Alerta para a Ambev (ABEV3)? O que o resultado da Heineken do 1º tri mostra para a gigante de bebidas brasileira

Companhia tem conseguido enfrentar desafios de produção e distribuição durante a pandemia, segundo analistas; concorrência também tem fator Petrópolis

Lara Rizério

(shutterstock)
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A cervejeira holandesa Heineken divulgou seus resultados do primeiro trimestre de 2023 (1T23) na última quarta-feira (19) e trouxe algumas leituras para as ações da Ambev (ABEV3), sua rival no Brasil. Além disso, analistas observam como a recuperação judicial da Petrópolis pode ter impactado o cenário concorrencial no setor de bebidas.

A Heineken informou que sua receita líquida no país cresceu cerca de 20%, impulsionada por preços, premiumização e crescimento de volume. O volume de cerveja cresceu um dígito alto, o que está “à frente do mercado”. Seu portfólio de cervejas premium e convencionais cresceu em cerca de 10%, liderado pelas marcas Heineken e Amstel, enquanto o portfólio de cervejas econômicas caiu um dígito alto.

Na avaliação do BTG Pactual, este é um forte desempenho de vendas e indica que os volumes da Heineken superaram ou ficaram em linha com a Ambev pelo sexto trimestre consecutivo, depois de enfrentar desafios de produção e distribuição durante a pandemia.

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“O desempenho implícito de receita/hectolitro de mais de 15% também sugere que a Heineken continuou a entregar na frente de preço e mix à frente da Ambev”, avaliam os analistas.

Para eles, a Heineken conseguiu ganhar participação de forma consistente enquanto alavancava o impressionante valor de sua principal marca premium.

Os desempenhos de preço e volume superaram as expectativas frente a Ambev de crescimento de volume de 3% a/a e desempenho de receita/hectolitro de 12%. “Isso apoia as alegações da Heineken de que  eles resolveram seus problemas de produção desde o ano passado”.

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O banco compara os desempenhos da Ambev e da Heineken desde 2017 e diz ficar claro que o período de 2020 e 2021 foram
exceções, com a Heineken superando em todos os outros períodos.

A empresa também fez alguns comentários sobre o Brasil durante a teleconferência de resultados, ressaltados pelo BTG. A gestão está “muito satisfeita” com o desempenho no país, não só com a marca Heineken, mas também com a Amstel.

Eles também fizeram um comentário sobre “não se antecipar” em termos de preços, citando que capturaram muitos preços nos últimos trimestres e que precisam ser cautelosos para não deixar a concorrência ganhar espaço.

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Além disso, não acham que os volumes vão crescer tão rápido para sempre, e estão confortáveis se os volumes desacelerarem um pouco agora que os negócios no Brasil se tornaram relevantes e ganharam escala. “Para nós, isso sugere a percepção de que a indústria cresceu muito e a penetração da cerveja já é alta”, avalia o BTG.

“Reiteramos nossa visão não consensual de que a concorrência da Ambev ficará mais acirrada daqui para frente. A posição da Heineken, onde sua preferência de marca supera significativamente sua participação de mercado, sugere que ela tem mais espaço para crescer. Este é o principal risco para a capacidade da Ambev de entregar na frente de repasse de preço, que acreditamos ser o principal fator de surpresas de lucros acima do esperado agora que pensamos que o crescimento do volume irá desacelerar”, apontam os analistas.

Em última análise, a Ambev nos últimos anos optou por preservar a participação de mercado em vez das margens, e o banco acredita que a empresa continuará fazendo isso se a concorrência aumentar.

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O banco reitera recomendação neutra e aponta que, embora a Ambev esteja negociando com múltiplos mais palatáveis agora, não acha que seja barato. “O desconto para os pares é merecido, em nossa opinião, e ainda apresenta riscos
associados à futura reforma tributária no Brasil, bem como as implicações da macroeconomia argentina”, aponta.

O que esperar do 1T23 da Ambev?

