Balanço da Ambev (ABEV3) foi balde de água fria? Os fatores que pressionaram a ação e o que disseram os executivos

Receita e volume de vendas de cerveja no Brasil abaixo do esperado, além da performance positiva recente, levam à queda dos ativos

Felipe Moreira Vitor Azevedo

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A gigante de bebidas Ambev (ABEV3) divulgou seus resultados do quarto trimestre nesta manhã de quinta-feira (2) e seus números foram classificados como fracos pela maioria das casas de análise, o que levou a uma pressão para as ações na sessão. Os papéis ABEV3 fecharam com queda de 2,52%, a R$ 13,13.

A companhia teve lucro líquido de R$ 5,083 bilhões no quarto trimestre de 2022, alta de 35,7% em relação ao mesmo período de 2021. Já o lucro ajustado foi de R$ 5,299 bilhões no quarto trimestre, 36,4% superior na comparação anual.

O lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado foi de R$ 7,109 bilhões, alta de 4,8% no conceito “reportado” e de 27,4% no conceito “orgânico”. Já a receita líquida foi de R$ 22,7 bilhões entre outubro e dezembro, alta orgânica de 21,5% ante igual etapa do ano anterior.

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O Bradesco BBI ressalta que a companhia registrou receita líquida abaixo do esperado em todas as suas divisões (10% abaixo do consenso e 9% do esperado pelo BBI), principalmente no segmento da América Latina.

No entanto, a quebra das expectativas com a receita líquida foram compensadas por uma margem Ebitda (Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, sobre receita) maior, que chegou a 310 pontos-base acima do consenso. A margem foi significativamente maior do que o esperado na América Latina Sul, uma região que inclui a Argentina, e maior na América Central e no Caribe, mas abaixo do esperado em outras divisões. O Ebitda foi amplamente em linha com o consenso. Já o lucro líquido foi 30% acima do esperado pelo consenso dos analistas e 3% acima do estimado pelo BBI, explicado principalmente por benefícios fiscais de juros sobre capital próprio acima do esperado pelo consenso.

Embora o Ebitda consolidado tenha ficado amplamente em linha com o consenso e estimativa do BBI, os volumes de cerveja da Ambev no Brasil cresceram 4% na base anual, um pouco abaixo da expectativas do banco e do mercado, de 5%. Além disso, a gigante de bebidas também anunciou a projeção para 2023 de que o Custo por Produto Vendido (CPV) por hectolitro para a divisão de cerveja brasileira suba entre 6% e 9,9% (o que significa +8% no ponto médio) um pouco pior do que a expectativa da casa, de um crescimento de 5% a 10% (7,5% no ponto médio).

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Em teleconferência com analistas, os executivos da companhia defenderam, por outro lado, que um crescimento de 4% não é algo pouco relevante.

“No quarto trimestre, tivemos melhoria sequencial na participação de mercado. No ano inteiro, do modo geral. 4% é um bom volume”, explicou Jean Jereissati, diretor executivo (CEO) da Ambev. “Copa do Mundo impulsionou volumes em 1,5% no quarto trimestre, de acordo com o que projetamos. Por outro lado, o tempo mais chuvoso no quarto trimestre pode ter segurado o crescimento”.

Quanto à receita, e também às margens, Jereissati definiu que a companhia vem preferindo se posicionar estrategicamente do que repassar custos aos clientes e aumentando o preço dos seus produtos. “A decisão do preço é mais de olho no consumidor do que olhando para efeitos cíclicos ou de calendário sobre os custos”, disse.

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Analistas apontaram, uma vez que as ações da Ambev superaram o Ibovespa em 7 pontos percentuais no último mês, que os papéis, contudo, poderiam ser pressionados no pós-resultado (o que efetivamente ocorreu para o ativo da companhia).

O Credit Suisse, em relatório chamado “um balde de água fria”, também aponta que, apesar de entregar volumes recordes de cerveja brasileira no 4º trimestre em meio ao ambiente macro mais desafiador, ventos contrários ao clima e um bom (mas não ótimo) efeito da Copa do Mundo levaram os volumes de cerveja brasileira crescerem abaixo da estimativa já conservadora do banco.

Mas, mesmo com os persistentes ventos contrários nos custos de insumos e pressões inflacionárias em despesas gerais e administrativas, o Ebitda cresceu 11,2% na base anual, implicando em margem Ebitda de 28,7%, 130 pontos-base acima das projeções do banco suíço.

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No nível consolidado, segundo Credit Suisse, o desempenho mais fraco nas divisões internacionais compensou parcialmente o melhor desempenho no Brasil mais uma vez.

No final das contas, apesar das despesas financeiras abaixo do esperado, o crescimento lucro líquido para R$ 5 bilhões ficou acima do esperado, mas não animou, uma vez que foi notavelmente impulsionado pela menor alíquota efetiva devido a pagamentos de juros sobre capital próprio mais altos.

Com relação ao guidance, as perspectivas da administração para o ano fiscal de 2023 não trouxeram grandes surpresas, apontam os analistas do Credit. No geral, o desempenho mais fraco do segmento do que o esperado para cerveja brasileira e a fraqueza persistente no mercado internacional levaram o banco a também projetar uma reação negativa ao balanço.

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Durante a teleconferência, a Ambev definiu que o BeeS, a plataforma business to business da companhia, é uma das grandes apostas da empresa para 2023 e que é algo “transformacional para a empresa”.

“Será uma plataforma que nos tornará muito mais produtivos e eficientes. Irá alterar a representatividade das vendas”, explicou Jereissati. “Essa é a nossa nova mentalidade: força de vendas. Estamos trabalhando com isso em todas as geografias que estamos”.

Além da plataforma, a Ambev pretende também ganhar mercado em algumas regiões que atua como no Canadá e no Caribe e América Central (CAC).

O JPMorgan, por sua vez, classificou os resultados da Ambev como fracos, mas em linha as estimativas. O faturamento cresceu apenas 3% contra expectativa de 4% do banco, enquanto o Ebitda ficou 2% acima das suas projeções.

O Lucro Por ação de R$ 0,33 aumentou 40% na base anual e superou a previsão do banco em 52%. Do lado operacional, os volumes foram fracos em todas as regiões, especialmente considerando as composições fáceis no Brasil, enquanto os preços médios ficaram em linha. O banco mantém recomendação overweight (desempenho acima da média, equivalente à compra) para o papel.

Para a XP Investimentos, a Ambev relatou um trimestre positivo com o tão esperado, embora ainda tímido, e com foco nas margens, mesmo que isso sacrifique o crescimento de volume. Conforme declarado pela empresa, essa tendência deve continuar em 2023, favorecida por uma acomodação dos custos. As unidades internacionais, no entanto, continuam desapontando e os sinais de melhoria no curto prazo ainda são frágeis.

O Credit Suisse manteve recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para ações da Ambev, com preço-alvo de R$ 18, o que representa um potencial de valorização de 33,6% frente a cotação de fechamento da véspera de R$ 13,47.

O BBI vê as ações da Ambev negociando a 13 vezes Preço/Lucro, abaixo da média histórica de 21 vezes, apoiando assim sua classificação outperform e preço-alvo de R$ 21, ou upside de 56%.