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SÃO PAULO – Duas decisões – ainda que não definitivas – tomadas na véspera pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) jogaram um verdadeiro balde de água fria em algumas ações de elétricas na sessão da última terça-feira, com temores que prosseguem nesta sessão, além de levantarem algumas questões estruturais para o setor.
Equatorial (EQTL3) e Energisa (ENGI11) foram impactadas negativamente pela decisão da agência de não conceder reajuste tarifário extraordinário à empresa de distribuição Cepisa (da Equatorial) e às empresas de distribuição Ceron e Eletroacre (da Energisa). Ontem, os papéis EQTL3 caíram 4,95% e os ENGI11 tiveram queda de 3,72%.
Conforme ressalta o Itaú BBA, o noticiário específico para as duas empresas é negativo uma vez que levará pelo menos mais um ano para a realização do próximo reajuste tarifário extraordinário. “Em resumo, significa Ebitda abaixo do esperado para a Energisa e a Equatorial em 2020”. O Itaú BBA vê impacto de R$ 169 milhões e R$ 202 milhões no Ebitda de 2020 da Energisa e Equatorial , respectivamente.
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Já o Bradesco BBI aponta os motivos para o reajuste ter sido barrado pela Aneel: “é possível que algumas informações sobre o capex e ativos realmente estivessem faltando”.
Mas isso leva a um outro ponto, conforme aborda o Credit Suisse, de que as regras não estão claras, o que pode afetar a perspectiva de privatizações de outras companhias.
De acordo com os analistas do banco suíço, os leilões de privatização das três companhias num passado recente incluíram muitas variáveis que ajudaram a atrair participantes – e uma das mais importantes foi a possibilidade de solicitar uma revisão tarifária antecipada sobre a base de ativos regulatórios (RAB). A justificativa para a regra era que os investimentos não foram atualizados desde a última revisão tarifária em 2013. Segundo a Aneel, a Energisa e a Equatorial falharam em fornecer dados consistentes e, em alguns casos, os dados não estavam cumprindo os requisitos regulatórios mínimos.
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Como conseqüência, a Aneel decidiu negar seu pedido de revisão tarifária em 2019 e propôs que as empresas apresentassem um novo pedido até 2020.
Outro ponto de preocupação foi sobre a proposta da Aneel de estabelecer um custo médio ponderado de capital (WACC) regulatório das distribuidoras de 7,17%, abaixo do esperado pelo mercado, trazendo preocupação e representando mudanças importantes para a metodologia atual, mas que ainda não podem ser consideradas finais, de acordo com o Credit Suisse.
O WACC é uma importante métrica para definir reajustes tarifários futuros e deve refletir de forma adequada a combinação entre a proporção do capital próprio e de terceiros e o custo desses capitais. Desta forma, estabelecer um WACC abaixo do esperado acaba gerando perspectivas menos animadoras para as companhias quando houver revisões tarifárias.
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Assim, os investidores de ações de elétricas devem ficar de olho na audiência publica da agência, que deve acontecer em 2 de dezembro. O Credit Suisse avalia que os números devem ser revisados para cima, passando para um WACC com intervalo entre 7,5% e 8%.
Caso não seja revertida, a decisão deve elevar a volatilidade e aumentar a percepção de risco no setor, mas o cenário ainda não é “catastrófico”. “O novo WACC de 7,17% poderia trazer um impacto de 4% para o valor justo das empresas, um número que, de certa forma, já foi precificado”, apontam.
Além disso, pode desencadear um menor apetite para as privatizações previstas para 2020, apontam os analistas.
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Considerando todos os pontos, o Credit segue com preferência por Neoenergia (NEOE3), que não tem impacto de curto prazo do WACC e pelo atraso de privatização. Porém, eles apontam estar conscientes de que os riscos aumentaram.
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