Agências de rating perderam impacto no mercado, mas não a credibilidade

Especialistas avaliam críticas pela postura conservadora dessas instituições e a importância de suas avaliações para a economia

Marcel Teixeira

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SÃO PAULO – O avanço de 5,97% do Ibovespa em 30 de abril de 2008, a queda nas bolsas internacionais em 8 de agosto de 2011 e o fechamento com sinais opostos nas principais bolsas do mundo em 12 de março deste ano. O que os diferentes comportamentos do mercado têm comum nessas datas? Todos eles refletem o comportamento do mercado após decisões importantes de agências de classificação de ratings.

O primeiro pregão deflagra o otimismo dos investidores locais após o Brasil ganhar investiment grade, enquanto o segundo mostra o pessimismo que dominou o mercado após a perda do triplo A dos EUA. Já a terceira aponta a indiferença, de certa forma, nas bolsas após a Grécia ter seu rating rebaixado para “default seletivo”, fato que suscitou dúvidas sobre se essas agências perderam credibilidade, ou se este era um fato já precificado pelo mercado.

“Acredito que seja um pouco das duas coisas”, avalia o mestre em Economia e Finanças, Abner Freitas. Para ele, o mercado ainda continua cético sobre a capacidade das agências de ratings, mas não nega seu papel fundamental para os investidores que buscam informações objetivas sobre a qualidade de crédito de uma empresa ou país.

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Menos impacto, mas ainda com credibilidade
As agências têm sido criticadas por se posicionarem posteriormente ao fato, como, por exemplo, no caso grego. Neste contexto, o analista da Geral Investimentos, Ivanor Torres, acredita que os últimos acontecimentos demonstram que essas instituições perderam um pouco do peso no mercado, o que não significa, contudo, que elas perderam a credibilidade.

“Casos como da Enron e do próprio Brasil, cuja demora para reavaliação do rating influenciou bastante no fluxo de investimentos para o país, acabaram desgastando-as nesse aspecto. Apesar disso, elas ainda têm muita importância grande na decisão de investidores”, disse Torres, fazendo menção ao caso da empresa norte-americana do setor de energia Enron, que foi protagonista de um dos maiores escândalos financeiros da história, manipulando balanços financeiros, com a colaboração de outras empresas e bancos, para esconder suas dívidas e aumentar os lucros artificialmente, fato que levou à sua falência em 2000.

CDS: outra opção além do rating
Neste caso, Freitas afirma que as avaliações de notas de crédito feitas por essas agências, apesar de importantes, não podem ser a única ferramenta do investidor para suas tomadas de decisões. “O rating externo pode capturar a deterioração da qualidade do crédito com defasagem de tempo justamente pelas posturas adotadas, que tendem a ser mais conservadoras e menos voláteis, sendo assim, estas poderiam ter maior transparência em suas metodologias e divulgações”, explica o mestre em Economia e Finanças.

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Outra ferramenta apontada é o CDS (Credit Default Swap), que oferece proteção ao risco de default de um determinado devedor. Quanto mais arriscado tende a ser este devedor, maior será seu CDS, o preço a ser pago pela compra da proteção contra esse risco.

Durante um dos momentos de maiores incertezas em relação à situação econômica grega, em outubro do ano passado, o CDS do país chegou a ultrapassar os 5 mil pontos básicos, com a crescente possibilidade de calote. Para se ter uma ideia, o CDS da Alemanha estava em 90 pontos básico no mesmo período, enquanto o da França chegou a 190 pontos.

Comportamento do mercado frente à crise europeia
O mercado mostra-se muitas vezes mais sensível com notícias negativas. Para Freitas, as possíveis explicações estão no desenquadramento em políticas de investimentos de fundos de pensão que obrigam a adquirir papéis com o mínimo de risco e o aumento do custo de empréstimos para empresas ou países que recebem downgrade.

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O fato do mercado ultimamente vir sendo exposto constantemente a uma série de cenários nebulosos, principalmente por conta da crise da dívida da Zona do Euro, também deixam os investidores de certa forma “anestesiados” às decisões dessas agências, segundo a psicanalista e representante no Brasil da Iarep (International Association for Research in Economic Psychology), Vera Rita Ferreira, autora do livro “A Cabeça do Investidor”.

crise do subprime vivida pelos EUA em 2008 também serviu como divisor de águas para o comportamento do mercado, afirma a pscinalista. “Desde então os investidores mantêm um pouco mais de cautela frente às decisões dessas agências. Entretanto, não siginifica que tenham aprendido a lição”, diz Vera

A psicanalista ainda avalia a conduta do mercado frente à situação europeia como algo já esperado. “As pessoas tendem a reagir de maneira mais forte quando há um contraste maior entre cenário econômico e essas decisões. Como o problema europeu não é novidade, seus reflexos acabam não tendo o mesmo tamanho”, conclui.

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