsa desde 2001, a Juventus não só tem uma longa história no mercado como possui um grande acionista de referência, que é a família Agnelli, dona do clube. Apesar de ser bem administrado e dominar o futebol italiano nos últimos anos, falta ganhar o grande título da Liga dos Campeões da Europa.
Foi neste cenário que a administração do time foi ousada e contratou Cristiano Ronaldo, jogador que ganha títulos por onde estiver. “É o que o clube precisa. Isso justifica a valorização nas ações”, afirma Grafietti. Desde que o anúncio da chegada de CR7 aconteceu, em 10 de julho de 2018, as ações da Juventus já subiram 40%.
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Mas uma contratação como essa também traz problemas. Segundo o consultor do Itaú BBA, a vinda do craque trouxe dois efeitos negativos: elevou os gastos com contratações, o que fez aumentar as dívidas e impactar as regras de Fair Play Financeiro da UEFA, e também aumentou os custos do clube.
Mesmo assim, há ganhos para o time, como uma receita maior em dias de jogos, um pouco de publicidade adicional, mas é importante lembrar que os valores de cotas de TV não mudam. Mas como citado acima, o foco do investidor não seria no clube ganhar mais, mas sim na vinda de um grande título nesta temporada.
“Ou seja, a tendência é ter piora no desempenho eco-financeiro e ainda assim as ações se valorizaram, porque o que move o futebol são títulos e não lucro”, explica Grafietti.
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E é aí que chega o risco das acusações de assédio sexual contra o jogador português. Em 5 de outubro, quando surgiu o primeiro caso de estupro, as ações da Juventus desabaram 5% em apenas um dia.
Grafietti afirma que se Cristiano Ronaldo tiver problemas com a justiça e for impedido de jogar, haverá um grande impacto nas ações. “Porque apesar de ter uma equipe de qualidade, a estratégia da conquista da Juventus está na aquisição e presença em campo de CR7. Sem ele o time ainda é forte, mas perde a estrela que tem ‘campeão’ escrito na testa”, diz.
Kathryn Mayorga denunciou o português por ter forçado sexo sem consentimento em um hotel, em 2009, na região de Las Vegas, nos Estados Unidos. Na última quinta-feira a polícia da cidade transmitiu às autoridades judiciais italianas uma solicitação de amostra de DNA do atacante da Juventus.
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É possível que o caso tenha desdobramentos em breve e isso pode ter impacto direto no desempenho do clube e, por consequência, das ações na Bolsa.
Para um clube de futebol, abrir o capital da bolsa pode trazer grandes vantagens e ajudar no desempenho financeiro e em sua administração. Por outro lado, o investimento neste negócio ainda não é tão claro para todos. A Juventus e toda a complexidade da vinda de CR7 e estas acusações contra ele tornam o case do time italiano algo ainda mais complexo e um grande exemplo para se ver a diferença de investir em uma empresa tradicional e em um time.
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