Olhando estritamente para a Ambev, diversas casas de análise divulgaram as prévias do resultado da companhia sobre o primeiro trimestre, não vendo os números como um grande catalisador para a ação. A gigante de bebidas divulga seu balanço 4 de maio, antes da abertura do mercado.

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“Esperamos um trimestre sem mudanças significativas nas tendências atuais: o desempenho da receita deve permanecer sólido, impulsionado por um aumento positivo da receita líquida por hectolitro devido à premiumização, melhor mix e iniciativas de gerenciamento de receita”, avaliam os analistas da XP.

Apesar de um carnaval cheio, o clima foi menos favorável e, portanto, esperam um crescimento tímido de volumes, com uma base de comparação difícil quando comparado ao 1T22.

A pressão de custos deve ser maior na primeira metade do ano devido ao timing do hedge, com a projeção de queda na margem Ebitda (Ebitda, lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, sobre receita líquida) ajustada de 175 pontos-base em relação ao ano anterior.

Confira o calendário de resultados do 1º trimestre de 2023 da Bolsa brasileira

No entanto, o Ebitda ajustado deve continuar crescendo com base no sólido crescimento da receita, para o qual esperam em R$ 5,7 bilhões (+5% na base anual).

Piores resultados financeiros devido à inflação na Argentina e maior taxa Selic devem levar o lucro líquido para R$ 2,5 bilhões (-29% na base anual), segundo as estimativas da casa.

Para o Itaú BBA, a divisão Cerveja Brasil não deverá ter intercorrências, justamente por uma questão de concorrência. Isso porque os ganhos de participação (market share) sobre a Petrópolis (que entrou em recuperação judicial) devem compensar a dinâmica do clima desfavorável, ambos amplamente esperadas pelo mercado.

“É provável que a divisão América Latina Sul (LAS) continue lutando com o cenário macroeconômico desafiador, enquanto a América Central e Caribe (CAC) sustente melhora sequencial”, aponta.

A divisão Cerveja Brasil deve registrar crescimento de volume de 4% em base anual e receita por hectolitro (hl) acima de 13%, projetam os analistas, ajudados por uma combinação de ganhos contínuos de participação de mercado em relação à
Petrópolis e um ambiente favorável de preços.

No entanto, o segmento deverá registrar outro trimestre de margens (rentabilidade) comprimidas devido à elevada inflação de custos impulsionada por preços das commodities e aumento das despesas com vendas, gerais e administrativas (SG&A) associadas ao retorno por completo das festas

No segmento de não alcoólicos (NAB), os analistas esperam um crescimento de volume ainda sólido, apesar das duras comparações, com avanço de 6% em um ano e aumento de 15% na receita/hl. Por outro lado, a inflação de custos e despesas provavelmente continuarão a gerar ventos contrários no segmento. Os analistas estimam Ebitda de R$ 447 milhões (alta de 30% em base anual), com margem de 24,6% (ganho de 1,5 ponto percentual). A recomendação para o papel é neutra.

A Genial Investimentos, por sua vez,  também possui recomendação equivalente à neutra para a ação, tendo elevado a recomendação recentemente, com uma visão de que a companhia pode capturar uma parte, ainda que pequena, do market share da Cervejaria Petrópolis.

Os analistas da casa não esperam um trimestre forte em termos de margens, as quais devem seguir pressionadas, em especial nos segmentos internacionais. No entanto, acreditam que a receita deve apresentar um pequeno crescimento, impulsionada por melhores preços.

“A inflação global ainda elevada, o fraco desempenho esperado para as operações internacionais, em especial, para LAS (América Latina do Sul), e o baixo potencial de crescimento da companhia, nos mantém cautelosos com papéis da companhia. No entanto, ao longo do ano, acreditamos que os custos devem arrefecer, com as principais commodities utilizadas pela companhia em tendência de baixa, o que deve viabilizar uma melhora gradual de margens. Também esperamos uma recuperação dos volumes no CAC e no Canadá”, reforçam.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.