Alpargatas (ALPA4) acerta compra de fatia na Rothy’s e dá novo passo para internacionalização, mas ações fecham em queda

Analistas veem a transação como positiva, mas destacam pontos de cautela

Equipe InfoMoney

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A empresa de calçados Alpargatas (ALPA4) anunciou nesta segunda-feira acordo para compra de 49,9% da empresa norte-americana Rothy’s, que transforma material reciclado em produtos de moda, por até US$ 475 milhões.

A aquisição ocorrerá em etapas. Primeiro, haverá a aquisição primária de ações a serem emitidas pela Rothy’s no valor de US$ 200 milhões. Uma parcela de US$ 50 milhões será paga nesta segunda, enquanto o restante será quitado até o fim do primeiro trimestre de 2022.

Esse acerto foi firmado entre a Alpargatas, os fundadores da Rothy’s, a Lightspeed e outros acionistas.

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Depois, no primeiro semestre de 2022, haverá uma oferta de aquisição secundária de ações para os demais acionistas da Rothy’s, exceção aos fundadores e a Lightspeed. Com a oferta, a Alpargatas prevê alcançar 49,9% de participação no negócio. Caso não consiga, os fundadores e a Lightspeed se comprometeram a vender ações permitindo que a companhia alcance esse percentual.

Essa segunda parte da transação custará mais US$ 275 milhões.

“Ao final da operação, a Alpargatas terá direitos de um acionista minoritário relevante, incluindo, mas a tanto não se limitando, a indicação individual de quatro membros do conselho de administração da Rothy’s de um total de nove membros”, diz trecho do fato relevante.

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A Rothy’s foi avaliada em US$ 800 milhões no negócio. A companhia é uma marca de lifestyle, nativa digital e verticalmente integrada que vende sapatos e acessórios inovadores e ecológicos com um foco em atender direto o consumidor (DTC). A empresa possui hoje sete lojas nos Estados Unidos, embora o comércio eletrônico seja seu principal canal de vendas (mais de 95% da receita). A empresa conta com uma fábrica localizada na China, onde produzem seus produtos a partir de garrafas plásticas.

A Alpargatas disse que o acordo também envolve um direito de aquisição de ações para obter o controle da Rothy’s entre o primeiro e o quarto aniversário a partir desta segunda-feira.

A empresa brasileira pretende arcar com os recursos, exceto os 50 milhões a serem pagos na última segunda-feira, por meio de colocação privada ou distribuição pública de ações, com a estrutura ainda a ser definida. O bloco de controle atual deve acompanhar a oferta.

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A operação depende da aprovação de autoridades norte-americanas antitruste.

O Bradesco BBI avaliou como positiva a aquisição da Rothy’s pela companhia, mas destacou ser preciso cautela.

Os analistas apontam que a Rothy’s é uma marca com a qual não estão familiarizados, então não podem julgar agora o quão grande ela pode se tornar, mas positiva porque o negócio preenche muitas das lacunas estratégicas da companhia.

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Essas caixas estratégicas são um produto complementar (calçado fechado e plano versus o foco principal da Alpargatas em chinelos e sandálias abertas) e foco no canal (100% DTC – direto ao consumidor); um fortalecimento da posição da Alpargatas nos EUA, um país desafiador para as Havaianas, mas um mercado que ainda é o maior do mundo; e um produto diferenciado que atende ao tema crescente do consumo sustentável.

O banco diz que Alpargatas poderá contribuir com sua expertise em marketing, gestão de marca, canais B2B e mercados fora dos Estados Unidos, enquanto Rothy’s traz conhecimento e experiência do mercado dos Estados Unidos, um forte foco de sustentabilidade e mais de 200 patentes. Para os analistas do BBI, a aquisição abre potencialmente novas avenidas de crescimento complementares.

O banco mantém avaliação outperform (desempenho acima da média do mercado) para ações da Alpargatas, e preço-alvo de R$ 58, ou um potencial de alta de 50% em relação ao fechamento da véspera.

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A XP avalia que a Alpargatas está dando um grande passo em direção à internacionalização.

Os analistas da casa veem a transação como positiva dado que i) é o primeiro passo da Alpargatas para se tornar uma empresa global de marcas fortes; ii) adiciona uma marca complementar, focada em calçados fechados e com uma agenda ESG bastante forte; iii) fortalece a exposição a uma moeda forte (dólar), que veem como positivo dada a volatilidade macroeconômica do Brasil; e iv) tem potencial de crescimento, dado que ainda é uma marca relativamente pequena (US$ 140 milhões de receita líquida nos últimos 12 meses).

Contudo, veem três principais riscos relacionados à transação: i) execução, embora acreditem que isso esteja bem endereçado no curto prazo, dado que os fundadores da marca e principais executivos permanecerão à frente da operação; ii) escalabilidade da marca, já que a Rothy’s tem produtos de preços mais altos (começando em US$ 125/par) e parece ter um processo produtivo complexo, enquanto Havaianas possui um posicionamento de preços amplamente democrático e fabricação simples; e iii) cópias, visto que outras marcas, como Steve Madden, já estão replicando seus modelos a preços mais baixos (cerca de US$ 70). A XP mantém recomendação de compra para os ativos da Alpargatas.

Apesar dos pontos positivos, o anúncio não agradou os investidores, fazendo as ações caírem 11,22% na mínima do dia, fechando em queda de 4,37%, a R$ 37.

(com Reuters)

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